Capítulo 19

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POV Elisa

Respiro fundo, soltando o ar lentamente, preciso me acalmar. Se eu pego aquela Miss Cupcake, faço uma decoração incrível naquele cabelo dela. Como ela ousa assediar o meu namorado?

Os sites de fofoca estão repletos de imagens e boatos sobre um possível romance entre ela e Douglas. Fotos dela segurando seu braço, encostada em seu ombro, tocando sua face. No programa desta semana, a oferecida até pulou em seu colo para comemorar sua aprovação. Você deve estar se perguntando por que ainda não falei de matar ele também. Tenho duas razões.

Primeira, porque percebi seu desconforto. Analisei atentamente suas reações e notei que não estava correspondendo. Não sou daquelas mocinhas bobas de livro que acreditam em qualquer armação (Alice, minha prima inocente, que me perdoe pelo comentário).

Segunda, no seu vídeo de ontem, apesar de não falar nada de forma clara, me enviou uma mensagem.

"Estava aqui lembrando-me do primeiro filme que assistimos juntos, daquele barco se afastando na neblina, apenas com a silhueta do protagonista sendo visível. E em como a garota se sentiu, parada na praia e como seria diferente se houvesse mais luz." *referência a Enrolados, quando o protagonista desacordado é preso no leme do barco pelos vilões, fazendo com que Rapunzel acredite estar sendo abandonada.

Para bom entendedor, meia palavra basta. No caso, uma cena já diz tudo. Sei que ele estava falando sobre manipulação da verdade e enganação. Ainda não sei os detalhes, porque está falando em código, mas estes dois fatos são o bastante para que eu creia nele.

No entanto, meu orgulho está sendo testado. Saber que a maioria das pessoas está acreditando nas mentiras, passar pela namorada trouxa, não é fácil. Estou tentando achar algo positivo para tirar disto tudo, e me consolo em pensar que é uma oportunidade de aprender auto controle, paciência e humildade. Quem disse que ir para o céu é fácil?

Desligo a TV, cansei de me torturar. Não irei ficar mais assistindo estes programas de fofoca. Troco-me, pois logo estará no horário da terapia da D. Sueli e fiquei de acompanhá-la, já que é minha folga. Sua melhora é incrível, a cada dia mais viva. Terminamos o processo de diminuição do remédio, restando apenas um comprimido diário. Ela já conversa e se comporta quase normalmente, sorri com mais frequência, interage com os filhos, assumindo aos poucos seu lugar de mãe e dona de casa. Um verdadeiro milagre. Tem seus momentos de angústia ainda, nos quais se fecha e parece ter regredido, porém são esparsos. Douglas terá uma grande surpresa quando retornar.

- Bom dia, sogrinha. Está pronta?

- Sim, querida. Quer tomar café com bolo antes de sairmos? Eu que preparei – aceito, pois sei como ela fica feliz com cada pequena vitória. Quem imaginaria, há poucos meses, vê-la na cozinha, ocupada com o fogão?

- Está uma delícia! Pode me passar a receita? – ela sorri emocionada pelo elogio.

- É só um bolinho simples... – diz acanhada, porém com um brilho feliz nos olhos.

- Estou muito orgulhosa da senhora, parece outra pessoa. Engordou, está com uma aparência mais saudável, alegre.

- Me sinto uma nova Sueli também. Perdi tantos anos, entregue à depressão, dopada por remédios. Por um lado, não me perdoo. Por outro, decidi que não ficarei remoendo o que passou, mas tentarei ser melhor daqui por diante – há uma força nela, um desejo de lutar e vencer que é lindo de assistir.

- É isto aí. Bola pra frente, que atrás vem gente – ela gargalha do meu ditado e o som traz um calor de esperança em meu coração. Esta família merece e precisa desta alegria e deste recomeço.

Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)Onde histórias criam vida. Descubra agora