Lei

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Lei significa ela!

                                                                                                                                            Por Antonella,

— Tenha um excelente dia, senhora Meneghetti. Vou acompanha-la até a saída. — disse, colocando minha prancheta sobre o divã, e então acompanho a minha segunda paciente do dia até a saída.

Sou uma psicóloga e agora tenho minha própria clínica, onde atendo todos os tipos de pacientes que querem entender com a visão de outra pessoa o que se passa na vida delas e em qual direção elas estão indo.

— Hoje ela demorou. — Isabelle, minha secretária, comenta enquanto me entrega a pasta do próximo paciente. — E por falar em pacientes problemáticos... Ele é o próximo.

Ele.

— Preciso de paciência. — olho o relógio de pulso e ainda são dez e oito da manhã. — Obrigada, Isabelle. —
me despeço, pegando um copo de expresso Macchiato e retorno a sala para aproveitar os minutos livre.

Lucca Bertolazzi é um dos meus pacientes mais problemáticos. Hoje será nossa terceira sessão e a única coisa que consegui em duas semanas — e nem precisei da psicologia para descobrir — é que, ele é um homem extremamente rude, impaciente e calado.

Volto a olhar o relógio e vejo que quatro minutos já se foram. Ociosa eu começo a alisar uma mecha do meu cabelo, enrolo, estico e por fim dou voltas. Termino o expresso e procuro o meu celular para checar as mensagens e visitar algumas redes sociais.

Não há nada interessante. Apenas pessoas fingindo felicidade momentânea para colocar em fotos.

Tudo tão inútil.

Ouço uma batida na porta e logo Isabelle aparece.

— Ele chegou.

— Graças, peça para ele entrar. — ajeito-me na poltrona e puxo minha saia. Estou preparada para mais uma sessão silenciosa, monótona e chata.

Ele não demora a entrar.

Vejo que hoje está trajando uma camisa e calça social preta bem diferente do sapato que é um mogno marrom. Ele checa o relógio dourado em seu pulso e senta-se no divã com as pernas entreabertas, como sempre faz, mãos entrelaçadas e um corpo um pouco inclinado à frente.

— Bom dia, senhor Bertolazzi. — eu o cumprimento e tudo que recebo é um discreto balançar de cabeça. — Como foi sua semana? — percebo que ele está concentrado em meu diploma emoldurado na parede.

— Cambridge. Fala inglês fluentemente?

— Se eu estudei por lá... — ele simplesmente ignorou a minha pergunta, então resolvi devolver no nível. Ele parece entender e dá um pequeno sorriso de deboche e responde:

— Hm.

Depois do 'Hm' como resposta, o senhor Bertolazzi não falou mais nada. Tentei perguntar outra vez como foi o seu dia, porém continuei sem respostas. Ele apenas ficou sentado e de três em três minutos olhava o relógio cronometrando o tempo que restava até o fim da sessão.

                                                                      ≠

Às quatro e trinta fechei o consultório ao lado de Isabelle e me dirigi até garagem para tirar o carro. Geralmente levo uns vinte minutos dirigindo do consultório até o apartamento que eu dividia com um casal de amigos.

Aprecio a paisagem ao som de uma música aleatória para qual não dou a mínima atenção, visto que estou aproveitando minha própria terapia. Dirigir, para mim, é relaxante.

Depois de passar o dia inteiro ouvindo problemas de outras pessoas eu realmente preciso arejar um pouco a cabeça. As estradas de Napoli são uma das melhores para isso, não há muito trânsito como em Roma e Milão, tudo é tranquilo e eu posso acelerar bastante. Isso com certeza é o motivo das minhas multas.

Como de hábito eu rapidamente chego ao prédio. Na entrada eu retiro algumas correspondências da caixa do correio e sigo para o elevador, verificando os destinatários.

Giovanna, Giovanna. E uma conta minha.

O elevador chega ao meu andar e ainda do lado de fora sou atacada com o cheiro bom que vem do apartamento.

— Que cheiro é esse?

— Lorenzo está fazendo um molho branco, aquele di-vi-no. — Giovanna se prontifica a responder, enquanto se espreguiça sobre o sofá.

— Suas contas. — entrego a ela seus dois envelopes. — Adivinharam mesmo, eu estou morrendo de fome.

— Como o foi o seu dia? — ela questiona descontraída, usando a sua forma de me sacanear. Essa é a pergunta que eu sempre faço para o paciente caladão, qual ainda não me deu resposta.

— Foi monótono como sempre. — eu me junto a ela no sofá, pegando o controle para ligar a TV.

— Nenhum caso interessante? Faz tempo que você não conta nada de legal.

— Minhas consultas não podem ser ditas, você sabe bem disso. Sigilo total. Mas, se você quer tanto saber, o senhor do silêncio apareceu por lá.

— Eu ouvi senhor do silêncio por lá? — é o apelido que ela deu ao meu paciente Lucca. — Nadinha?

— Ele notou o meu diploma de Cambridge. — sorri.

— Sinceramente, eu não entendo essas pessoas que pagam caríssimo por uma sessão e ficam em silêncio. Gente rica é outro nível.

— Vai entender. — dei de ombros, enquanto gastava alguns minutos zapeando pelos canais até que algo no canal de notícias locais chama a minha atenção.

Hoje, em Napoli, aconteceu uma chacina em um prédio próximo ao porto. Os policiais presentes no local disseram que o crime pode ser associado a uma disputa entre máfias rivais. Estamos aqui com o detetive Gilliard, do décimo distrito, que dará mais informações.

Detetive, o que motivaria a família Martinelli estar por trás dessa chacina?

Disputa de poder. Aqui no porto chegam muitos contêineres com mercadoria, e o momento de descarga é uma grande oportunidade para máfia interceptar a carga e distribuir para os comerciantes com um preço menor.

— Credo, Antonella. Desliga isso! Já chega de notícia ruim.

— Concordo com a Gio. — Lorenzo surge, acenando para a cozinha. — Vim avisar que o jantar está pronto e delicioso.

Eles são donos de um restaurante e vivem organizando festas de casamento da alta classe de Napoli. Começaram fechando o local para festas infantis, depois aniversários de debutantes e continuaram cresceram bastante. Hoje em dia eles já contam com vários funcionários. São sempre muito prestativos e fazem um trabalho impecável.

— E ele? — Giovanna pergunta, me lembrando de que não são apenas meus pacientes que possuem problemas. Eu também tenho.

— Fazem dois dias que ele não aparece.

— Isso é bom. Vamos jantar?

— Com certeza.

Ciao a tutti!
Estou desenvolvendo esse trabalho junto com a Ameiijiin, ou (Ingrid). É um projeto quase finalizado, só falta apenas alguns capítulos (que já estão em andamento) para terminamos de vez. Então não se preocupem, iremos finaliza-lo.
Espero que gostem e nos acompanhem na saga de Antonella e Lucca.
Bacio <3

Divã (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora