Capítulo 11 - O desespero nos leva a agir irracionalmente.

5.1K 64 9
                                    


Dois meses se passariam desde que eu saí do hospital e em uma sexta-feira a mãe de Tess nos levou para dar uma volta. Nós fomos a uma cafeteria bem próxima a casa da vovó, onde nos sentamos para conversar um pouco e tomar um milk shake. De repente, ao olhar para trás, vi Layla que me olhou friamente; ela se aproximou e com um tom arrogante mandou que Danielle e Tess levantassem porque tinha algo a me dizer. Danielle se recusou e afirmou que eu estava sob sua responsabilidade.

Naquele momento eu criei coragem e decidi ouvir tudo o que ela falaria, ainda mantinha uma pequena esperança de obter pelo menos seu perdão. Então pedi que Danielle nos desse um minuto a sós. Layla sentou-se e ficamos frente a frente, o que não imaginei foi seu objetivo: ser ainda mais cruel e me ferir o máximo que ela pudesse. Toda mágoa e rancor que Layla armazenou vieram à tona. Ela mostrou seus sentimentos por mim ao declarar:

_ Eu nunca te quis. Teria sido melhor se quem tivesse morrido fosse você e não meu filho. Você é a única responsável pela morte de Phillip e vai ter que carregar essa culpa para o resto da sua vida. Este vai ser seu castigo, eu te abomino.

O desprezo e o ressentimento que ela guardou foram literalmente jorrados para fora. Comecei a chorar, me senti tão rejeitada.

Todos aqueles pensamentos suicidas retornaram à minha mente, e foi nessa hora que eu corri desesperadamente a princípio, sem rumo, enquanto as recordações mais desoladoras pareciam lembranças vivas me perseguindo. Voltei para a casa da vovó e quando cheguei me tranquei no banheiro. Peguei um frasco de perfume e arremessei no espelho que se quebrou para tentar aplacar minha fúria.

Depois de alguns minutos aos prantos e encolhida em um canto, eu decidi que dessa vez não poderia cometer outro erro, tinha que ser o fim. Não estava com raiva da Layla, mas de mim; então peguei um pedaço de vidro do chão e comecei a cortar um dos pulsos. Danielle ligou para o celular da minha avó e contou sobre o encontro.

Amélia, que estava em seu escritório de advocacia, ligou para casa implorando que Marcus e vovô me procurassem. Meu irmão entrou no meu quarto, percebeu que a porta do banheiro estava trancada e começou a bater desesperadamente.

_ Sophia, sou eu, por favor, abra! Eu imploro! Não faça nada que vá se arrepender depois. Sophia, você pode me ouvir? Sophia!

Mas continuei cortando meu pulso esquerdo. Um minuto depois, eles arrombaram a porta e eu já estava começando a cortar o outro; o vidro se encontrava sobre a metade do meu braço direito. Recordo-me vagamente do sangue, de estar sentada no chão e gritar:

_ Vão embora! Eu quero ficar aqui! Deixem-me em paz, não quero mais viver! Eu não posso sentir mais dor, só quero descansar!

Enquanto me debatia, eles tentaram amarrar um pano e estancar o sangramento. Vovô não quis perder tempo esperando a ambulância, ele me colocou no carro e levou às pressas para o hospital.

Chegando lá, o médico enfatizou que eu tive sorte, pois eles agiram corretamente ao comprimir o ferimento. Se o atendimento demorasse mais quinze minutos, seria difícil controlar uma hemorragia e eu poderia ter morrido. Ele também explicou:

_ Por diversas vezes, a depressão leva o paciente a se perguntar: vale a pena viver? Quem luta contra a depressão e enfrenta essa desordem regularmente não pode simplesmente se livrar dela, como algumas pessoas supõem sem ajuda. Isso ocorre porque muitos que passam por tal transtorno relatam não sentir nada, como se seus corpos e mentes estivessem vazios. Esta é uma das razões pelas quais as pessoas tentam o suicídio ou se automutilam, elas querem sentir a dor física. É uma doença grave, que geralmente requer uma combinação de medicação e aconselhamento. 

Destinada a brilhar ( Português ) #wattys2019Onde histórias criam vida. Descubra agora