Há um hiato entre nós

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Queria ser chuva
Me esvaziar
Sem medir o que o que vai sair de mim
Se são fortes águas ou leves pingos
Sem medir
Sem se importar
Só me esvaziar de mim mesmo
Sem medir aonde vai cair a chuva
E quando irritado(a) eu sinalizarei com um grande ruído
Que para muitos é sinônimo de medo e para outros é companhia
E depois de um tempo vou embora e voltarei a navegar pelo grande oceano da imensidão
Como eu queria ser a chuva

Ontem eu enlouqueci
Ontem eu chorei
O desespero tomou parte de mim
Por um segundo deixei de existir
Por um segundo eu desisti de tudo que eu construí
Eu me julguei e me joguei de um abismo imaginário
Fiz e refiz um cenário inventando apenas na minha mente
Eu me perdi e ainda não me encontrei
Mas eu escrevo até me encontrar enfim
Até que todas as palavras embaralhadas formem uma frase enfim
Para que todos os meus pensamentos façam sentido
Que um dia eu termine tudo que eu comecei
E que o meu rio tenha se tornado mar
Que eu possa me jogar sem mais ter que esperar
Mais uma linha
Que o ponto encontre o final

E se mesmo assim eu me perder nos caminhos que eu não encontrei
Que eu não imaginei
Que eu parei
Vou continuar
Fazer trilhas novas
Desbravar um mundo que eu não conheço
Mas sinto como se estivesse aqui dentro pulsando
Um ponto final não é o fim
É o começo para uma nova história
História que eu não sei que caminho vai se dar
Mas sigo escrevendo
Debruçando o que sou
O que era
O que será de mim
Acho que é isso que eu sou um conjunto de páginas rabiscadas
Que de início não faz sentido
Mas que no fundo
Me leva num caminho
Que hoje eu trilho
Quer saber pra onde
Bom vamos ver até onde nos leva esse ponto final.

Outono

As vezes penso que não sinto o tempo passar, sou como uma telespectadora de um filme de longa metragem, parece inacabável, mas, sei eu que esse filme tem sim tempo para acabar, com algumas paradas curtas para fazer xixi. Meus olhos filmam os detalhes com minuciosidade, sou uma câmera e com curtas narrações inusitadas ao longo de sabe lá que história se passará, que encaixo nesse tempo. Tempo esse que nós fazemos, nossos olhos ao acordar em desespero, depois do decorrer de um tempo especifico de nove meses, alguns seres nem tanto, alguns se adiantam, talvez a espera pelo momento de abrir os olhos, finalmente seja agonizante, deve ser agonizante a espera de dar o primeiro suspiro na vida, no mundo, nesse filme. Observo cada cena como se fosse a primeira, e vivo cada uma delas como se fosse a única, e quem sabe se não é? e quem sabe se esse não é o último ato, a última cena, o desfecho de um filme que foi a minha vida, e com isso acaba o tempo, que se deu inicio com a minha vida.

Stella

Final do ano e junto com ele o fim do outono. A cidade ainda está saturada e com muito contraste, algumas avenidas, como a Avenue des Champs-Élysées, estão cobertas de folhas e parece que elas nunca vão parar de cair, por sorte o inverno, minha estação predileta aliás, já está chegando. Sinceramente, não entendo a motivação desses turistas em virem para a França nesta época, mesmo com os festivais, principalmente nos pontos turísticos, é nessa parte da cidade onde há maior concentração de folhas.

Com o final do ano letivo e a conclusão de alguns trabalhos Lucas e eu não nos vimos a alguns dias. Para quem começou o relacionamento a distância e o desenvolveu dessa forma, estou muito mal acostumada em ficar longe do Lucas, ele já faz parte da minha rotina, e é tão bom ter ele por perto cuidando de mim, minha cabeça já não sabe ficar sem seu colo para me apoiar enquanto eu leio, uma é tão um do outro, como se o colo dele tivesse sido moldado pra mim. As vezes era bom não tê-lo por perto o tempo todo, lembrar de como eram as coisas antes de conhecê-lo, como era viver sozinha, fazer as coisas sozinha, apenas eu e meu pai. Era um alívio poder ter o "luxo" de momentos assim, e em certos outros momentos sentir a saudade inebriante do amor dele, do nosso amor. Tentávamos matar essa saudade com ligações, era bom lembrar um pouco de como era a sensação de ouvir a voz dele quente em meu ouvido, sussurrando o meu nome entre um suspiro e outro.

E se a chuva cair?Onde histórias criam vida. Descubra agora