Capítulo 14

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POV Douglas

Sabe quando o tempo custa a passar e também parece que voou? Foi assim esta semana, talvez a mais marcante da minha vida.

Domingo, tive meu primeiro beijo de amor, é isto mesmo que ouviu (ou leu). Nada antes se comparou com o que senti, foi tão repleto de significado, algo até difícil de descrever. Horas depois, pedi minha Elisa em namoro. Estes dois fatos por si só já fazem desta data inesquecível.

Segunda-feira, minha garota me revelou que fui selecionado para as eliminatórias do TopChef, que apesar de não ser aquela franquia famosa de programas culinários competitivos, também tem bastante visibilidade e reputação. Foram dias me preparando, sonhando. Não irei decepcionar aqueles que confiaram em mim, darei meu melhor. Pode não ser suficiente, afinal há muitas pessoas talentosas, contudo não será por falta de esforço e dedicação.

Terça, levei minha mãe ao médico e a minha frágil esperança ganhou força e razão de ser. Ele acredita que ela possa melhorar. Que talvez o tratamento aplicado até agora não seja o ideal e que outra opção alcance resultados positivos. Minha emoção foi tanta que poderia flutuar por aí. Pensar que meus irmãozinhos terão uma mãe de verdade, que Diana não precisará mais ser uma adulta, que terei aquele abraço perfumado e carinhoso de volta, e seu riso cristalino invadirá nossa casa... Bem, não preciso dizer mais nada, já estou chorando de novo.

Os dois dias seguintes foram repletos de idas a laboratórios, exames e mais exames. Corridas ao supermercado e lojas por mais ingredientes, novas opções de temperos, louça ideal para empratar. Quando em casa, testes infindáveis na cozinha, buscando o sabor perfeito, a proporção certa, a montagem mais bela e atrativa.

Agora estou aqui no consultório mais uma vez, aguardando minha mãe ser chamada. Já iniciei a diminuição gradativa dos remédios, porém não notei diferença alguma. Sei que é um processo lento, difícil é conter a ansiedade.

- Sra. Sueli, pode entrar – a secretária diz e aponta o caminho.

- Vamos, mamãe, por aqui – levo-a e entramos na mesma sala do outro dia, espaçosa, bem decorada, onde um homem de meia idade com um sorriso simpático nos aguarda.

- Boa tarde, meu rapaz. Sentem-se – acomodo minha mãe na cadeira ao lado, ela tem o mesmo olhar opaco de sempre.

- Trouxe os exames, como pediu – minhas mãos estão trêmulas ao estender os envelopes e aguardo num silêncio angustiante enquanto ele os analisa.

- Como imaginei, Douglas, há algumas alterações pela falta de alimentação adequada, de atividade física e luz solar, mas nada que indique uma necessidade de uma carga tão grande daquele remédio.

- E quanto àquele episódio que relatei, quando ficou agressiva, desvairada e tentou suicídio? – pergunto, pois morro de medo de acontecer de novo.

- Acredito que foi a alteração abrupta no tipo do medicamento que desencadeou tudo, ou talvez um efeito colateral. Algumas pessoas reagem a certos componentes com graves crises de pânico, alucinações. É preciso estar atento e adequar a dose ou escolher outra opção.

- Acha que houve erro médico? – será possível? Não consigo nem imaginar como me sentirei se ele confirmar.

- Douglas, não há como afirmar nada. É uma possibilidade, porém pode muito bem ser uma reação dela à fórmula, como eu disse. Não creio que deva enveredar por este caminho. Vamos focar no que fazer daqui por diante e cuidar da Sra. Sueli – ele tem razão, águas passadas não movem moinho, não tenho também condições agora para procurar culpados e remoer o passado. Além disto, o médico que a tratava é muito conceituado e elogiado, nunca ouvi nada que o desabonasse.

Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)Onde histórias criam vida. Descubra agora