- Eu não vou perdê-la. - comento dando uma enorme trinca na fatia de pizza.
- Lamento, Luke. - repete Ash, dando o seu melhor para confortar-me.
Suspiro. - Desculpa não ter dado sinal durante esta semana em que Rose estava inconsciente.
- Não te preocupes, Lucas... - começa - A tua irmã ligou.
- Ai sim? - dou de novo, mais uma trinca. - O que queria ela?
- Saber de ti. - responde tentando ficar confortável mas as cadeiras que a cantina do hospital nos despobliza, são duras como pedra.
- E tu o que disses-te?
Ele suspira. - A Grace está a chegar, Luke. Eu contei-lhe...
- Foda-se, Ash... Eu não quero que a chateiam, a Rose precisa de descanso! - eu digo.
- Tu também percisas! Estás pior que ela, já olhaste-te ao espelho?!- ele tapa a cara com ambas as mãos enquanto eu contínuo a mastigar sem foças - Voltas-te para as drogas?
- Ainda não. - nego.
Ashton agarra de imediato o meu pulso e destapa-o, vendo um corte, ao lado de um que já cicatriza.
- " Ainda não "? Não vais conseguir comprir a promeça que fizeste à Rose... Não dormes, não comes, apenas fumas e ainda fazes isto?! Eu sei que sofreste, eu sei que este é o começo de dor do início das estupidezes. Mas tu prometes-te-lhe.
- Eu vou viver!
- Andar como tu é viver? Quando a Rose for, tu vais apenas respirar. Acaba com isto, luta contra o mundo, não o contornes!
- Ash... Já viste o que sofri? Estou farto de perder quem amo. - limpo as mãos ao guardanapo e tapo os olhos por já estarem a arder.
Uma rapariga loira, bonita, na casa dos 30 anos, vem na nossa direção. Com o seu sorriso disfarçado. Disfarçado por esconder a sua preocupação ao ver o meu aspeto.
- Luke... - ouço ela suspirar - Lamento pela Rose - diz o seu nome como todos os outros, sem sentimento, é preferível que todos nem se quer o digam.
Dói demasiado saber que não tive tempo suficiente com ela ao ponto de todos os meus chegados não conseguirem dizer o seu nome com uma gota de sentimento - Sei que é complicado... - não sabes não -... Mas precisas descansar.
- Eu já vou para o quarto dela, ela está a dormir... Eu durmo até ela acordar.
- Não! Luke, precisas de dormir numa cama, longe de Rose. - Grace explode, não aguentando mais a minha loucura.
- Acham que estou maluco... - sorrio cansado - Eu estou maluco. Eu não a vou perder... Talvez é por isso que estou maluco, porque tenho a noção que a vou perder mas eu sei que não vou - encolho os ombros - Eu vou vê-la.
E levanto-me, a ir para o quarto onde Rose estava a dormir, em passo rápido. Até um médico impatar-me, chamou o meu nome.
- Sim? - consigo dizer.
- Bem, o que tenho a dizer é pouco. Talvez já o saiba, mas mesmo assim vou contar-lhe. Rose, pouco mais sobrevive, tem demasiado líquido no pulmão e o seu cérebro... Demasiado cancro - como se o " demasiado" modasse a palavra " cancro " - Vamos rapar o seu cabelo para fazer os tratamentos restantes, não se decidiu nada. Vamos agora fazê-lo, acompanhe-nos.
Afirmo com um abanar de cabeça e continuo o caminho, agora acompanhado por um médico, várias infermeiras e uma máquina para o cabelo.
Eu gostava poder ajudar Rose, não só dar-lhe a mão, enquanto o seu sorriso é grande e refleto pelo espelho à sua frente, mesmo quando agarra a minha mão de uma maneira desesperada.
Sorrio com a vontade chorar, a sentir a sua tristeza por cada aperto da sua mão.
Ouço a máquina a ligar e vejo Rose a baixar o olhar, para não ver as suas primeiras madeixas a cair, ainda a sorrir.
Imaginava poder ter mais história com ela, ela com cabelo grisalho e eu gordo e velho, imaginava.
Hoje imagino ela, de cabelo comprido, sem aparelho respiratório, a ver um filme, na minha presença.
Os fios negros como asas de corvos, caêm, tornando agora as suas pestanas negras e compridas como penas em volta dos seus olhos, atraindo mais nos seus lindos olhos, e as suas sobrancelhas já eram reparadas mais facilmente, já que poucas vezes elas são uma das atenções.
E os seus lábios encarnados, nem muito carnudos, nem muito finos, curtos e perfeitos continuavam com um belo sorriso desenhado.
Estou triste por isto estar a acontecer-lhe...
Mas se o cancro for mais forte e tirar a memória, eu conto a nossa curta história; a fala,eu repito as palavras; o sentimento, eu beijo-a... O cancro não vai retirar a Rose que conheço, porque se o conseguisse... Ela não estaria aqui comigo.
Já deitada na sua maca, enfiam um tubo pelo seu peito e pelo mesmo escorrega o tal líquido falado até um saco transparente pendurado na cama. Não parecia algo medicinal, mas sim uma bebida alcoólica. Parecia mesmo a tal cerveja alemã que eu adoro.
- Está tudo bem? - ouço-a falar.
Fico atento ao seu rosto, desfocando a atenção à televisão - Tudo perfeitamente perfeito - respondo e beijo o peito da sua mão.
Ela sorri e paça de leve a sua mão pela minha face, arrepiando a minha pele por a sua ser tão fria, tão pouco oxigenada - Porque não deitas-te aqui, abraças-me, e adormeces? - Rose diz feliz.
Levanto-me da cadeira e Rose chega-se mais para o seu outro lado. Deito-me levemente ao seu lado, a encostar meu tronco às suas costas.
- Estás tão quente... - comenta ela a dar-me a mão, a beijar os meus dedos e a encostar as nossas mãos ao meu peito. A sentir o meuu respirar - Sinto o teu coração... Está acelerado. - fala ela.
Suspiro e beijo o seu pescoço.
- Descansa, Luke...