Capítulo 1

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POV Elisa

Fecho a porta de meu pequeno apartamento sobre a edícula e desço para a casa de meus pais. Não queira sondar lá dentro, pois a bagunça é épica, preciso arrumar hoje sem falta. Já minha despensa está vazia, e terei que apelar. O bom de se morar perto deles, leia-se no mesmo terreno, é que sempre posso roubar uma café da manhã, ou um almoço, ou jantar, ou lanchinho da noite... O cheirinho dos bolinhos de chuva da minha mãe me guia até a cozinha, onde encontro todos já reunidos em volta da mesa.

- Bom dia, família! – cumprimento logo que entro, me jogando na minha cadeira e atacando as guloseimas de imediato.

- Bom dia, filha. Há quanto tempo não te vejo por aqui... – meu pai responde irônico, já que filei a janta ontem – 10 horas são uma eternidade sem você...

- Sei que não vive sem mim, "papis", então faço o que posso – rebato antes de levar a xícara de café com leite aos lábios, porém ele ainda vê meu sorrisinho debochado e ri junto.

- Mana, não sei por que quis tanto se mudar se continua frequentando a casa como se ainda morasse aqui – Carol comenta sem malícia, só curiosa mesmo. 

- Como não sabe? Você vivia reclamando da minha bagunça no nosso quarto, das minhas músicas altas, roupas jogadas; praticamente me expulsou – não foi este o real motivo, mas adoro alfinetá-la.

- Era só ser um pouco mais organizada, usar fones de ouvido, não precisava ir embora – faz em beicinho amuado, pois apesar de sua implicância, adorava jogar conversa fora até altas horas comigo e sente minha falta. Confesso que também ainda não me habituei a estar sozinha e penso com saudades no tempo em que dividíamos o quarto.

- Pode ir posar lá em casa, faremos uma festinha do pijama, com direito a filmes românticos, muita pipoca e chocolates. O que acha? - ela abre um lindo sorriso, já empolgada. É apenas 3 anos mais jovem que eu, com seus 17 anos, mas para mim sempre será minha irmãzinha caçula, para a qual não nego nada e faço todas as vontades, e também atormento, não vou negar, pois faz parte.

Quando decidi sair de casa, minha intenção era encontrar um sobrado pequeno no centro para morar em cima e montar meu salão de cabeleireira embaixo, contudo meus pais não aceitaram. Disseram ainda não estarem prontos para me ver deixando o ninho e vieram com a ideia de eu me mudar para os fundos a fim de cortar o cordão umbilical aos poucos. Pediram um ano de prazo e não consegui negar. Sim, eles são do tipo coruja e não posso reclamar, mesmo ansiando por ter um cantinho para chamar de meu. Há tantas pessoas loucas por uma família unida e a minha é verdadeiramente incrível.

Poderei juntar mais um pouco de dinheiro neste período também e abrirei meu negócio com um capital maior, sem contar que estarei acumulando experiência no meu atual trabalho. Estou lá desde meus 15 anos e apesar de minha pouca idade, aprendi muito, fiz diversos cursos e sou muito boa no que faço. Minha chefe, D. Júlia, sabe de minhas ambições e me encoraja; diz que há clientes para ambas e que eu devo correr atrás de meus projetos.

- Mamy, não irei almoçar nem jantar aqui, darei uma folguinha para a senhora hoje. Mas não acostuma, viu? Me quis por perto, agora vai ter que me engolir – brinco para vê-la revirar os olhos e sorrir, e dou um beijo barulhento em cada um antes de sair.

Pego um ônibus para o serviço no ponto na pracinha em frente casa. É apenas um trajeto de meia hora, mas que se torna longo quando, como hoje, tenho que driblar as investidas do Mourão. Ele é um cara da vizinhança que não perde uma oportunidade de me assediar. A maioria das garotas talvez se sentisse lisonjeada, pois ele é muito bonito, mas sua inspeção maliciosa do meu corpo sempre que me vê, me enoja e irrita.

Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)Onde histórias criam vida. Descubra agora