Lucca

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Por Lucca,

— Então foi isso. — houve uma pausa dramática. — Eles se apossaram da minha terra ao norte, expulsaram meus dois trabalhadores e mataram um. Eu tive a infeliz ideia de ir com minha mulher e... — ele não consegue continuar e logo se debulha em lágrimas. — Ela estava grávida.

Escuto atentamente o depoimento do humilde homem a minha frente.

— Entendi. — eu o corto.

— Lastimável. — Pietro fala em tom de pêsames.

— Ela está se recuperando no hospital. A polícia não fez nada, eles são imigrantes. O que podem fazer?

— O que quer que eu faça? — questiono.

— Padrinho. — ele segura minha mão. — Eu sou um pobre homem do interior, eu não tenho nada a oferecer, mas lhe juro minha lealdade em busca de justiça. — ele solta minha mão e depositou um bolsa de pano. — Toda minha economia. Per favore.

— Não preciso de seu dinheiro, guarde para si. Qual o significado da justiça para você? — eu o olho incisivamente.

O homem parece ponderar sobre tal pergunta, e tomado em um ato de coragem ele responde.

— Olho por olho. — ele afirma com bravura. É tudo o que o resta.

— Fez a escolha certa.

— Cuidará de minha causa? — ele questiona emocionado.

— Pediu por justiça, non? — ele assente.

Grazie, grazie. — ele beija minha mão. — És um homem bondoso e íntegro.

Apenas assinto e o vejo ir embora. Pietro foi gentil e abriu a porta para ele.

Me acomodo na cadeira e passo a mão no rosto.

— Pobre homem. — comenta Pietro. — Quem mandará? O Lee pode ser.

— Vitor. — respondo rapidamente e ligo o notebook.

Pietro dá um riso de lado imaginando o estrago que o Tubarão de Napoli irá causar no Norte.

Na máfia não costumamos fazer acepção de pessoas, pode ser rico como algum magnata ou pobre como um simples trabalhador rural, todos que procuram o padrinho são recebidos de forma digna.

Eu passei toda minha vida vendo meu pai receber todos os tipos de pessoas em seu escritório, ele escutava seus casos e fazia de tudo para ajudá-los, fosse com conselhos ou dinheiro.

Uma força amiga em alguns casos, como esse.

Eu gostaria de ter a paciência dele, principalmente para conselhos. Alguns casos dá vontade de mandar para puta que pariu. Meu pai disse que com um tempo eu irei lidar com isso de forma pacífica, será algo corriqueiro.

— Eu te disse que o Li Hui me convidou para ir a China esse final de semana? — questiono para Pietro.

— Será um bom negócio. Eles estão animados.

— Irei um outro dia. Já tenho outro compromisso.

Vejo um sorriso astuto no rosto do meu consigliere e ergo minha sobrancelha em forma de interrogação.

— Nada. Eu só pensei.

— Pense em voz alta, eu não leio mentes. — respondo.

— Só de falar nela você muda. Padrinho você está como se diz... Amando?

— Menos. — corto. — Entre em contato com o Vitor.

Meu telefone toca, é uma mensagem. Olho rapidamente no visor e é ela. Falando na causadora de meus problemas, Antonella sabe bem o momento de aparecer.

Divã (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora