//JIMIN
Acordei às seis da manhã. Seis da manhã de um sábado. A sensação vazia no peito se ampliava ao constatar que nem os três travesseiros davam conta da devastação que era tentar dormir e despertar sem Taehyung. Já passavam das onze da manhã quando meus amigos vieram me buscar para auxiliar na mudança e eu queria que tudo fosse tranquilo. No ápice da minha áurea depressiva, vesti uma das camisas da série favorita de Tae – Breaking Bad – e recusei-me a doa-la, ainda tinha seu cheiro de perfume almiscarado.
Pensar na minha pele roçando o tecido onde a dele tinha estado me transportou para lembranças bonitas de nós dois. Não só de nós dois enquanto casal, mas aspectos de sua personalidade que eu amava com todas as minhas forças. Como ele gostava de se dar bem com as pessoas ao seu redor, seu espirito livre, o jeito com crianças, como se perdia fácil nos próprios pensamentos, suas caretas e o feitio fofo do sorriso quadrado. Eu jamais me permitiria esquece-lo.
Apesar de querer que tudo fosse tranquilo, eu sabia que há muito tempo não sentia o gosto de uma vida serena. Então, eu lutei para tentar me confortar em pensar que somos humanos, finitos e nunca teremos a plena tranquilidade numa sociedade a mil. Sempre que eu olhava para esse grupo de amigos que Taehyung me trouxe, me sentia grato e merecedor. Durante esses quatro anos, ouvimos e questionamos uns aos outros, passamos por transformações, nos tornamos melhores e mais sábios. Eu os merecia porque talvez esse seja o grande presente de Taehyung para mim.
Carregar móveis com eles, caixas e presentes de casamento para o fundo do caminhão que Namjoon arranjou de graça, tornou toda a tarefa menos dolorosa. A mudança ia muito além do que simplesmente transportar coisas. Denotava mais um dos infernos que eu cruzava por dentro, do meu cantinho sombrio, dos monstros de insegurança que me sustentavam.
No entanto, essas pessoas me davam motivos para me despedir dos demônios e ficar em paz comigo mesmo. Eu amava vê-los se esforçando por mim, compartilhando o mesmo sentimento elementar: o amor ao reconhecerem a camisa de Taehyung, o amor por ele, o amor até mesmo pela minha cafeteira que Seokjin queria roubar. Amor por sermos muito nas pequenas coisas e não faltar absolutamente nada.
Jeon felizmente não tinha dado as caras e fiquei genuinamente aliviado por encontrar a casa sem hospedes inesperados. Era difícil separar a repulsa do acaso, sei que Jeon não teve culpa pelo acidente – mesmo detestando-o – mas não conseguia esquecer que Taehyung perdeu a vida indo visitar alguém tão desprezível. Diferente de mim, Jeon não parecia perceber ou tampouco se importar com o quão sortudo era por ter amigos tão especiais.
– Ei Chim, você já cancelou a lua de mel? – Seokjin colocou uma caixa minúscula com capsulas de café no balcão da cozinha de Yoongi e seus olhos divertidos fitaram atentamente meu rosto.
– O quê? – Questionei, distraído demais para decifrar onde ele queria chegar com aquela pergunta.
– Você ainda vai? – Ele insistiu, o que fez Namjoon parar a caricia leve que fazia na coxa de Jisoo, repentinamente volvendo sua atenção para nós.
Eu estava muito focado em achar espaço para todas as caixas para lhes dar a devida atenção. – Sozinho? Para o Havaí?
– Jimin não precisa disso agora, Seokjin. – Jisoo alertou num dos bancos altos da ilha da cozinha, então passou os braços em volta do pescoço de Namjoon e beijou seu ombro.
Seokjin intercalou seu olhar da irmã mais nova de Taehyung para Namjoon, desviando-o rapidamente com um bico desconfortável.
– Sozinho não. Você precisa ir com um amigo. – Ele esclareceu e eu saquei suas intenções interesseiras. – Quero dizer, um bom amigo.
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What he didn't tell me • jikook
FanfictionApós a morte repentina de seu noivo Taehyung, a vida de Park Jimin mudou por completo. Encontrando conforto na companhia das pessoas que ama, Jimin não esperava que seu caminho fosse cruzado novamente pelo melhor amigo de seu noivo: o arrogante e de...