Capítulo 6

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Assim que o sinal do intervalo bateu Beatrice deu um salto em sua cadeira, havia abaixado a cabeça por alguns segundos por conta da dor que sentia e dormira durante a aula inteira de história.

— Droga. — Ela balbuciou antes de encarar a lousa que continha apenas as páginas do livro e as explicações do que deveria ser feito na lição de casa.

— De nada, Dias. — A professora de História falou e Beatrice sorriu em seguida, logo a morena saiu pela sala de aula segurando uma pasta azul.

Beatrice saiu da sala logo em seguida, sentia que suas pernas estavam prestes a falhar. Ajeitou os óculos sobre o nariz e soltou um grito agudo quando foi empurrada em direção ao bebedouro de ferro.

— Aquele seu escândalo de ontem, me rendeu uma advertência. — Beatrice ouviu a voz da loira cuspir e sentiu o cheiro do seu gloss enjoativo. — Mas agora que não está com sua putinha do clube de boxe, quem vai te defender?

Beatrice respirou fundo, estava tão cansada que as palavras simplesmente saíram de sua boca, talvez porque Julia havia acabado de xingar sua melhor amiga. Aquela brincadeira infantil estava começando a ir longe demais.

— Você se sente melhor?

— O que? — A loira respondeu tentando entender o que a ruiva falava, nesse momento alguns curiosos já estavam em frente aos próprios armários observando a cena.

— Você se sente melhor consigo mesma depois de atacar as pessoas? — Beatrice não sabia de onde as palavras estavam vindo, mas elas estavam. — O que foi que aconteceu na sua vida que te deixou tão frustrada ao ponto de você precisar fazer o inferno da vida dos outros só pra sair um pouco do seu?

Nesse instante a loira encarou Dias como se ela fosse o próprio demônio, logo em seguida a raiva veio e ela segurou a cabeça da mais baixa, empurrando-a contra o bebedouro e ligando a água sobre sua cabeça.

— Lava sua boca pra falar de mim vagabunda. — Julia respondeu antes de se virar e sair como um furacão pelos corredores. Beatrice se arrependeu do que havia falado logo em seguida, agora muitas outras garotas tão baixas e tão desajeitadas quanto ela sofreriam o efeito do ódio do demônio de saltos altos.

Ela levantou a cabeça molhada e espremeu o cabelo antes de colocar os próprios livros no chão e fazer um coque alto. As brincadeiras de Julia eram algo leve no começo, como bilhetes no armário, montagens coladas nos banheiros, mas de repente tudo estava ficando sério demais.

Já era hora do intervalo e durante o dia inteiro ela não tinha tido nem ao menos um sinal de que John iria aparecer, estaria ela se iludindo na noite passada? John era realmente o cara inteligente escondido no meio de toda aquela roupa preta e tatuagens?

Do outro lado do refeitório, um grupo de amigos conversava, um loiro se sentindo muito mais envergonhado do que nunca. Não era a primeira vez que ele encarava Beatrice e era zoado pelos colegas por nunca ter tido a coragem de falar com a ruiva.

— Você sabe que nem é tão difícil, pare de fazer isso com você mesmo e vá lá falar com ela. —
 Um dos amigos, asiático, disse para Luciano enquanto lhe dava um abraço de lado. 

— E dizer o que? — O loiro perguntou, frustrado.

— Não sei, esbarra nela, sei lá. Você nunca vai saber se não tentar. — O moreno sorriu e Luciano concordou, se preparando para levantar e ir em direção à garota que agora estava sentada sozinha na mesa de sempre.

Pela primeira vez em muito tempo, Beatrice se sentiu sozinha. Talvez devesse ir pra outro lugar. Não conseguia parar de pensar que a sua amiga só havia sido suspensa porque ela não havia tido a coragem necessária para parar Julia. Rio não ia falar nada, mas sabia que era triste pra morena perder dias de aula e do clube de boxe, Rio amava aquele lugar.

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