Antonella V

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Por Antonella;

A ligação chamou, chamou e no fim fui encaminhada para caixa de mensagens. Encerrei antes do sinal e soltei o celular sobre os papéis espalhados pela mesa. Já era a terceira vez, apenas nesta manhã, que eu tentava entrar em contato com o corretor.

Já se passaram cinco dias e até então nenhuma providência em relação ao alagamento no apartamento foi tomada. Estou a cinco dias recebendo desculpas esfarrapadas enquanto tento me adaptar ao apartamento de Lucca.

Eu definitivamente não era acostumada a viver em um lugar tão luxuoso como aquele, muito menos com aquela vista maravilhosa para o mar todas as manhãs. Estava habituada com um cantinho onde eu teria que encontrar uma posição confortável para me deitar no chão, e como vista ter apenas a casa de algum vizinho barulhento.

E, mais do que tudo isso, o que mais me mostrava que minha realidade estava bem distante era o fato de eu me sentir como parte dele. Não como a pessoa com quem ele se relacionava no momento, era algo mais.

Todas as vezes que eu via minhas roupas dividindo o mesmo espaço com os ternos dele, eu me sentia quase como uma mulher casada aguardando o esposo voltar de algum lugar, visto que desde aquele dia ele não voltou mais para lá. E sempre que eu sentava no sofá da sala, para ler ou assistir o noticiário, parte de mim parecia esperar que ele abrisse a porta para finalmente me dar o gosto de desfrutar da sua presença imponente, e do sarcasmo que andava de mãos dadas com ele.

Porém, no fim de tudo, minhas únicas companhias foram seus ternos de grife e o cheiro do perfume importado que ele comumente usava. E nem elas, nem mesmo as mensagens que ele enviava diariamente, foram suficientes para aplacar a saudade que eu descobri sentir.

Esse era o efeito de viver no local dele, afinal.

Soltei um longo suspiro depois de um tempo. Busquei o celular para consultar o horário e pulei da cadeira, antes mesmo de desbloquear a tela, com o susto que levei quando ouvi as batidas na porta e a voz de Isabelle me chamando repentinamente; ela havia saído há poucos minutos daqui. Me recuperei e levantei para ir até a porta e saber do que se tratava.

— O que houve? — perguntei ressaltada, vendo seu rosto confuso.

— Você tem uma visita, um pouco inesperada eu diria. — ela começou e virou de costas chamando alguém com a mão. — Já expliquei que ele foi transferido, mas mesmo assim ele quis ver você.

Ela apontou para lado e Lucca parou ali, sorrindo para mim. Minha expressão surpresa pareceu afetá-la, e para não gerar desconfianças suavizei o olhar e fitei-o como se estivesse esperando pela visita dele.

Ciao. — ele diz cinicamente.

Ciao. — respondi com um mínimo sorriso.

— Passei pela frente e do nada me bateu aquela lembrança daqui, e dos quadros feios da doutora.

— Tudo bem, Isabelle. Eu preciso tratar algo com ele também. Obrigada. — informei. Ela olhou para nós e deu de ombros, seguindo o caminho.

— Entra. — eu apontei para dentro e ele entrou.

— Que jeito mais grosso de tratar seu velho paciente.

— Pode passar o tempo que for, mas o sarcasmo vai continuar o mesmo. — sorri, sentando na poltrona próxima ao divã; aliso meus joelhos sob a saia preta, fitando-o aproximar-se de mim. — A que devo a honra de sua visita?

— Eu disse. Só passei por aqui, cara mia. Queria ver você; essa semana foi complicada para mim. — ele rouba um beijo. — Está bella.

Divã (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora