Mais um dia sem saber onde estou. Está a tornar-se rotina não saber o que fiz ontem... E esta dor de cabeça... Estou de ressaca, hm, novidades?
Espera... O que é aquilo? Um post-it?
"Bom dia, maninho... Espero que não te chateeis, de novo, mas dei uma limpeza e arrumadela à tua casa. Sei que é de manhã quando fores ler isto e esqueces sempre de como vais parar ao teu quarto... Pelo teu bem, bebe menos. Com amor, Grace ."
Reviro os olhos. Lá prá gaja, foda-se!
Sempre metida na minha vida, sempre preocupada com a quantidade de álcool que sufoco as minhas magoas, sempre preocupada com o que posso fazer e não me lembrar.
Sento-me na cama e observo o quarto completamente bem arrumado, levo a mão esquerda à cabeça com as tonturas que já estou habituado.
Visto-me com roupa agasalhada.
Pego na minha mochila e enfio para lá dentro um caderno preto todo estragado e uma caneta azul ruída.
Ponho-a às costas e saio do meu quarto para o corredor que me leva á cozinha, está demasiado organizada... E decido por diversão despedaçar uma jarra de porcelana com umas flores amarelas contra os chão.
Dou um sorriso de canto do lábio e procuro pela cozinha o meu pacote de cigarros.
Depois de muita procura, passa-me pela cabeça que podem estar no caixote do lixo. Abro a tampa e vejo a minha caixa de cigarros encharcada.
Olho para o pacote vermelho. Cabra. E saio de casa a resmungar.
No corredor, vou em direção ao elevador, mas está bloqueado. Grito umas asneiras aos chutos ás grades velhas que o rodeavam e a Sra. Marise sai da sua casa com um sorriso na cara cheia de rugas.
Ela sorri e com ajuda de um tripé veio ter comigo, dá uns estaladinhos numa das minhas bochechas e eu continuo admirado.
- Bom dia, menino Luke. - diz ela a sorrir, dá meia volta e vai para sua casa deixando na minha mão direita, um saco de bolachas de chocolate caseiras.
- Obrigado - digo a dar o meu melhor no meu sorriso e ela responde com uma gargalhada.
Corro para as escadas e desço-as ainda mais rápido, tropeçando algumas vezes.
Chego à rua e continuo a correr para apanhar o autocarro para chegar a tempo à aula.
Chego à paragem de autocarro e ainda tento apanhá-lo mas ele arranca, paro de correr e bufo. Vejo um café ali perto e penso em comprar um maço de cigarros novos.
Entro e apercebo-me rapidamente do barulho que uns homens faziam no canto do café com altas gargalhadas e conversas sobre caçar um pato.
Vou até à máquina.
Estragada?
Tento de novo.
Não sai nenhum pacote, carrego de novo e não ouço o pacote a caír, dou uma palmada no lado da máquina e não ouço nada. Dou outra palmada e ,agora sim, consigui ouvir o pacote.
Agarro-o e saio do café.
***
Todos que me rodeiam dizem que não tenho azar, apenas o meu mal humor me estraga a vida. Eu tenho a certeza do contrário, o mal humor salva a minha vida que descobre o azar antes mesmo de algo acontecer. O mal humor salva-me de todos, os meus amigos dizem que afasta as pessoas, eu quero afastar tudo de mim.
***
Cheguei a casa dela mais cedo um pouco, era para tocar à campainha, como costume, mas pretendi fazer-lhe uma surpresa.
Tirei as chaves de casa dela da mochila e abri a porta da frente com precaução, fexei-a sem fazer barulho. Estava animado, hoje ela combinou que seria o seu dia, a sua primeira vez.
Não a encontro, subi as escadas e ouvi um ruído repetitivo no seu quarto.
Quanto me aproximei mais da porta entre-aberta, consigo ouvir uns gemidos. Nesse momento, pensei que os seus pais já tivessem chegado da colônia de férias e estivessem num dos seus momentos de casamento precisosos.
Até aproximar-me mais do quarto.
***
Limpo as lágrimas que estavam a brilhar nos meus olhos e inspiro para acalmar o meu batimento cardíaco.
Entro na sala de aula onde o setor estava lá se lixando com o meu atraso.
Preferia nem sequer ter tocado na maçaneta daquela porta... Quem me dera nunca me ter tido inscrito nesta universidade.
O professor escrevia de tudo naquele quadro, e eu pensava em tudo que poderia ter feito naquele momento...
Chega a hora de saída e todos saem da sala, e eu saio mais rápido que todos. Mas algo pára-me.
Não algo, o meu melhor amigo, Calum, que deu o seu melhor em desapontar-me.
Quem teve culpa de aquilo ter acontecido, do Calum? Dela? Ou dos pais que a fizeram tão perfeita que é cobiçada por todos que me a roubaram?