Capítulo 18

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POV Douglas

Não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei aquela cláusula de permanecer sem contato externo durante as gravações. Vou enlouquecer sem meus irmãos e Elisa. Só estou aqui ainda porque depois de muito protesto dos participantes, finalmente os organizadores autorizaram gravarmos um vídeo para envio às nossas famílias, assim como o recebimento de cartas. Entendo que tiveram problemas com vazamento de informações na primeira edição do TopChef, entretanto manter-nos confinados é um abuso.

Só teremos permissão para ir embora após todos os episódios estarem prontos. Eles têm a ideia que se todos formos liberados juntos, ficará mais difícil da impressa saber quem já foi eliminado e quem ainda permanece. Sei lá se isto tem algum fundamento, ainda acho ridículo.

Hoje já faz 4 semanas que estou aqui e apesar de estar fazendo o que amo, aprendendo muito, me superando a cada prova, crescendo na competição, a saudade dói absurdamente. Tento me ocupar ao máximo, aproveitando cada curso oferecido nos horários em que não estamos gravando, estudando até o sono me vencer, mas é só deitar a cabeça no travesseiro para a insônia se instalar, junto com as imagens daqueles que amo e que estão distantes.

Não é o fim do mundo, sei que pareço exagerado, porém a cada carta que recebo, a falta que sinto deles se mostra mais forte e opressora. Quero vê-los, tocá-los, ouvi-los. Nunca fiquei tanto tempo sem meus pequenos, não consigo não me preocupar, não posso ter certeza se o que escrevem é o que realmente está acontecendo, ou se me escondem as notícias perturbadoras para não me abalarem. E Elisa, o que dizer dela? Se sinto que estou sem uma parte vital minha, se o riso dela é meu oxigênio e afogo-me apenas com as lembranças...

- E aí, Douglas? Que cara é esta? – Tomás, um dos meus adversários e também novo amigo, pergunta ao se sentar ao meu lado.

- Saudades... – digo com um suspiro – Recebeu alguma correspondência hoje?

- Não, nem uma palavra... Eles nunca me perdoarão pelo divórcio... – Bato de leve em suas costas, tentando consolá-lo.

Faz 3 anos que seus filhos não aceitam conversar, e ele se corrói de pesar e tristeza. Carrega consigo uma foto, que sempre beija antes de entrarmos no estúdio. E mesmo que não tenha esperanças, sei que ainda ama a ex esposa e a quer de volta. Quero vencer, mas me pego torcendo por ele, na esperança que seus meninos estejam na plateia no dia da final, dando força e perdão para o pai.

- Não te parabenizei antes, mas você esteve ótimo ontem. Aquele cordeiro picante que fez tinha uma aparência incrível e o sabor devia ser também, já que recebeu tantos elogios – ele me diz sorrindo.

- E você? Com o pato ao molho de tucupi que preparou? Fiquei morto de vontade de experimentar – é bom ver seu contentamento e que sua dor se distancia um pouco.

- Será que iremos mesmo nos encontrar na final, meu amigo?

- Espero que sim, perderei feliz se for para você. É um grande cozinheiro, merece o prêmio – digo com sinceridade.

- Você é a grande estrela aqui, Douglas. Tem um dom maravilhoso, o verdadeiro Deus do Fogão como dizem – rimos juntos deste apelido bobo que Pedro Mendes me deu e que pegou.

- Passaram ótimos candidatos por aqui, foi triste ver pessoas talentosas serem dispensadas por erros bobos, causados pelo nervosismo. Não basta cozinhar bem, é necessário controlar o emocional. É a parte mais difícil em minha opinião.

- Concordo. Deixar as expectativas, inseguranças, preocupações e focar só na cozinha exige muito. Só é possível com muito autocontrole ou frieza, acho que esta última é uma das explicações para a Melissa ainda estar aqui. Aquela garota é calculista e meticulosa, e sabe jogar.

Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)Onde histórias criam vida. Descubra agora