Beatrice sentiu que seus pés se moviam de forma lenta demais no corredor quando passaram pela primeira porta branca. Johnatan segurou a maçaneta e Beatrice puxou seu braço, sentindo o pânico secar sua garganta.
— Meu quarto é na próxima porta.
John olhou mais uma vez para a porta com figurinhas de flores antes de voltar a andar pelo corredor, dessa vez atrás da garota. Ela segurou a maçaneta dourada e abriu a porta, fazendo uma reverência para que John entrasse primeiro.
Assim que o moreno entrou não conseguiu prender um sorriso, era exatamente como ele havia imaginado.
Jonathan passou os dedos por um quadro na parede e sentiu a textura da tinta óleo construir prédios em diferentes tons de cinza. O quarto de Beatrice era em um tom claro de salmão e as paredes estavam cobertas de desenhos e rascunhos. Havia uma cama com dezenas de bichos de pelúcia, uma escrivaninha e uma cômoda, ambas brancas.
— Você pintou isso? — O moreno perguntou impressionado, na escrivaninha havia muitos lápis de cor e tintas, além disso muitos pincéis e espátulas quais ele não fazia ideia de para o quê servia. — Eu não sabia que você pintava.
— Sim, a cidade foi ano passado. — Beatrice respondeu timidamente, o quarto era um lugar qual apenas Rio havia entrado durante toda a sua vida e de repente ela se sentiu insegura em relação aos seus desenhos na parede. Agora que ele estava ali olhando, tudo que ela conseguia sentir era vergonha. — E bem, tem um monte de coisas que eu não sei sobre você também.
John ignorou.
— O que você acha? — A garota perguntou, insegura.
O moreno se virou.
— É linda. — Johnatan sorriu, se referindo à cidade mas também à garota na sua frente. As bochechas da ruiva coraram em resposta.
— John, nós precisamos falar sobre o que aconteceu no hospital. — A ruiva disse olhando para baixo, logo em seguida seus olhos se ergueram para a expressão no rosto de Johnatan, era impressionante como ele podia mudar de suave para tenso em poucos segundos. Sua mandíbula se enrijeceu e ele se sentou sobre a cadeira ao lado da mesa.
— Eu sei. — Ele respondeu brevemente e encarou os próprios dedos. — Eu não tinha direito nenhum de gritar com você, mas não retiro nada do que eu disse.
Beatrice sentiu uma pitada de indignação e cruzou os braços.
— Eu sei que eu sou covarde, mas você acha mesmo que tinha que falar isso pra mim daquele jeito?
— Eu tinha. — John sorriu e Beatrice o encarou, sem encontrar a graça. Ele olhou para as próprias mãos novamente e cerrou o punho ao perceber que as mesmas tremiam.
— Isso é você sendo hipócrita? Porque eu não gosto nada da visão. — A ruiva disse e John finalmente olhou pra cima, encarando-a sem entender. — Você está sempre com medo.
John franziu as sobrancelhas, frustrado com a realização.
— Eu.... —Jonathan começou mas foi interrompido.
— Você está sempre me afastando, não importa o que eu faça. — Beatrice suspirou. — Pode até jogar na minha cara que e tenho medo daquela vaca e dos monstrinhos dela, mas nunca vai poder dizer que eu sinto o mesmo por você. — A ruiva parou para respirar e analisar a expressão no rosto do moreno, era uma mistura de confusão com surpresa. — Então me diz John, por que você tem tanto medo de mim?
John abriu a boca para responder mas logo em seguida a fechou, impressionado. Porque ela tinha razão. Seus olhos se fecharam, a cicatriz se encolheu e as covinhas apareceram em suas bochechas quando um sorriso se formou.
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Ruído
RomanceJohnatan escuta uma voz em sua cabeça, maligna, um demônio. Beatrice tem medo de quem derruba seus livros todos os dias. Duas vidas cheias de ruído, como uma televisão fora do ar. Talvez juntos eles finalmente sintonizem.