Capítulo 8

506 87 35
                                    

POV Douglas

D. Olga chega pela manhã, nesta terça-feira, e fica desolada ao saber de tudo que aconteceu enquanto esteve fora. Como sempre, se oferece para ajudar e aceito, deixando as crianças com ela, pois preciso ir ao hospital. Os pequenos a adoram, mas já perguntaram mil vezes quando Elisa volta.

Encontro Diana desperta, ainda parece fraca, porém me recebe com um sorriso meigo em seu rosto abatido.

- Então é a senhorita que atropelou um carro e fugiu sem prestar socorro? – pergunto me aproximando para lhe dar um beijo na testa.

- Na verdade, foi uma manada de elefantes que passou sobre mim – ela rebate e logo começa a enxurrada de perguntas – E os pequenos? Como estão? Ficaram muito assustados? Quem cuidou deles quando a ambulância me trouxe? – interrompo antes que continue me atordoando.

- Calma, eles estão bem, melhor do que o esperado pelo que tiveram que passar. Hoje estão com D. Olga, mas no dia uma amiga minha ficou com eles para que eu conseguisse vir aqui – antes que eu prossiga, ela me corta.

- Amiga? – coloca as mãos na cintura, o que é um grande feito já que um dos braços está imobilizado, e me olha brava - Pediu para uma daquelas modelos magrelas e desmioladas para cuidar dos meus irmãozinhos?

- Ei, vai deixar eu terminar de contar ou ficará me interrompendo? – reclamo e ela faz sinal para que continue – Foi a Elisa... – um sorriso cínico surge em seu rosto, afinal é minha confidente e sabe tudo de mim.

- Aquela Elisa? Que te deixa mudo de amor? Como conseguiu coragem para pedir ajuda? – pergunta claramente se divertindo em notar meu embaraço.

- Na verdade, ela que se ofereceu, não me dando muita alternativa, e eu não sei o que faria se não fosse ela. Luís e Laís a adoraram, até dormiram abraçados a ela naquela noite e ontem tive que ligar para ela e deixar que eles conversassem, pois estavam com saudades. Sabe aquela garota fria e orgulhosa que eu descrevi? Desapareceu e no lugar há uma alegre, comunicativa, e ótima com crianças. Até a mamãe gostou dela!

- Vocês estão juntos então? – questiona curiosa e desanimo na hora.

- Não, ela ainda é linha dura comigo, apesar de mais acessível que antes. Mas não vou desistir, descobrir estas suas novas faces só aumentou ainda mais o fascínio que sinto.

- Estou na torcida por você, merece encontrar alguém que te faça feliz – estende sua mão e pega a minha.

- Ela é especial, sabe? Nunca sei bem o que esperar dela, sempre me surpreendendo, me atraindo cada vez mais – comento com os olhos perdidos nas lembranças de seus sorrisos, de sua altivez, sua doçura, sua frieza. Tantas em uma só.

Minha irmã enche-me de orientações, sobre a casa, os irmãos, nossa mãe. Tranquilizo-a, tenho tudo sob controle. Informo-a que não trabalharei esta semana e que combinei com a senhora que faxina quinzenalmente para vir toda semana neste mês, além da enfermeira para os banhos da mamãe. Despeço-me prometendo voltar em breve e lhe trazer alguns livros para passar o tempo.

Converso com o médico e ele avisa que Diana precisará de mais alguns dias internada, as costelas necessitam de repouso para se curarem e também perdeu muito sangue antes que a hemorragia fosse estacada. Consigo autorização para trazer os gêmeos para uma visita rápida amanhã, quando ela sairá da UTI para um quarto normal.

O tempo passa entre brincadeiras e afazeres domésticos, e o tempo todo, a imagem da Elisa me acompanha. Ela esteve aqui por apenas um dia, mas deixou marcas em cada cômodo. As fotos em meu celular garantem que não foi um sonho e me pego olhando-as várias vezes por dia. Há uma só dela, rindo dentro da toca improvisada, cercada de bichinhos de pelúcia e travesseiros, tão despojada e natural, que me encanta. Os olhos vivos e brilhantes, os cabelos em desalinho, a alegria contagiante, tão linda que me arrebata. Como consegue ser simples e complexa ao mesmo tempo?

Desvende-me - Livro 2 (O Rapunzel)Onde histórias criam vida. Descubra agora