Capítulo 11

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POV Elisa

Eu e minha boca grande... Por que fui reclamar da abusada? Agora não consigo olhar na cara dele sem lembrar-me daquelas palavras sussurradas e das imagens que minha mente traiçoeira criou. Douglas D'Ávilla é perigoso, não restam dúvidas.

Evito encará-lo no trajeto de volta para sua casa, dando minha total atenção às crianças. Desço rápido e encaminho os pequenos para o banho, passando depois no quarto da D. Sueli para visitá-la. Ela dorme tranquila, o cabelo em uma trança torta, engraçada, com lacinhos coloridos, e percebo na hora ser obra da Laís. Me enternece constatar que a determinação que vi em seu olhar no dia em que conversamos está rendendo frutos.

A porta se abre e é Douglas acompanhado pela enfermeira. Retiro-me para que ela realize seu trabalho e ele me segue. No corredor, impede minha fuga segurando meu braço de leve e trazendo meu olhar para o seu.

- Me ajuda com o jantar? – pergunta simplesmente, sem qualquer vestígio do cara sedutor de mais cedo.

- Preciso ir embora, já está tarde.

- As meninas estão assistindo a um filme, pelo que entendi ainda está no início, e elas estão muito entretidas. É tão bom ver minha irmã agindo como uma garota normal... Fique mais um pouco – pede e como posso dizer não?

- Tudo bem. Vamos lá – descemos para a cozinha, e coloco a água para esquentar para fazer macarrão, como ele me pede.

- Você gosta de cozinhar? – Ele pergunta enquanto prepara um molho muito perfumado e apetitoso.

- Gosto, mas quase não pratico. Eu tinha todo um sonho dourado, me imaginando em meu apartamento, com uma taça de vinho e o vapor das panelas, preparando receitas deliciosas apenas para mim. Porém, na realidade, cozinhar para uma só pessoa é sem graça, então filo a boia na casa da minha mãe mesmo.

- Ela não reclama? – questiona interessado.

- Faz todo um teatro dizendo que eu abuso de sua boa vontade, mas a verdade é que eles insistiram que eu morasse nos fundos, gostam de me ter sob suas asas.

- Deve ser ótimo ser cuidada assim – noto sinceridade mesclada com melancolia.

- Há quanto tempo sua mãe está assim? – ele respira fundo, soltando o ar devagar, antes de responder.

- Começou pouco antes de descobrir a gravidez dos gêmeos, quando foi abandonada pelo marido e perdeu o emprego. Só piorou com o tempo – Conta então sua história, e vejo toda a dor que traz escondida. Minha vontade é acolhê-lo em meus braços e ampará-lo, tirar um pouco deste peso que carrega – Quero levá-la a outro médico, não me conformo em vê-la vegetar assim.

- Vale a pena tentar, talvez outro tratamento dê um melhor resultado – comento.

- Há pouco menos de 2 anos, por insistência minha, o doutor trocou os remédios, porém o efeito foi catastrófico. Ela surtou, ficou agressiva e chegou a atentar contra a própria vida. Permaneceu internada por semanas, e voltaram com os comprimidos anteriores, mas numa dose ainda maior. A morte de minha avó era recente, não tive cabeça para procurar uma segunda opinião, confiei que era o melhor. Já não tenho tanta certeza.

– Vou te passar o telefone do médico que atendeu a minha prima Alice, ele fez um excelente trabalho em conjunto com uma psicoterapeuta, não ficou só nos remédios.

- Acho que seria o ideal, mesmo que tenha um fator físico, foi o emocional que desencadeou tudo isto – completa.

- O pai dos pequenos nunca apareceu? – pergunto escorrendo a massa.

Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)Onde histórias criam vida. Descubra agora