Mansão Müller 5:00
Johnatan levantou cedo naquela manhã, assim como levantava todos os dias, deu um sorriso de alívio quando percebeu que ainda estava algemado à parede, se tivesse acordado na sala ou em um carro roubado saberia que estava ferrado.
Situações como acordar bêbado na rua eram normais no início, o demônio chegou a deslocar os dedos de John várias vezes após tomar o controle para fugir, Johnatan nunca conseguiu se lembrar do que fez naquelas noites tristes, as lembranças eram apenas flashes de cenas desconexas.
Ele caminhou até a cozinha, a sombra não havia acordado ainda, o que era bom. Ele havia mesmo quase tido uma overdose de comprimidos para dormir na noite passada.
O moreno encheu uma xícara de café e colocou leite, fez dois pães de forma com manteiga e os colocou na torradeira. O silêncio sem o ruído na sua cabeça era tão deliciosamente bom que ele sentiu um sorriso se abrir ainda maior em seu rosto quando a luz da madrugada — fornecida pelo horário — iluminou metade da mesa pelas janelas de vidro que davam para o jardim descuidado.
Permaneceu em silêncio durante todo o processo de comer o café da manhã, tinha medo de fazer qualquer movimento brusco ou barulho e acordar o monstro dentro dele.
Talvez os dias calmos estivessem voltando, depois do surto de raiva e ódio da semana. Lembrou-se rapidamente do dia sem ouvir quase nada do demônio dentro dele, estava com Beatrice no Fliperama.
"Talvez ele estivesse de divertindo também." — Johnatan pensou sorrindo mais e fechou os olhos, o corpo da ruiva dentro de sua cabeça, dançando em frente à um dos brinquedos e apontando para ele convencida. — "Ela ficou tão mais bonita sem os óculos, mas eu meio que sinto falta deles." — Ele sorriu, lembrando a mania que ela tinha de levantar a armação quando estava nervosa.
Ela era aquele tipo de pessoa que iluminava o lugar em que pisasse.
Johnatan sorriu mordendo os lábios e em seguida se levantando, andou até a pia e deixou a xícara de café no balcão. Decidiu não se martirizar por fazer ela chorar no penúltimo encontro deles.
John olhou no relógio de parede e percebeu que já eram 6:30 da manhã, o sol agora iluminava a cozinha com um brilho dourado.
Residência da família Dias
A ruiva acordou desesperada com o som do alarme e correu em direção ao banheiro, assim que se olhou no espelho fez uma careta, haviam olheiras debaixo dos seus olhos e seu cabelo parecia um ninho de galinha. Decidiu que não iria penteá-lo, ao invés disso fez um coque alto e voltou para o quarto.
Colocou a calça jeans folgada e o cinto, teve trabalho em passar por uma blusa preta curta e por cima vestiu um casaco leve cor de rosa.
Só quando encarou o corredor e viu tudo embaçado foi que a garota lembrou nervosa que teria que passar outro dia enxergando quase nada.
— Panquecas! — Marco gritou assim que viu a menina descendo correndo as escadas e por um milagre não tropeçando em um de seus sapatos sociais. — Cuidado menina.
— Não acredito que fez panquecas. — Bia sorriu se sentando sobre um banco que o pai havia arrastado para perto da bancada. Ela encarou o prato cheio de panquecas e morangos e sentiu água na boca quando seu pai derramou o mel sobre as massas. — Já disse que te amo hoje?
— Ainda não. — Marco deu uma risada e voltou sua atenção para o fogão, desligando o fogo debaixo da frigideira. — Você quer uma xícara de café? — Ele perguntou enquanto encarava Beatrice devorar as panquecas com um apetite voraz. Monstrinho lindo o que ele criara.
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Ruído
RomanceJohnatan escuta uma voz em sua cabeça, maligna, um demônio. Beatrice tem medo de quem derruba seus livros todos os dias. Duas vidas cheias de ruído, como uma televisão fora do ar. Talvez juntos eles finalmente sintonizem.