Capítulo 20

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Mal ela sabia que a voz dentro de John estava gritando à todos pulmões para que ele saísse do hospital, ou para que ficasse e fizesse algo ruim.

— Johnatan. — A ruiva chamou o nome do moreno e ele virou seu olhar para ela, abaixando o volume da música. Dias deu outro suspiro antes de continuar. — Eu queria te pedir desculpas pela última vez na frente da biblioteca, e eu.... Eu também queria ver se você estava bem depois do lance no corredor com o Vitor, você parecia muito machucado. — Beatrice se praguejou pela velocidade que as palavras saíram da boca dela, ela não queria ficar nervosa perto dele, mas era tecnicamente e emocionalmente impossível ficar estável depois de ter visto ele chorando.

John balançou a cabeça.

— Eu não estou machucado. Não mais. — O rapaz se levantou e caminhou até o lado direito da cama onde Beatrice o encarava, as bochechas levemente vermelhas.

— Eu não acredito em você.

— Isso não é bem um problema meu.

Beatrice fez uma careta.

Müller desistiu, sorriu e levantou a camisa preta que usava relutantemente, mostrando o que era apenas mais uma das cicatrizes em seu abdômen, a marca quase se camuflava dentre as tatuagens pretas. Os olhos castanhos da ruiva encararam curiosamente o rasgo. Como era possível que tivesse curado tão rápido?

Sem pensar duas vezes os dedos gelados da ruiva repetiram o movimento que já havia feito há algum tempo sobre a ferida causada pela garrafa de vidro, seus dedos se arrastaram sobre a marca e Johnatan sentiu cada pelo do seu corpo se arrepiar com o ato. Suas mãos se apoiaram no ferro ao lado da cama, ele fechou os olhos por alguns segundos, controlando toda a força que queria sair de dentro dele.

— Dói? — A garota perguntou, pressionando a cicatriz.

Johnatan gemeu em resposta, não era aquele tipo de dor que o incomodava na ocasião. Ele nunca sentiu tanto desejo a vida inteira quanto sentiu naquele momento, ter o que ele queria tão perto sem poder realmente ser seu. Sua.

— Não faça isso. — Johnatan pediu e afastou os dedos da garota, sentindo a pele onde eles estavam queimar como o inferno. O inferno para onde ele deveria ir por ainda estar pensando daquela maneira, o fato era que a ideia da garota morrer perturbava cada célula do seu corpo como eletricidade. — Não vamos falar de mim quando é você que está numa cama de hospital.

Beatrice franziu as sobrancelhas em dúvida pelo salto que John havia dado no assunto e logo compreendeu que ele queria falar do que havia acontecido com ela durante o desaparecimento. Dias não queria, porque era triste e degradante.

— Julia e um grupo de garotas me prenderam em cadeiras de ferro dentro daquela cabana de madeira. Eu acho que se fosse apenas a Julia, talvez eu tivesse conseguido fazer algo, mas eram três garotas. — Beatrice falou frustrada enquanto encarava a própria comida, a verdade era que nem se fosse apenas Julia, ela não teria conseguido fazer nada. Porque se sentia fraca. — Eu queria muito sair.

A garota olhou para os próprios pulsos machucados pela corda e engoliu em seco. Julia havia passado dos limites, aquela brincadeira era agora um sequestro e uma tentativa de assassinato?

— Você derrubou as cadeiras em si mesma, certo? — Johnatan perguntou, voltando a se sentar no banco de couro do outro lado do quarto. Beatrice sofreu em silêncio com a distância entre eles.

— Sim, eu achei que funcionaria porque faria muito barulho.... — Beatrice quis estar com os dois ombros bons para levantar as mãos e cobrir o rosto, estava envergonhada em como aquilo soava estúpido.

John deu um suspiro frustrado.

— Você obviamente não pensou em como as cadeiras cairiam em cima de você e te esmagariam. — Müller murmurou e a ruiva sentiu a raiva dentro de seu organismo borbulhar. Ela sabia que era uma ideia idiota, mas fora a única que teve enquanto estava presa em uma barra de ferro.

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