A força do desejo

RESPONSABILIDADE

                                                                                              LISA

Caramba, que dor de cabeça mais chata! 

O sol já está nascendo e eu não consegui dormir nada. São tantas preocupações que meu cérebro não consegue descansar. Mamãe me faz tanta falta! Eu era tão feliz, despreocupada e jovem e agora que ela se foi, tudo isso se foi com ela e o papai. Num dia eu era apenas a filha mais velha de um casal feliz e consequentemente muito feliz também, no outro, me tornei responsável pela minha irmã cinco anos mais nova que eu. Por ela, eu vivo e morro e o que estiver ao meu alcance para vê-la sempre feliz eu faço. Daqui alguns meses será o seu aniversário de dezoito anos e eu queria poder lhe dar uma festa, mas do jeito que as coisas estão indo se eu tiver grana para fazer apenas um bolo será muito. Eu que precisava me preocupar apenas com a minha faculdade, hoje corro atrás de trabalho para não faltar o que comer para minha irmã e eu. Nunca fomos ricas, mas quando nossos pais estavam vivos, eles não nos deixavam preocupar com nada além de nossos estudos. Luna está no último ano do colegial e se preparando para a prova que a levará para a faculdade, mas temo que ela não consiga alcançar os pontos necessários, pois seu namorado exige muito de sua atenção e isso me tira do sério. O garoto não larga do seu pé e por diversas vezes quando cheguei em casa eles estavam trancados no quarto invés dela está estudando. Thomas é filhinho de papai e estuda em uma ótima faculdade particular, a mais cara da região, já a Lua, apelido que coloquei em minha irmãzinha assim que a vi pela primeira vez, estuda em escola pública e desde que os nossos pais morreram não leva nada mais a sério. Nós nos amamos muito, mas sempre que cobro dela mais responsabilidade ela adora dizer que não sou sua mãe. Eu que estava cursando letras, pois meu sonho é ser professora, tive que abandonar a faculdade para trabalhar, pois o aluguel da nossa humilde casa vive atrasado. Este é um dos motivos de eu não ter conseguido dormir, preciso urgentemente arrumar um novo emprego, pois o que eu tinha na lanchonete da esquina perdi ontem quando o idiota do meu namorado foi lá me buscar e ao ver um cliente dizendo que meus cabelos loiros e meus olhos azuis são lindos o quebrou o nariz. Eduardo é adorável, mas seu ciúme às vezes me incomoda muito. Ele é bem bonito e as garotas vivem o rodeando, mas ao contrario dele, eu nunca dei uma crise de ciúmes e acho que nunca darei, eu não sou dessas. O nosso namoro começou há quase dois anos quando nos conhecemos na faculdade e tudo foi muito bom até meus pais falecerem em um acidente de carro. Eu estava fazendo uma prova quando recebi a notícia que minha irmã estava em um hospital e ao chegar lá fiquei sabendo que ela foi à única sobrevivente e eu precisava enterrar meus pais. Lua precisou de ajuda psicológica para conseguir falar sobre o ocorrido e quando contou que era a única que estava de cinto de segurança chorava tanto que eu pedi para ela não falar mais, mas a psicóloga disse que ela precisava colocar para fora. Com muito custo e muita dor ela disse que nossos pais brigavam muito e cada um gritava mais que o outro por conta de dívidas e estavam até falando em separação quando, ela não sabe dizer direito, uma caminhonete bateu de frente ao pequeno carro deles, o carro que eles estavam indo vender para ver se conseguiam colocar as dívidas em dia. Esse dia horrível aconteceu a menos de um ano e até hoje não consegui um emprego decente para eu poder voltar a estudar. O sonho dos meus pais além de ver as filhas formadas era comprar uma casa para não ter que pagar aluguel, mas infelizmente nunca conseguiram juntar muita grana, porque papai era viciado em jogos de azar e sonhava ganhar uma bolada dos céus. O sol começa a clarear meu quarto, me levanto e vou para o chuveiro, depois vou para a cozinha e preparo ovos mexidos e café. A porta do quarto da Lua está trancado e não gosto nem um pouco de imaginar o porquê. Bato e a chamo, ela não responde, então bato mais forte e grito:

– Thomas, abre logo a droga dessa porta ou vou chamar a policia! Você sabe muito bem a encrenca que isso pode dar, já que você tem vinte anos e minha irmã ainda é uma adolescente! Uma adolescente irresponsável e mimada, não é Luna?! – grito mais alto e Lua abre a porta e me olha daquele jeito que odeio.