Entramos no bar e vi as mesas todas limpas um quadro com giz tapando a visão das bebidas no expositor e uma pequena estante para livros. Estava tudo tão organizado que por um instante pensei não se tratar de um bar e sim de uma sala de aula mesmo.
- Oh Jack é perfeito! - exclamei com a mão na boca. - Onde está o proprietário, preciso agradecer.
- Pode agradecer a mim senhorita. - ele diz com um leve sorriso. Ele precisava parar de sorrir urgente. - Fui eu quem fiz tudo isso.
- Obrigada, mas fez tudo isso só?
- Levou a noite inteira e um pedaço considerável da manhã. - nossa como agir agora? Me jogo no pescoço dele e lhe beijo? Acho que por meus pensamentos deveria ser queimada em praça pública.
- Obrigada, não tenho palavras. - ou melhor tenho, mas não posso usar. Resolvi dar as costas e começar a dobrar um jornal que estava aberto em cima de uma das mesas.
- Eu ouvi. - ele disse e eu não me virei fiquei só imóvel.
- Ouviu?
- Sim a sua oração na carruagem, pensei ser por que a senhorita era noiva, mas não tendo compromisso com ninguém não entendo a tentação qual seria. - ele diz e sinto que está bem atrás de mim, nunca que olharia para ele agora. Tinha que lembrar de nunca mais orar em voz alta. Meninas aprendam orar em voz alta pode causar danos a sua saúde mental.
- Um crente tem muita tentação, vivemos nos policiando para não pecar senhor Torton. - dou minha melhor desculpa esfarrapada, até porque eu e Deus sabe bem que ele é minha tentação.
- Se um dia eu estivesse na igreja, deixaria de ser uma tentação? - não ele não fez essa pergunta né? Está lendo pensamento só pode, Jesus apaga a luz que eu não vou responder isso.
- Senhor Torton, vou passar na mercearia e comprar algumas coisas para iniciar as aulas, com licença nos vemos no jantar e mais uma vez obrigada. - claro que ia sair pela tangente, não tinha cabimento eu dizer a ele isso Jack se converta e caso com você.
Saí apressada dali em direção a mercearia, não olhei para trás e também não consegui correr pois meu corpo todo estava trêmulo, como iria encarar Jack no jantar? Eu tinha que adoecer e tinha que ser rápido. Entrei na mercearia e não sabia o que queria porque na verdade não ia comprar nada, só queria fugir de encarar Jack.
- A senhorita é a nova professora? - um senhor bem simpático disse. - O xerife disse que eu separasse esse material aqui, não se preocupe está pago. - ele completa me entregando uma sacola. Assim fica difícil minha situação, o homem parece ser perfeito.
- Obrigada. Como se chama?
- Sou João senhorita Débora, é um prazer a senhorita estar disposta para educar nossos filhos, se precisar de algo pode falar.
- Obrigada sr João, tenha um bom dia. - será possível até meu nome ele disse e meu nome na boca dele fica tão mais bonito não acham?
Segui meu caminho de volta para o sítio e no caminho a todos que encontrava avisava da escola e que na próxima semana iria começar as aulas. Chegando no sítio todos estavam reunidos na cozinha e ficaram me interrogando sobre como foi e como vai ser, após responder todas as perguntas eu pedi licença e subi com a desculpa de estar um pouco indisposta e iria repousar um pouco.
Já no quarto fico repassando a cena mil vezes e não consigo pensar em um motivo para Jack ter tocado no assunto. Se ele ouviu deve estar me achando uma boba e isso não é legal.
- Atrapalho? - Claudia pergunta entrando no quarto e já sentando na cama.
- Não, esse é seu quarto esqueceu? - digo fingindo um sorriso.
- Sobre isso eu estou pensando em falar com você.
- Tudo bem se quiser posso passar para o quarto que o senhor Torton dormia. - digo pensando que ela queira privacidade.
- Não é isso sua boba. - ela diz me batendo com o travesseiro. - É que tem um ponto comercial fechado na cidade do lado esquerdo da mercearia, foi uma barbearia mas acredito que dá para adaptar e fazer uma lanchonete, estou pensando em alugar e ir morar lá, com 26 anos ainda morando com os pais não é muito legal.
- E?
- Será que não se interessa em ir morar lá comigo? Já fui olhar tem três quartos grandes e dois banheiros em cima com uma sala e cozinha.
- Claro que quero! - digo levantando e gritando.
- Vamos olhar amanhã então e ir fechar contrato?
- Claro que vamos, estou tão animada de poder ir para um lugar que eu não vá me sentir visita. - digo a abraçando.
- Agora vamos jantar que o xerife já está aí. - ela diz e meu semblante muda na hora. - O que foi? O que houve hoje na cidade entre vocês que você voltou assim?
- Ele me disse que ouviu uma oração que fiz na carruagem pensando estar só. - digo colocando as mãos no rosto. - Na oração eu pedia a Deus para afastar a tentação que era ele de mim.
- Não, você não fez isso fez? Minha nossa senhora das panelas amassadas! - ela diz levantando e andando de um lado para outro. - E agora o que você disse?
- Amiga como nova convertida não é bom ficar usando essas expressões pagãs entende? - a repreendi com amor. - Bom eu não fiz nada, disse que o crente no geral tem muitas tentações para pedir a Deus livramento. Mas aí ele perguntou se ele fosse evangélico se deixaria de ser uma tentação.
- Então foi por isso que ele perguntou os dias de culto. Ele está apaixonado amiga.
- Mas eu não quero me envolver numa paixão e deixar a minha missão de lado. Vim aqui por um propósito e vou até o fim.
- Deixe Deus trabalhar, vamos que Kadu também já deve ter chegado.
- Espera aí, ele também vai jantar aqui? Humm temos novidades não é?
- Nem fale, mais tarde te conto tudo, ou acha que é só você que tem coisa para contar?
Descemos animadas e na minha mente eu ficava repetindo a frase: é só ignorar, mil vezes na tentativa de que fizesse efeito. Não o olhei nos olhos, na hora faltou coragem apenas sentei e pus a me servir, tendo cumprimentado os irmãos presentes.
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Deus é Deus
SpiritüelLivro 11 Débora Moura uma jovem que não mede esforços para apregoar a palavra de Deus. Ainda jovem, foi escolhida pra uma missão de fé e coragem, destemida e acreditando no Deus que serve ela não duvida do que tem que fazer, assume o papel que Deus...