Nos finais de semana ou à tarde, costumávamos ir os quatro para o parque que ficava a um quarteirão da nossa casa com minha babá Pauline e Augustine, avó da Tess. Nós brincávamos e tomávamos sorvete, era o final perfeito após um longo dia. Quando fecho os olhos e me concentro, ainda posso ver os sorrisos e ouvir as risadas.
O que talvez ninguém imaginasse era que uma tarde de domingo deixaria marcas profundas. Eu tinha onze anos, meus irmãos treze e como Tess estava resfriada, ela não pode ir ao parque conosco. Parecia ser um dia como outro qualquer de primavera: o sol se encontrava encoberto pelas nuvens, as árvores estavam verdes, as flores desabrochavam magnificamente em cores vibrantes e os pássaros cantavam. Mesmo assim, o ar permanecia pesado ou talvez fosse apenas uma sensação ruim, por isso eu não dei a menor importância. Mais tarde, me daria conta que na verdade era um pressentimento do que viria a acontecer.
Em meio a esse cenário, nós brincávamos com uma bola, quando ela rolou para perto da calçada e caiu na rua. Foi nesse momento que corri atrás dela e me abaixei para pegá-la, sem prestar a menor atenção. Eu levantei e percebi que um carro vinha em minha direção. Ele estava tão próximo que fiquei paralisada de medo, então eu fechei os olhos e ouvi Phillip gritar meu nome bem alto. Logo em seguida, ele me empurrou para o lado e o carro o atingiu.
Como se pode imaginar, os instantes seguintes foram desesperadores. Ao vê-lo ali no chão, uma tontura e uma sensação de desmaio se abateu sobre mim. Pauline ligava para a emergência, enquanto Phillip estava desacordado e rodeado por pessoas. Marcus me abraçava e tentava me acalmar, cerca de poucos minutos depois a ambulância chegou e o socorreu. Nós entramos em um táxi e fomos até o hospital, Pauline avisou ao meu pai o que aconteceu imediatamente pelo celular.
Assim que chegamos, o médico disse que o estado dele era grave, mas Phillip estava consciente e desejava nos ver. Marcus entrou primeiro no quarto e eles conversaram brevemente, quando eu o vi deitado não consegui parar de chorar. Ao me aproximar da cama, ele sorriu e disse que estava feliz por eu não ter sofrido nenhum ferimento. Phillip nos fez prometer que Marcus e eu cuidaríamos um do outro, não importava o que acontecesse nos manteríamos unidos. Tudo o que consegui dizer foi: eu prometo e me perdoe. Então ele expressou suas últimas palavras:
_ Ser seu irmão acabou sendo meu maior presente, eu amo você. Nunca deixe de acreditar nos seus sonhos, eles nos mantêm vivos e esperançosos. Prometa-me que você não vai perder a fé em si mesma.
Na hora, eu estava com tanto medo de perdê-lo que prometi. Não queria que ele se esforçasse, ou ficasse cansado, e o que me pedia não era nada de mais. Em seguida, Phillip me lançou um olhar como se soubesse que sua vida estava perto do fim; logo os batimentos dele foram ficando mais lentos e caíram. Seu coração teve uma parada cardíaca e os médicos tentaram reanimá-lo, mas sem sucesso. Eles não conseguiram trazê-lo de volta.
Layla e Christopher chegaram alguns minutos depois. Ela ficou tão desesperada e inconformada ao receber a notícia do médico que começou a gritar:
_ Meu filho não! Eu quero meu filho! Traga-o de volta.
Ela teve um colapso nervoso e o médico lhe deu um sedativo, que a fez adormecer. Meu pai não sabia o que nos falar ou fazer, estava completamente sem reação. Quando ele voltou a si, quis esclarecer os fatos e compreendê-los por meio de Pauline. Depois de ouvi-la, Christopher tomou uma decisão:
_Por favor, Pauline, não comente com mais ninguém o que acabou de me falar. Neste momento, Layla está abalada emocionalmente e não conseguiria lidar com isso.
Ela prontamente respondeu:
_ Não se preocupe senhor eu entendo a gravidade da situação. Pode contar com minha discrição.
Ouvi essa conversa sentada em uma poltrona ali mesmo na sala de espera. Papai conversou comigo em seguida e tentou me consolar dizendo:
_ Phillip amava você e queria protegê-la, esse acidente não foi sua responsabilidade. Não se culpe Sophia, às vezes coisas ruins acontecem com pessoas boas; nem sempre nós podemos aceitar isso ou encontrar uma explicação. Somos uma família e ficaremos juntos em meio a esta terrível tempestade.
Demos um forte e longo abraço, mas não me contive e debulhei-me em lágrimas. Ele não aguentou e chorou também. Marcus se juntou a nós e por alguns minutos ficamos os três unidos naquele abraço silencioso. Quando meus avós chegaram ao hospital, ficaram perplexos com a notícia. Ninguém queria acreditar que fosse verdade, parecia uma grande mentira. Christopher então pediu à minha avó Amélia:
_ Por favor, leve-os para sua casa enquanto eu cuido de Layla e dos procedimentos legais para o funeral. Não quero que eles fiquem aqui por mais tempo.
Papai tentava manter-se firme por nós e não quis contrariá-lo, no fundo ele desmoronava. Todos estavam inconsoláveis e eu fiquei tão atordoada que não conseguia falar. As palavras simplesmente não saíam, eu tinha perdido a voz, era como se estivesse em choque. Marcus segurou a minha mão e afirmou:
_ Vamos passar por tempos difíceis e precisamos ficar mais unidos do que nunca. Eu sempre vou estar aqui ao seu lado.
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Destinada a brilhar ( Português ) #wattys2019
RomanceEste livro vai expandir seus horizontes com lições preciosas sobre amor, perda e amadurecimento. Ele também nos mostrará que "família é base de tudo". Nossa protagonista em meio à tristeza decide se dar mais uma chance e acaba descobrindo o...