Destinada a brilhar ( Português ) #wattys2019

Capítulo 14 - Blanche Beaumont.

Alguns dias depois, quando chegou à segunda-feira, levantei da cama bem cedo, me arrumei e tomei o café da manhã. Apesar de não demonstrar Marcus também estava inquieto e se não fosse um colégio para meninas, tenho certeza que ele gostaria de lá estudar, ou melhor, me espionar.

Assim que vovó e eu fomos para o Instituto Blanche Beaumont, toda a ansiedade e o nervosismo que sentia vieram à tona, só não foi pior, porque pelo menos sabia que Tess estaria lá.

Ao entrarmos não pude deixar de ficar extasiada com a beleza do lugar, o cenário chamava a atenção pela natureza exuberante e por suas imponentes construções. Blanche Beaumont não era apenas uma escola particular tradicionalista para meninas, ela abrangia com excelência dois dos três níveis da educação francesa: o Colégio (correspondente aos quatro anos do ensino fundamental) e o Liceu (parecido com o ensino médio). Nós também tínhamos aula em tempo integral, exceto às quartas-feiras quando estudávamos meio período.

Tudo ao redor da instituição fascinava e dava asas à imaginação. A propriedade era composta por um gigantesco e magnífico prédio centenário que abrigava: a diretoria, as salas de aula, a cozinha, o refeitório e um pequeno teatro para apresentações musicais e teatrais. No segundo edifício à direita ficava a biblioteca. Havia ainda um terceiro bloco onde se localizava um ginásio coberto, que usávamos regularmente nas aulas de educação física.

Nós fomos recepcionadas por Céline Ménard, responsável pela supervisão da escola, o que parecia evidente, levando em consideração sua postura. Ela nos mostrou o lugar que tinha muitas árvores, flores, uma bela fonte, diversos bancos espalhados ao ar livre e um campinho onde se praticavam algumas atividades. Os esportes mais populares entre as garotas, segundo ela, eram o handebol, o futebol e a natação.

Ao término do passeio, a diretora Elise Beaumont Girard, dona e neta dos fundadores do colégio, apresentou-se prontamente destacando:

_ É um prazer conhecê-las. Eu gostei muito do histórico escolar da sua neta, ela apresenta ótimos resultados. Espero que você continue mantendo ou até melhore este nível aqui, Sophia!

Como estava com pressa, acabei sendo indelicada ao interrompê-la e perguntar:

_ Se não houver inconveniente, eu poderia ir para minha sala?

_ Sophia? Nós estamos conversando!

_ Tudo bem, ela só está ansiosa! Em breve você vai conhecer sua turma.

Se tivesse que fazer uma lista, os exames certamente seriam minha menor preocupação. Bem, quase meia hora depois de ficar na expectativa fui direcionada para minha futura sala, entrei, e lá estava Tess que esboçou um de seus raros sorrisos quando me viu. Mesmo ela sendo um ano mais velha em relação a mim, nós estudaríamos na mesma turma, já que eu estava adiantada. A diretora apresentou-me a professora de história, a senhorita Jeanne e as minhas colegas. Então me sentei perto de Tess, uma vez que havia uma carteira vazia na primeira fileira do canto bem ao lado dela; o que fez com que eu respirasse aliviada.

Tudo aquilo se mostrou relativamente novo para mim, o ambiente era totalmente diferente do balé e da minha última escola. As meninas pareciam ser mais unidas e acolhedoras. Assim que fomos para o intervalo, Tess me apresentou sem tantas formalidades à Christina e Ariane, as colegas com quem tinha mais afinidade.

Depois de nos cumprimentarmos, elas me recepcionaram de formas distintas. Christina demonstrava ser espontânea e bem-humorada. Se ela estivesse por perto, era impossível não sermos notadas; ao me conhecer foi gentil e atenciosa. Enquanto Ariane se mostrou um pouco mais fechada, eu precisei conquistar sua confiança com o passar dos dias. O que mais me chamava atenção em sua fisionomia era o estilo garota rebelde que ela deixava transparecer.

Em nossa aula seguinte, a professora de gramática realizou uma dinâmica para que todas pudessem se conhecer melhor. Devo dizer que foi muito divertido, fomos até o jardim e fizemos um círculo onde jogávamos uma bola. Quem arremessava a bola podia realizar uma pergunta para quem a recebia. Por ser uma das poucas novatas na turma, boa parte das questões foram feitas para mim. Ainda bem que eram coisas simples como: minha idade, onde estudei antes e o que eu gostava de fazer no meu tempo livre; nada que me deixasse desconfortável.

Foi uma questão de minutos para perceber que Victória, nossa professora de gramática, utiliza métodos variados e nada convencionais de ensino para que todas pudessem interagir. Como ela gostava de diversificar a aula, suas atividades fugiam da rotina, sempre com o objetivo de enriquecer o vocabulário e fortalecer nosso relacionamento.

À medida que os dias se passaram, percebi que um dos lemas de Blanche Beaumont era claramente praticado: "trate suas companheiras com respeito e cordialidade".

Seguindo o exemplo da minha matrícula, vovó decidiu colocar Marcus em um novo colégio, assim ele também conviveria com outros garotos de sua idade. Meu irmão não ficou contente com a ideia, mas era inevitável. Com o tempo, eu vi certo entusiasmo de sua parte, uma vez que ele tinha feito um amigo chamado Liam.

O hobby deles era jogar futebol toda terça e sexta-feira no período da tarde, posterior as aulas. E, os dois ainda iam a vários treinos juntamente com Sebastian, o irmão do Liam. Como eles mostraram dedicação, o treinador convidou-os para se juntar ao time e mesmo sendo um ano mais novo que o restante dos garotos, Sebastian provou ser o mais habilidoso.