Capítulo 8 - Palavras dolorosas.

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Assim que saímos do hospital, vovó arrumou o quarto de hóspedes para que tentássemos descansar. No entanto, não consegui dormir à noite, um filme ficava passando pela minha cabeça me atormentando. É realmente uma grande ironia, porque quando nós cometemos um erro, pensamos nas possibilidades. Por exemplo: O que aconteceria se eu não tivesse ido ao parque? Se eu tivesse ido visitar a Tess naquela tarde? Se eu tivesse olhado antes de atravessar a rua? Se nós não estivéssemos brincando com uma bola idiota? Infelizmente, o passado não é algo que possa ser alterado. Nossas ações podem ter graves consequências e aprendi isso da maneira mais difícil.

Aquela noite foi a mais longa que eu já vivi cercada de pesadelos, calafrios e uma sensação de vazio que tomaram conta de mim. Na manhã seguinte, fomos bem cedo ao velório. Ao me ver a reação de Layla foi terrível, ela me deu uma bofetada e gritou:

_ Você matou meu filho. Ele está morto por sua causa. Eu não quero olhar para você. Sai daqui!

Então, me retirei de lá correndo e tudo o que eu desejava era que aquela dor parasse. Marcus foi atrás de mim e me abraçou, enfatizando:

_ Eu nunca vou te abandonar! Pode contar comigo sempre. Vai ficar tudo bem, ela só precisa de um tempo.

Não tive a oportunidade de me despedir do meu irmão. Não fui ao funeral e nem o vi sendo enterrado, Layla não me queria por perto. Mais tarde, descobri que pela manhã, bem antes de chagarmos, um policial esteve em minha casa e contou a Christopher que o motorista não era culpado pelo acidente porque uma garotinha loira atravessou a rua sem olhar, e ele tentou frear o carro sem sucesso. Layla ouviu a conversa e ficou furiosa, inclusive com meu pai por ter escondido o que realmente aconteceu.

Perdoar-me não era uma opção e como culpá-la, se nem mesmo eu não conseguia me perdoar. Naquela tarde, papai ligou e pediu que eu fosse paciente porque minha mãe estava sofrendo demais. Ele disse que uma hora ou outra ela perceberia que tudo se tratou de um terrível acidente. Sarah também ficou indignada comigo ao saber dos eventos que levaram à morte do meu irmão e decidiu apoiar as decisões de Layla.

Fiquei por duas semanas com Amélia até as coisas se acalmarem, na esperança de Layla voltar a si. Então vovó achou que era hora de eu retornar, mal sabíamos que no momento em que nós a encontrássemos, entraríamos em rota de colisão com sua fúria.

Assim que eu entrei em casa, ela apareceu e sua expressão me deixou assustada. Layla me encarou enquanto respirava ofegante, não posso negar que tive medo. Em sua mão direita ela carregava uma fotografia de Phillip, parecendo estar sem dormir a dias, e totalmente sem controle apertou meu braço com força. Imediatamente Layla me questionou:

_ O que você está fazendo aqui? Não acha que já causou danos suficientes a essa família? Eu não quero você aqui. Vá embora!

Meu pai chegou e interveio rapidamente:

_ Layla, solte-a agora! Vamos conversar em particular.

Ela o acompanhou e ele fechou a porta do escritório, mas ainda dava para ouvir os gritos dela. Christopher até tentou argumentar:

_ Layla, por favor, ela é nossa filha e não teve culpa foi um acidente. Nós não podemos abandoná-la!

E então, ela se opôs:

_ Meu filho está morto e Sophia é a culpada. Você escolhe: ou se livra dela, ou eu vou embora. Coloque-a em um colégio interno ou mande-a para qualquer lugar, desde que eu não tenha mais que vê-la.

Indignado, meu pai a questionou:

_ Você não pode estar falando sério, Layla?

No entanto, nada adiantou ela se mostrou irredutível e decidida a me ver longe. Eu sabia que ela não estava bem e tentei dizer isso a mim mesma, assim como sabia que não tinha o direito de separá-la do meu pai; Layla precisava dele mais do que nunca. Quando ele veio falar comigo, sua expressão demonstrava tristeza ao enfatizar:

_ Eu sinto muito querida, mas você vai ter que ficar um pouco mais com sua avó, pelo menos até que sua mãe se acalme e recobre a razão. Não se preocupe, só precisamos dar mais tempo a ela e ter paciência, perder seu irmão foi um golpe devastador. 

Destinada a brilhar ( Português ) #wattys2019Onde histórias criam vida. Descubra agora