Confluência de rios

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Primavera

Em poucos momentos é possível refletir sobre a vida, sobre as suas atitudes e o rumo que as coisas estão tomando. Algumas pessoas costumam ter uma mania horrível de ''empurrar o mal com a barriga'', elas se acomodam com situações ruins e vivem assim, ou melhor, sobrevivem. Dizem que quando se tem algo bom, melhor ainda é ter alguém com quem dividir, mesmo sejam as suas situações ruins de cada dia, coisas que te incomodam e te deixam triste. Mas quando se tem alguém com quem partilhar, a vida se torna melhor, vivível.

Stella

Depois daquela desventurada noite, e ainda que eu e meu pai tenhamos conversado, acabei ficando de castigo. Seis meses de castigo e também de amizade com o Lucas. O inverno e a primavera inteira. Provavelmente as pessoas nem comemoram isso, mas é impossível não me lembrar.

Estamos ainda mais próximos, conhecer o Lucas foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo. Eu vivia no meu mundinho, com fantasias, tudo tão planejado, uma rotina meticulosa, nada surpreendente. Era apenas eu e o meu pai, com participações do Juan e algumas amigas, como a Cat. Ela é o tipo de amiga que não importa o tempo ou o que você faça, ela está sempre do seu lado.

No começo, quando contei do Lucas para Cat, ela ficou apreensiva, preocupada comigo e com o que podia acontecer. Entretanto, depois de todo esse tempo ela está feliz por mim. Sendo uma das minhas amigas mais antigas e mais importantes. Felizmente ou não, eu tenho inúmeros casos de amigas em relacionamento sério.

Normalmente elas tendem a se afastar, ou talvez seja eu que me afaste delas, de coisas sérias, de romances, da felicidade, como se ser feliz me deixasse triste. Falei isso com o Lucas uma vez. Bobagem, foi o que ele disse, falou que coisas assim acontecem, como se fosse inevitável. Fico feliz de pelo menos ter a Cat e por ter conhecido ele.

Quem diria que seis meses depois aquele estranho faria parte da minha rotina, da minha vida, como se eu não conseguisse passar um dia sem seu ''bom dia'', como se não conseguisse dormir sem saber se ele tá bem, com ele me desejando boa noite, bons sonhos... É difícil sequer imaginar um dia em que o Lucas não estivesse aqui.

Estou no colégio e faltam quinze minutos para a última aula terminar e eu poder ir embora. Sinto a ansiedade tomar conta, encaro o celular a cada segundo. Hoje Lucas ia participar de uma espécie de workshop, estou tão curiosa e preocupada para saber como foi.

— Stella? Stella? — Chama Cat.

Distraída, mal percebo que ela está me chamando.

— O que há com você hoje ? não para de olhar para o celular.

— Desculpa! Eu estava esperando o Lucas mandar mensagem, ele ia ter um workshop de fotografia hoje. Queria saber como foi.

— Sei, o Lucas, é claro... — Ela solta um riso complacente.

— Como assim o Lucas? Que tom é esse? — Indago, arqueando a sobrancelha.

— Nada amiga, mas, você tem certeza que não está se apaixonando por esse garoto? Não me leva a mal, você sabe que só quero o melhor pra você, só que para mim isso que vocês têm já deixou de ser amizade faz tempo.

— Não fala bobagens, Catherine. Somos apenas amigos, e muito bons. Só isso.

— Até demais não acha?

— Eu...

No momento que vou respondê-la, sou interrompida pela professora Deschamps.

—Perdão, interrompi a conversinha das duas mocinhas? — Questiona a Sra. Deschamps.

E se a chuva cair?Onde histórias criam vida. Descubra agora