Navegando em águas turvas

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— Por que está aqui a essa hora?

A voz de Suho chegou a mim e eu apontei para a vastidão da ilha baixo de nós e mais além, para o oceano infinito que nos cercava. Estávamos no mais alto ponto do palácio, um balcão que dava para os penhascos abaixo. Eu só ia lá quando precisava pensar e definitivamente eu precisava pensar. Sorri quando ele se postou ao meu lado. Ambos assistimos em silêncio o sol nascer, sol aquele que que iluminava calmo e lento toda a ilha abaixo.

— Eu o vi andar sobre sete riachos,

sobre as águas largas e cinza,

Eu o vi caminhar em terras vazias

até que ele faleceu

Nas sombras do Norte,

Vi-o, em seguida, não mais.

Recitei séria antes de sentir os braços do alfa ao meu redor. Ele suspirou continuando a olhar para a mesma direção que eu observava.

— Nada disso acontecerá, Minseok é o melhor de nós, ele irá para o norte, para o reino dos encantados e então voltará, seguro, para seus braços.

Eu neguei. Eu sabia bem o que sentia, sempre temi por aquele dia, mas nunca poderia dizer a ele que não fosse, meus medos eram menores do que as tarefas dos meus maridos e todas as confusões e desavenças se tornavam pó, diante do mais importante, meu amor por todo e cada um deles... E Min, eu tinha aquele sonho constante de que se ele partisse para o norte, ele jamais voltaria. E se eu perdesse em deles, perderia a mim mesma. Me mostrava forte e tranquila, mas não era nada daquilo, sozinha, ao nascer do sol, os meus medos, antes que eu fosse dormir, eram os mesmos. Ergui minha mão direita e deixe que os raios solares tocassem minha pele em silêncio profundo.

Havíamos nos despedido uma hora antes, quando ele entrou no veleiro e se foi pelo mar tranquilo, como as águas doces antes da tempestade. E enquanto o via desaparecer no nevoeiro da manhã, vi também um pedaço de mim partir em lamento. Eu brincava de oráculo por todos aqueles anos, mas o que ninguém sabia era que sonhava com a morte de cada um deles... Com o doloroso lamento silencioso que eu me encontraria em cada momento, como uma viúva aprisionada entre a espera de parte de sua alma levada para longe... E apenas Suho sabia de fragmentos, já que ele podia sentir em mim o efeito dos meus pesadelos matutinos.

— Nenhum de você voltariam seguros do Norte, pois o norte...

Suspirei e recitei os avisos dos meus pesadelos.

Que notícia do Norte, O vento forte,

Você traz para mim hoje?

Quais são as notícias do meu coração desfragmentando?

Para ele é longa distância. E não há retorno...

— Pare Meandra! Droga, não faça isso!

Eu finalmente me virei para Suho, olhando-o muito seriamente.

— A partir dos muros altos para o norte eu olhei longe,

Mas você não veio das terras vazias onde nenhum homem sem magia regressa...

Você simplesmente vai, sem retorno...

Suho, não veremos mais Minseok, aceite como eu aceito, e estou falando muito séria. Pode não acreditar em mim agora, como pode me pedir para não dizer o que sinto, mas dentro de mim carrego a filha pura do seu primo, cem por cento seu sangue, sua imagem e semelhança, a única lembrança viva que terei do meu marido forte e guerreiro. Eu poderia ter pedido que não fosse? Eu poderia, mas o destino, esse violento oponente que me persegue, teria levado Minseok de mim de qualquer forma.

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