Capítulo 13

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— Já passou uma semana Dias, pelo amor de Deus. — Rio falou irritada enquanto fechava a porta do armário, sua amiga continuava mais triste que o normal e era insuportável vê-la daquela forma. — Não tô dizendo que você não pode ficar triste, eu sei que você acha que ele era um cara legal.... Mas ele te fez chorar, então ele não era. — Rio disse prendendo o próprio cabelo em um rabo de cavalo e respirando fundo, faltava uma aula pro intervalo e o ambiente estava completamente abafado pelo calor.

— Eu sei.... Mas ele gostava de mim Rio. — Beatrice disse fazendo um coque nos cabelos ruivos, as lentes incomodavam dentro de seus olhos. — Eu devo ter olhado pra ele de um jeito muito ruim....

— Isso era problema dele. — Rio completou e encarou as olheiras da amiga. O óculos de Beatrice ainda estava para sair. 

As duas desceram as escadas que dava para o corredor de entrada e deram de cara com uma multidão que se fazia presente ao redor do armário da ruiva. Beatrice se perguntou o que estava acontecendo e encarou a índia com uma interrogação no rosto, ambas caminharam em direção ao armário e quando chegaram perto o suficiente a multidão se abriu.

— Isso não tem graça. — Rio falou e segurou uma vela eletrônica que estava no chão misturada ao monte de flores e fotos da ruiva.

Quando Beatrice encarou seu armário encontrou uma imagem dela rabiscada, os olhos marcados com dois x enormes, como se ela estivesse morta. Ao redor haviam xingamentos escritos com canetão

— Cara, isso aqui é doentio. — Rio falou se levantando e mostrando as flores mortas para a ruiva que sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

Dias involuntariamente olhou para todos os lados procurando quem tinha feito aquela bizarrice no armário dela, o medo invadiu suas veias com suas raízes e se plantou na boca do estômago dela, Julia estava armando algo grande pra ela, e não importava o que fosse não seria nada legal.

Um som de grito explodiu perto das escadas e a multidão que já se espalhava rapidamente voltou sua atenção para a nova fofoca.

Beatrice tentou ignorar a voz conhecida, John estava completamente descontrolado aquela semana, e aquelas cenas de agressão já haviam virado uma rotina qual ela não queria presenciar. Mas assim que seus olhos encontraram a figura alta ela percebeu o que havia de diferente naquela manhã.

Müller estava sem blusa usando uma calça moletom que parecia da educação física, e pela expressão de ódio em seu rosto, não era porque ele queria usá-la.

Holly Shit. — Rio xingou impressionada e se virou para encarar a amiga, ambas estavam na frente da multidão.

— Era isso o que você queria? — Sua voz estrondosa soou no corredor e o mesmo ficou em silêncio imediatamente. Nenhuma alma teria coragem de falar qualquer coisa.

O garoto que estava provocando a briga, novamente o Fernandes, não conseguiu responder, assim como todas as outras pessoas no corredor ele estava assustado encarando o corpo desnudo de John. Com certeza a visão não era o que ele esperava.

O que Beatrice achou ser gaze enrolava o abdómen do moreno, escondendo algumas tatuagens, apenas algumas, porque o resto do corpo dele estava coberto pelos riscos pretos desconexos. A ruiva conseguiu enxergar uma ou duas caveiras, o resto eram letras pequenas e desenhos menores, nas suas costas havia uma grande mancha preta, apenas de um lado. Aquele era um desenho extremamente detalhado, mas de longe ela não soube dizer o que era.

Mas o mais impressionante não eram as tatuagens, os desenhos eram lindos — Aos olhos de Beatrice —, o que impressionou Fernandes e a Multidão foi o sangue que tingia o preto dos riscos, os enormes vergões que desenhavam suas costas e o sangue que manchava a gaze.

