Os meus olhos ardem pela luz forte apontada à minha cara, pisco-os repetidamente.
Ouço um som agudo e repetitivo ao meu lado direito e estico o braço em direção ao barulho, sinto um ecrã.
Suspiro e abano a cabeça, sento-me e levo as mãos à cabeça. Tento de novo abrir os olhos mas a luz era demasiado forte.
- Boa noite - diz Grace, a minha irmã mais velha.
Olho para ela , ela sorri de leve e tinha os olhos azuis cansados, o seu cabelo loiro estava preso num puxo. Vestia uma camisola de lã cinzenta, umas calças de ganga á boca de cino e calçava uns botins de tacão alto.
Olho á minha volta e apercebo-me que estou num hospital, eu não respondo ao seu "Boa noite" porque simplesmente não fazia o menor sentido.
Ela entre-abre a boca e olha para as suas unhas das mãos pousadas no seu colo.
- Porquê? - diz ela.
- O quê? - pergunto mesmo sabendo a que Grace se dirigia.
- Porque é que tu cortas-te? - pergunta.
Encolho os ombros.
- Não te cabe a ti saber ou perceber - respondo.
Ela acena afirmativamente com a cabeça e senta-se na cama que eu estava sentado.
- Sei que não gostas de mim por... - faz uma pausa pois não o queria dizer - Eu amo-te, Luke. És o meu irmão mais novo, eu não te quero perder.
- Mas eu já estou perdido, Grace. Tu tens um marido que te ama e estás a pensar em ter filhos, tens tudo e eu nada - digo e os seus olhos brilham pelas lágrimas.
Ela funga o nariz e responde:
- Se odeias tanto as pessoas que te rodeiam porque é que apontas a lámina aos teus pulços em vez a elas?
Não respondi, não tinha resposta, talvez por ainda ter esperança...
Esperança de amá-las como amei e elas de me amarem como amavam.
Ela limpa as lágrimas e sai do quarto, pego num envelope que estava na mesa ao lado da minha cama que tinha escrito:
" Olá, Luke.
És um filho da puta.
Tu podes confiar em mim para que precisares mas isto eu não percebo!
Sabes o que é ir a casa do teu grande amigo para animá-lo, e não haver ninguém em casa até procurares na casa de banho e ela estar toda encharcada e arrastares a cortina e encontrares ele na merda de banheira deitado numa mistela de sangue?!
Estavas morto! Se não me explicares o porquê de teres feito isto e atiro-te uma faca entre os cornos!
.|. piças pra ti, Ash."
***
Depois de vestido saio do hospital, o bom é que deve ter sido Ash a combinar a minha roupa porque se foçe a minha irmã saíria daqui parecido a um hippie ...mesmo que seja a minha roupa.
Vou para casa, que é num dos vários bairros.
As ruas podem estar desertas mas isso não implica que sejam calmas.
Muitas das vezes várias mulheres se prostituem aqui e gangues sempre a roubar uns aos outros, mas como a policia costuma dizer " roubar quem roubou não é roubo ".
Mas entre o silêncio do bairro ouve-se um carro em alta velocidade e para bruscamente no meio da rua.
O homem depois de sair do carro vai à mala do carro e abre-a, algo tenta gritar.
Não reparam que eu estou ali.
Decidi não me meter enquanto os homens ainda tivessem ali, o homem atira esse algo para o chão. Depois do corpo cair no chão ele dá-lhe um pontapé na zona do abdômen e este deixa de reagir.
O homem corre para dentro do carro e acelera deixando a rapariga deitada, aleijada no meio da rua.
Não era "uma" rapariga era "a" rapariga que estava nas escadas da discoteca no dia anterior.
Vou ajudar a rapariga.
Lembro-me de cada feição dela.
Mas hoje ela usava um vestido encarnado bem justo e bem curto, calçava os mesmos sapatos do dia anterior e o seu cabelo estava mais sujo.
Aproximo-me da sua cara e sinto o cheiro a álcool.
Consigo ver que toda a sua maquilhagem está borratada como se estivesse estado a chorar.
Talvez é a nova moda... Gajas estranhas.
Ela estava aleijada, lábio arranhado, cabeça pisada e com feridas e nódoas negras pelo corpo todo.
Penso numas soluções... E pego nela ao colo e levo-a para casa.
Quando chego ao meu apartamento deito-a na banheira.
Pego no chuveiro e encharco-a.
Foda-se. Sei lá! Para a acordar!
Mas ela continua deitada numa postura estranha como as vitimas do C.S.I..
Vou para a cozinha alimentar-me.
E volto com uma sandes de bacon na mão.
- Obrigado - murmura ela - Mas eu tenho que voltar para lá... - diz ela sem emoção certa, a sua emoção era bêbada.
- Está bem - respondo de boca cheia. - Mas só depois de fazermos aquilo que combinamos ontem - continuo ironicamente e empurro-a contra a superficie da banheira.
- O quê? Eu tenho que voltar - grita ela
- Não tens nada, vais-te calar que quem manda nesta casa sou eu - digo a lavar as mãos no labatório, de costas para a banheira. - Da forma como estás se queres saír deves estar mesmo a pedir para beijar o chão.
A rapariga levanta-se e olho para o espelho onde a vejo a desapertar o vestido, deixando apenas tapar o seu corpo magro uma langerie preta.
Hoo...
Ela encosta-se ás costas do meu corpo e lambe o meu pescoço.
Apesar de extremamente atraente não consigo fazer isso...
Porque ela está bêbada pra caralho.
Quando me viro para ela agarro os seus pulços e faço com que ela recue até a conseguir a pôr de novo deitada na banheira.
- Ficas aí - e disparo água contra ela.
E ela tapa a boca.
Vais vomitar?
Estica-se para o caixote do lixo e despeja todo aquele álcool.
Olho-a sério.
Depois ela senta-se na banheira, tapa a cara com ambas as mãos e chora.
Foda-se...
Não sei como a consular, a única rapariga que tive contacto estas últimas três semanas foi apenas a minha irmã por isso apenas a observo.
Desligo a água mas ela olha para mim triste .
- Deixa o chuveiro ligado, quero tirar este cheiro a perfume de homem e a charuto do meu corpo - diz ela.
Aceno afirmativamente com a cabeça e vou buscar umas roupas que a minha irmã tinha deixado cá.
Depois de arranjar toda a roupa volto para a casa de banho onde a vejo com a lámina que me cortei hoje de manaha entre o indicador e o pulgar e com ainda a marca do meu sangue.
- Consigo ver que não resultou - suspira ela.
- Acontece.
- Consegues para a próxima.