Antonella XI

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Por Antonella,

Eu sempre fui cercada de casais. Na infância eu tive meus pais que sempre me deram todo amor, carinho e atenção que eu precisava. No colegial, quando eu estava mais interessada em descobrir meios para entender a mente das pessoas, eu tive algumas colegas que se esbaldavam com seus namorados em festas quais seus pais não faziam ideia que elas frequentavam. E na universidade, onde conheci os dois casais de amigos excepcionais que são o que eu chamo de "casal modelo".

Eles não são necessariamente perfeitos, mas ajudam e dão todo tipo de apoio um para o outro. Eu admiro muito isso, pois vivo com eles o bastante para sentir, mesmo longe do toque, que seus abraços parecem oferecer o melhor refúgio do mundo e que o sentimento que ambos demonstram ter é vital e energizante para eles. E depois da péssima experiência a que me submeti, eu quis um dia poder experimentar disso e ter a mesma expressão feliz que tanto Giovanna quanto Karin esboçaram.

No fim, eu me acostumei com minha vida solitária e quando dei por mim já me olhava no espelho convicta de que enquanto não cuidasse do fantasma do meu passado eu não seguiria em frente, e acabei dando um tempo de qualquer possível recomeço para mim por exaustivos anos.

Eu continuei insistindo mesmo quando era claro que eu não conseguiria. Ao menos não como eu imaginava.

Lucca surgiu bem no meio dessa tempestade que rondava minha vida, mas ele não soava como aquilo que faltava para melhorar. Na verdade, ele pareceu mais como peça fundamental para que tudo desabasse de vez. E tudo desabou, como esperado.

"Martinelli Lucca. Padrinho da Camorra."

Sua revelação ressoa quase como um sussurro em meu ouvido, transformando minhas lágrimas de tristeza e confusão em lágrimas de raiva e isso me lembra instantaneamente de uma velha conclusão de Jung.

Mesmo uma vida feliz não pode existir sem um pouco de escuridão.

Ele nunca esteve tão certo de algo como está agora, minha atual situação é a maior prova disso.

Há uma semana nossa vida parecia seguir em perfeita harmonia. Mateo ainda me perseguia e eu imaginava que seria apenas uma questão de tempo até ele finalmente entender que entre nós nada mais haveria, porém o final da história foi diferente e eu cometi um homicídio.

Ainda era doloroso pensar sobre o que houve, principalmente longe da pressão de ser um alvo, porque eu lembrava claramente dos seus olhos angustiados, da voz amargurada e do espanto em seu rosto quando me viu pressionar o gatilho.

O incidente era algo recente, eu não conseguiria ser tão fria a ponto de esquecer tudo em menos de uma semana e me martirizei muito sobre isso, acredito que só não o fiz mais por causa de Lucca, que conseguiu me ajudar a tirar da cabeça que eu não era a única culpada. Era ele ou eu, e eu fiz o que qualquer ser humano faria.

Lucca foi essencial para o progresso da minha "recuperação". Era o único com quem eu podia contar no momento, era o meu maior apoio moral. Parecíamos estar ainda mais conectados, e eu afirmo com toda certeza que isso estava me fazendo bem.

Era bom me sentir amada depois de tanto tempo, pois eu já tinha esquecido qual era a sensação de acordar e pensar que alguém se importava de verdade comigo, e que ele estava disposto a me ajudar a superar um momento tão angustiante como este que estou vivendo.

Achei que nada poderia mudar esse sentimento tão drasticamente, mas é como dizem, sempre há um mas e agora estou aqui ouvindo de Lucca — quem eu menos esperava — que Mateo fazia parte de uma grande família mafiosa, e pior que ele próprio era líder de outra.

Divã (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora