Já estávamos a dois dias na estrada, o silêncio que emanava entre nós era ensurdecedor, o olhar inquiridor do soldadinho de chumbo do Marcos me irritava até com sua respiração. Ele não me dirigia a palavra a não ser que fosse inevitável. Nesse momento estou tentando me concentrar em meu livro e ele me observa disfarçadamente.
- Não tem um livro para ler? - pergunto incomodada com o olhar do mesmo em mim.
- Não. - respondeu mais grosso que o normal.
- Então vá contar carneirinho e me deixe ler em paz, fica aí me observando como se eu fosse uma tela a ser vendida.
- Senhorita, eu não estou lhe observando, só estou pensando.
- Ah entendi e para o senhor pensar precisa ficar me olhando?
- Meu pensamento é sobre a senhorita, por isso lhe olhei. - espera aí gente para tudo, como assim pensamentos sobre mim?
- Posso saber o que sua mente pensa tanto sobre mim? - pergunto tomada de curiosidade.
Não deu tempo ele responder se pretendia responder fomos surpreendidos com um barulho e subitamente fui lançada pra cima de Jack.
- Está bem? - ele pergunta e sinto suas mãos me segurando então fico nervosa, nunca havia sido tocada na cintura por um homem. Ah Jesus que tanta provação que tenho que passar nessa viagem começo a orar mentalmente. - Senhorita Débora a senhorita se machucou? - sinto um aperto na cintura e acredito que ele está me sentando ao seu lado.
- E-eu estou bem, eu acho. - digo ainda de olhos fechados sentindo um formigamento onde suas mãos estavam e estranhamente eu havia gostado. - O que houve?
- Acredito que a roda tenha quebrado, essa parte da viagem é cheia de buracos. Tem certeza que não sente nada?
- Sim tenho obrigada.
- Eu vou descer e verificar fique aqui, não sei como está lá fora e não quero colocar a senhorita em risco. - ele diz me olhando como se analisasse meu estado, me fez lembrar que devo estar descabelada a essas alturas.
- Pode ir estou bem. - falei passando as mãos pelo cabelo para verificar meu estado. Não estava sendo legal isso, estou embaraçada numa estrada sozinha e me sentindo atraída por um desconhecido e que como se não bastasse ser um fiscal do Marcos é um total ogro batizado.
- Senhor que não atrase a nossa viagem, preciso me livrar desse embuste. - eu orava com os olhos fechados sentido uma leve dor de cabeça pela pancada. - Não me permita Senhor cair em tentação mas me dê a serenidade de ser uma serva fiel. - sigo terminando minha oração até que sinto uma mão tocar o meu braço e automaticamente penso: "Pai que ele não tenha ouvido minha oração por favor, estou frita assada e cozida Senhor se ele me ouviu orar".
- Senhorita por favor vai precisar descer. - ele falou com a voz grave e ao abrir os olhos vejo um leve sorriso no seu rosto, foi a primeira vez que o vi sorrir e Deus ele precisava ser tão lindo?
- O que foi o problema? - pergunto tentando me distrair e não olhar a beleza do mesmo.
- A roda como imaginei quebrou, nosso chofer está levemente machucado e precisamos ver onde pernoitar, não será apropriado ficar aqui na estrada. - ele fala olhando para meu rosto.
- Claro que não é apropriado. - não sei se eu falava de ficar na estrada a noite ou ficar olhando para ele.
- Venha lhe ajudo a descer. - Falou com a mão erguida para que eu segurasse e eu relatei, acho que estou mais carente que o costume e sinto que evitar esse homem seja o melhor para mim.
Desci da carruagem observando estar ainda longe de civilização. Fui acometida de medo e olhando na direção da única árvore perto vejo o nosso condutor aparentemente machucado.
- Ele se machucou muito? - pergunto a Jack que está cuidando em tirar nossas bagagens da traseira da carruagem.
- Alguns arranhões e uma contusão no joelho, está medicado ficará bem.
Acento para o belo homem com as mãos cheias de bagagem, cheguei perto para ajudar e ouvi:
- Não senhorita eu faço isso, não quero que chore se a unha quebrar. - vocês têm certeza que ele disse isso? Eu vou surtar com esse ogro filisteu.
- Por que me toma? - falo tentando manter a calma.
- Uma mocinha prepotente e mimada que vem pro fim do mundo e ainda me arrasta só para chamar atenção. - Ele cospe as palavras soltando as malas embaixo da árvore.
Não digo nada pois lembro que aqui sou Débora missionária, tenho que amar os meus inimigos. Pego minhas duas malas e começo a caminhar em direção à estrada.
- O que pensa estar fazendo? - Ele me alcança e pergunta segurando o meu braço.
Olho para o braço e depois para ele e trancando a cara digo.
- Seguindo meu caminho. Pelo que sei o senhor está sendo pago para estar aqui e não é por mim. Por favor use seu bom censo e me deixe em paz. Cuide do rapaz e das malas e soltando meu braço não me dirija a palavra.
- Ótimo agora um chilique. Ainda está longe e não aguentará, a senhorita vai no cavalo.
- Não vê que aquele homem com ali precisa muito mais que eu? - soltando as malas e passando a mão na testa suada.
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Deus é Deus
EspiritualLivro 11 Débora Moura uma jovem que não mede esforços para apregoar a palavra de Deus. Ainda jovem, foi escolhida pra uma missão de fé e coragem, destemida e acreditando no Deus que serve ela não duvida do que tem que fazer, assume o papel que Deus...