Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)

Capítulo 2

POV Douglas

Ela nem se dá ao trabalho de falar algo, só me entrega o dinheiro e dá as costas, deixando-me parado feito idiota no meio do salão. Porém não são precisas palavras para saber que ficou furiosa e que escapei por pouco de apanhar. Juro que vi chispas saindo de seus lindos olhos escuros e posso afirmar que isto a deixou ainda mais atraente e interessante. Devem pensar que sou doido, algum tipo de masoquista, mas a verdade é que estou tão cansado de mulheres se jogando em meus braços, que é refrescante encontrar uma que aparentemente não se deixa afetar por meu físico.

Notei seu quase desprezo por todo o alvoroço com minha presença, sua contrariedade em me atender, o modo como desafiava meu olhar. Há algo nela que me intriga, um fogo ardendo em seu interior, uma força poderosa que me atrai. Acabei que a conhecer, se é que posso dizer isto, mas já sei que ela é diferente de todas as pessoas que passaram por minha vida. Sua rejeição só me instiga a querer me aproximar mais.

Devia ter puxado algum assunto enquanto cortava meu cabelo, porém não consegui criar coragem. Meio ridículo, eu sei, um homem de 23 anos agindo como um adolescente diante de uma menina pela primeira vez. Contudo, talvez não seja tão estranho, uma vez que não houve nunca alguma garota que me abalasse de tal forma, num único olhar. Não sou nenhum santo, já me envolvi com inúmeras mulheres, e sempre partiu delas a iniciativa, não precisei me esforçar em nenhuma vez. Eu aceitava o que me ofereciam de bom grado, sem promessas ou exigências, sem peso na consciência e sem recordações. Apenas um pouco de diversão e distração, esta é a verdade. Meio cretino talvez, mas é a vida... Nunca enganei ninguém, isto posso afirmar.

Enquanto ela cuidava de meus cabelos, sentia o toque delicado e confiante de suas mãos e fiquei entregue a estas sensações novas e inebriantes, sem deixar de a observar. Vi fascinado as mudanças em sua expressão, a escuridão revolta de seus olhos castanhos, que mudavam de tom conforme a luz refletia. Parecia travar uma luta interna, e daria tudo para saber o que se passava em sua mente, para entender como funciona esta garota que tanto me impressionou.

Elisa, foi por este nome que a proprietária a chamou. Preciso dar um jeito de arrumar uma desculpa para retornar logo ao salão. Tenho a convicção que minhas estruturas abaladas é um caso irreversível. Devia estar assustado, e para ser sincero, estou, porém a necessidade de voltar a vê-la e entender o que se passa comigo é maior que qualquer medo. Acho que não tenho muita escolha, não adianta lutar contra.

Chego em casa, e antes mesmo de abrir a porta, já escuto as risadas e gritos animados de meus irmãos pequenos. Laís e Luís são gêmeos, têm 8 anos e muita energia. Diana, minha irmã de 17 anos, ralha com eles, pedindo que não corram pela cozinha que está molhada, mas é claro que não escutam. Entro a tempo de pegar o menino antes que se esborrache no chão, após escorregar.

- Bonito, hein Luís? Te deixo para cuidar das meninas e te pego no flagra aprontando – faço uma voz grossa e tento não rir de seu ar falsamente arrependido.

- Eu estava cuidando sim! Caí para salvar a Laís, não é, irmãzinha? – pergunta piscando o olho para ela, tentando ser discreto, mas contorcendo o rosto todo. Não seguro o riso e até Diana se derrete por este pequeno malandrinho.

- Vou fazer de conta que acredito, caro herói. Agora vão brincar no quintal e deixem nossa irmã terminar a limpeza – eles saem correndo sem perder tempo, numa alegria simples e contagiante, fazendo mais leve o peso que carrego há muito em meu peito.

- Não disse que iria cortar o cabelo? Que estava cansado dele comprido? - Diana questiona.

- Jura que não notou a diferença? Partiu meu coração! – Brinco, ficando sério em seguida para explicar o que aconteceu – A agência não permitiu uma grande mudança, apenas acertar o corte. Segundo eles, esta é minha marca registrada. Tem até uma cláusula sobre isto no meu contrato com a marca de roupas que represento.