Mal ela sabia que a voz dentro de John estava gritando à todos pulmões para que ele saísse do hospital, ou para que ficasse e fizesse algo ruim.
— Johnatan. — A ruiva chamou o nome do moreno e ele virou seu olhar para ela, abaixando o volume da música. Dias deu outro suspiro antes de continuar. — Eu queria te pedir desculpas pela última vez na frente da biblioteca, e eu.... Eu também queria ver se você estava bem depois do lance no corredor com o Vitor, você parecia muito machucado. — Beatrice se praguejou pela velocidade que as palavras saíram da boca dela, ela não queria ficar nervosa perto dele, mas era tecnicamente e emocionalmente impossível ficar estável depois de ter visto ele chorando.
John balançou a cabeça.
— Eu não estou machucado. Não mais. — O rapaz se levantou e caminhou até o lado direito da cama onde Beatrice o encarava, as bochechas levemente vermelhas.
— Eu não acredito em você.
— Isso não é bem um problema meu.
Beatrice fez uma careta.
Müller desistiu, sorriu e levantou a camisa preta que usava relutantemente, mostrando o que era apenas mais uma das cicatrizes em seu abdômen, a marca quase se camuflava dentre as tatuagens pretas. Os olhos castanhos da ruiva encararam curiosamente o rasgo. Como era possível que tivesse curado tão rápido?
Sem pensar duas vezes os dedos gelados da ruiva repetiram o movimento que já havia feito há algum tempo sobre a ferida causada pela garrafa de vidro, seus dedos se arrastaram sobre a marca e Johnatan sentiu cada pelo do seu corpo se arrepiar com o ato. Suas mãos se apoiaram no ferro ao lado da cama, ele fechou os olhos por alguns segundos, controlando toda a força que queria sair de dentro dele.
— Dói? — A garota perguntou, pressionando a cicatriz.
Johnatan gemeu em resposta, não era aquele tipo de dor que o incomodava na ocasião. Ele nunca sentiu tanto desejo a vida inteira quanto sentiu naquele momento, ter o que ele queria tão perto sem poder realmente ser seu. Sua.
— Não faça isso. — Johnatan pediu e afastou os dedos da garota, sentindo a pele onde eles estavam queimar como o inferno. O inferno para onde ele deveria ir por ainda estar pensando daquela maneira, o fato era que a ideia da garota morrer perturbava cada célula do seu corpo como eletricidade. — Não vamos falar de mim quando é você que está numa cama de hospital.
Beatrice franziu as sobrancelhas em dúvida pelo salto que John havia dado no assunto e logo compreendeu que ele queria falar do que havia acontecido com ela durante o desaparecimento. Dias não queria, porque era triste e degradante.
— Julia e um grupo de garotas me prenderam em cadeiras de ferro dentro daquela cabana de madeira. Eu acho que se fosse apenas a Julia, talvez eu tivesse conseguido fazer algo, mas eram três garotas. — Beatrice falou frustrada enquanto encarava a própria comida, a verdade era que nem se fosse apenas Julia, ela não teria conseguido fazer nada. Porque se sentia fraca. — Eu queria muito sair.
A garota olhou para os próprios pulsos machucados pela corda e engoliu em seco. Julia havia passado dos limites, aquela brincadeira era agora um sequestro e uma tentativa de assassinato?
— Você derrubou as cadeiras em si mesma, certo? — Johnatan perguntou, voltando a se sentar no banco de couro do outro lado do quarto. Beatrice sofreu em silêncio com a distância entre eles.
— Sim, eu achei que funcionaria porque faria muito barulho.... — Beatrice quis estar com os dois ombros bons para levantar as mãos e cobrir o rosto, estava envergonhada em como aquilo soava estúpido.
John deu um suspiro frustrado.
— Você obviamente não pensou em como as cadeiras cairiam em cima de você e te esmagariam. — Müller murmurou e a ruiva sentiu a raiva dentro de seu organismo borbulhar. Ela sabia que era uma ideia idiota, mas fora a única que teve enquanto estava presa em uma barra de ferro.
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Ruído
RomanceJohnatan escuta uma voz em sua cabeça, maligna, um demônio. Beatrice tem medo de quem derruba seus livros todos os dias. Duas vidas cheias de ruído, como uma televisão fora do ar. Talvez juntos eles finalmente sintonizem.