[01] you belong to the stars in the clouds

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//JIMIN

Mamãe costumava dizer que a vida é para os mais espertos. Durante os meus vinte e três anos, acreditei fortemente nisso. Hoje, olhando para a foto enorme do meu noivo falecido na sala de jantar da casa de seus pais, eu me dei conta de que a vida é para os distraídos. Alego isso porque se você parar para ver o mundo como ele realmente é, você sucumbe.

Talvez eu quase tivesse sucumbido ao receber a ligação do hospital alegando que Kim Taehyung – o amor da minha vida – havia sofrido um acidente de carro e não resistiu aos ferimentos graves na cabeça. Como ele pôde me deixar faltando apenas quatro dias para o nosso casamento? Como ele pôde partir depois de compartilhar comigo os melhores quatro anos de namoro?

As circunstâncias se tornavam ainda mais nebulosas quando eu vi todos os detalhes da cerimonia que planejamos juntos sendo escondidos pelos melhores amigos de Tae: Namjoon, Seokjin e Hoseok. Sei que a intenção genuína deles foi amenizar a minha dor, contudo, não é como se eu pudesse esquecer só por não ver as amostras de bolo na geladeira, os tecidos das mesas dos convidados em cima do armário na cozinha ou o terno azul claro que Taehyung insistiu em querer usar, entocado no guarda roupa de sua mãe.

Como ele pôde me deixar sozinho com todas essas pessoas? Tae sempre soube que odeio multidões. Eu também odeio conjunto de roupas pretas. Agora, entretanto, estou vestido dos pés à cabeça de preto e sem saber o que fazer ou dizer diante de todos esses abraços. Eu saberia se ele estivesse aqui. Provavelmente fazendo seus parentes chatos pararem de contar histórias vazias sobre o que pensavam conhecer a seu respeito.

Ele também me afastaria de sua tia tarada que afagava meus braços inúmeras vezes em um consolo fingido. Como ele pôde me deixar justo com a velha tarada? Não sei lidar com suas mãos intrusas querendo sentir meus músculos recém inchados da academia que inclusive o próprio Taehyung me estimulou a fazer.

– Jimin? – Ouvi a voz do meu melhor amigo me chamar. Yoongi usou um tom de voz baixo. Muito mais baixo que o normal e logo deduzi que ele estava preocupado com meu estado de espirito. – Trouxe um café para você.

Que timing perfeito. A presença dele afastou completamente a velha tarada de meus braços. Quando ela estava suficientemente longe, ainda fazendo uma carranca a contragosto para meu amigo que não perceberá nada, respondi:

– Eu estou sem fome, Min.

Ele suspirou alto.

– É só um café. Você não come nada desde...desde – Yoongi coçou a cabeça, tentando escolher as palavras.  – Desde hoje de manhã.

E eu sei que na verdade ele se esforçou para não dizer: desde o enterro de Taehyung. Um grande bolo se formou em minha garganta. Não era o momento para chorar, de novo.

– Tudo bem. – Cedi, pegando o copo fumegante de papel e dei um gole rápido em busca de algum alívio. – Posso ir para sua casa depois?

– Claro. Ela ainda é nossa casa, Jimin.

Sorri fraco.

Morar com Yoongi foi realmente uma experiência gratificante. Somos amigos desde que me entendo por gente e quando decidimos entrar para a faculdade, a primeira coisa que fizemos foi juntar o pouco dinheiro que tínhamos para alugar um apartamento. Entretanto, depois que eu e Taehyung ficamos noivos, dar privacidade para Yoongi tornou-se prioridade. Rápido demais, tomamos a decisão de ter nossa própria casa e assim permanecemos há exatos um ano e meio.

Até é claro, o acidente.

A última coisa que eu queria nesse momento era voltar para nossa casa. Cheia de coisas dele. Cheia de coisas que me torturariam infinitamente. Meus olhos de águia correriam famintos para cada detalhe dos últimos segundos em que ele esteve lá e você sabe, a saudade é amiga das lembranças boas que automaticamente te ressecam por dentro.

What he didn't tell me • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora