POV Elisa
Como posso ter baixado a guarda depois de meia dúzia de palavras açucaradas? Meu primeiro erro foi ter iniciado um conversa civilizada, abrir uma fresta no muro que o mantinha à distância. Por que não escutei minha razão que me alertava não ser uma boa ideia? Mesmo que não esteja mentindo sobre a praia e a modelo, isto não muda o fato que ele sempre será assediado e viverá cercado de mulheres. Vejo com elas o seguem com os olhos e tentam capturar sua atenção. Qual a probabilidade de um homem tão disputado se manter fiel a uma só mulher? Talvez num conto de fadas, mas aqui é a vida real...
Termino seu cabelo, sem fitar novamente seus olhos, apesar de os sentir sobre mim. Tão logo ele se afasta, peço uns minutos para um pequeno intervalo e corro para o banheiro. Ele parecia tão sincero, tão acessível quando contava sobre seus sonhos. Enxugo as lágrimas que insistem em cair, e o que dói é o sentimento de perda, a saudade do que apenas vislumbrei, mas que já se foi.
Volto para o trabalho, tentando retomar a animação que sentia antes de vê-lo, com pouco sucesso. Douglas não se aproxima novamente, e parte de mim se sente frustrada com isto. Será que desistiu? Era para eu estar feliz, aliviada, finalmente me livrei do Rapunzel, porém não é o que acontece.
A última modelo se levanta de minha cadeira. Alongo meu pescoço antes de começar a guardar o material, sonhando com um belo banho e minha cama. Estou exausta, porém realizada. Meu trabalho foi muito elogiado e recebi um convite para um próximo evento. No campo profissional, o dia foi um imenso sucesso, preciso focar nisto.
Pego minha bolsa e me dirijo para a saída, já acessando o meu aplicativo para pedir um Uber. Contudo, tenho meu caminho barrado por aquele que esperei não ter que ver de novo.
- Pode me dar licença? – pergunto com um tom que não admite recusa.
- Deixe-me te levar embora. Precisamos conversar – afasto os olhos de sua expressão aparentemente honesta para não me deixar enrolar. Desvio dele e chamo o elevador.
- Por favor, Elisa – ele insiste e me segue para dentro do compartimento – Me dê uma chance.
- Não sou do tipo que divide, então não percamos tempo – respondo seca e continuo mexendo no celular. Ele abre a boca para falar, porém seu aparelho toca e ele atende.
- Fala, Diana – Uma mulher. Por que não fico surpresa? - O que? Calma, Luís, não estou entendendo... – ele parece nervoso e deixo meu ceticismo de lado ao perceber que está pálido – Me passe para ele e não chore, já estou chegando, vai ficar tudo bem. Oi, sim, sou o irmão dele. Pode me dizer o que está acontecendo? – o elevador chega ao térreo e ele sai trôpego, enquanto ouve algo que o faz se escorar numa parede – Estou a caminho, por favor fique com eles por alguns minutos.
Ele desliga o aparelho, seus olhos estão vermelhos e tem as mãos trêmulas, olhando para os lados sem nada ver. Me aproximo, assustada com a notícia devastadora que recebeu e que o deixou tão abalado. Antes que eu fale qualquer coisa, ele se afasta, andando rápido em direção ao estacionamento, porém escuto-o repetir baixinho:
- O que vou fazer? O que vou fazer, meu Deus? – o alcanço, pego em seu braço e puxo seu olhar para o meu.
- Douglas, qual o problema? – há tanta dor e desespero que me comovo, é como ver uma grande árvore tombando após um raio a atingir.
- Minha irmã, Diana, foi atropelada em frente à sorveteria, quando estava chegando com nossos irmãozinhos Ela foi levada para o hospital, parece grave, o moço no telefone não sabia dizer direito, mas falou que os socorristas estavam trabalhando rápidos e tensos – ele despeja tudo, repetindo o que ouviu, talvez tentando entender, buscando uma solução - Os pequenos estão com um dos funcionários do estabelecimento. Preciso ver como Diana está, levar seus documentos, e tem meus irmãos, não tenho com quem deixá-los. Minha mãe... ela... ela não está em condições e nossa vizinha que nos ajuda escolheu justo este final de semana para visitar a filha em outra cidade – Passa as mãos pelo rosto, seu ar desnorteado é angustiante, tanto por fazer, e não saber por onde começar.
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Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)
RomanceElisa, uma garota de muita personalidade, e com um propósito certo: não se envolver com rapazes lindos, disputados e fúteis. Já assistiu de camarote como é fácil cederem à tentação e não está disposta a ser enganada e humilhada por algum idiota com...