— Johnatan, cara, eu não sabia que-

— Foda-se o que você acha! — Johnatan gritou, empurrando Vitor contra o armário e socando o seu rosto logo em seguida, a força foi tão grande que o sangue jorrou dos lábios do garoto quando seu corpo caiu sobre o piso branco. — Eu disse que essa merda não ia acabar bem pra você. — Johnatan subiu em cima de Vitor que permanecia sem reação e socou seu rosto mais duas vezes, o barulho foi tão alto que todos no corredor soltaram um suspiro ao mesmo tempo, a cena era horrível.

— Desgraçado! — Vitor gritou finalmente acertando um soco e Johnatan continuou com ainda mais força o que estava fazendo, o soco não pareceu o incomodar.

— Müller vai matar ele. — Uma das pessoas na multidão falou e Beatrice começou a caminhar na direção do moreno, alguém tinha que parar aquilo.

Rio correu em direção à Beatrice e puxou a ruiva para trás com força, no mesmo instante os dedos sujos de sangue de John circundaram o pescoço do garoto e apertaram a região. Vitor estrangulou embaixo de Müller e gemeu, tentando em vão empurrar o outro.

— John.... — Beatrice chamou, mas ele não ouviu, não queria ouvir. — Johnatan! — Gritou e a multidão inteira se virou na sua direção, Rio soltou os braços da ruiva e a mesma correu em direção ao demônio.

Depois de alguns segundos torturantes Müller soltou o pescoço do outro jovem e se levantou, limpou em vão os lábios sujos de sangue e o líquido vermelho que antes estava em suas mãos se espalhou no seu rosto. Um rastro do que ele havia feito.

Assim que ele olhou para cima seus olhos negros encontraram os olhos claros da ruiva, mais uma vez descobertos da barreira dos óculos. Seus pés cambalearam e ele se apoiou no armário de ferro.

Os lábios da garota se abriram esperançosos e Johnatan abaixou o olhar novamente antes de olhar para o lado de Beatrice e respirar fundo.

— Müller. Minha sala. Agora. — A voz imponente da diretora soou e o moreno concordou, logo em seguida caminhou a passos lentos em direção à Vitor e se abaixou, levantando com uma camisa preta em mãos. — Jesus Johnatan, o que diabos aconteceu aqui? — A mulher perguntou encarando o piso branco sujo de sangue. — Vitor, o que você...?

— Ele só está inconsciente. Eu não matei ele. — Johnatan respondeu e caminhou em direção às escadas.

— Puta Merda. — Rio falou se aproximando da ruiva e a diretora lhe deu um olhar nervoso, dizendo "Olha o linguajar mocinha" com as sobrancelhas inclinadas. Assim que a diretora subiu as escadas para tomar as devidas providências, a multidão de alunos se dispersou. Ninguém havia gravado nada, talvez porque sabiam o que aconteceria se Johnatan visse alguém com o celular na mão. — O que você pensou indo na direção dele daquele jeito garota? Se ele desse nem que fosse um empurrão em você, te machucaria feio! — Rio repreendeu preocupada com a ruiva e a garota suspirou frustrada. A amiga tinha razão.

Lembrou-se da conversa que teve com sua mãe no telefone na noite passada e tentou pensar nos conselhos de Vitória, tentando buscar qualquer coisa que ajudasse no problema que se formou em sua cabeça.

Ela não conseguia esquecer John, nem se afastar dele, muito menos deixar ele sozinho com seja o que significasse aquela coisa dentro dele.

Os olhos negros de John ainda estavam sobre ela, como se tivessem carimbado sua mente à ferro quente. Era impossível esquecer a expressão no seu rosto, o sangue manchando seus lábios e sua bochecha esquerda, bem abaixo da cicatriz.

— Você não vai querer ouvir isso mas ele parecia um animal, Bia. — A índia falou.

— Eu sei. Eu sei exatamente o que ele parecia.

Com uma outra coisa, outro alguém.

RuídoOnde histórias criam vida. Descubra agora