LucasAs coisas nunca estiveram tão difíceis em casa, especialmente depois do último incidente, o que me faz evitar cada vez mais voltar para lá. Não tenho falado com meu pai, minha mãe não tem falado comigo, em uma tentativa de se abster que só a torna cúmplice dele. Meu irmão Jacques, no entanto, não para de tentar falar comigo, agindo como um defensor e falando as mesmas coisas que já ouvi dezenas de vezes. Eu deveria para de agir como um garoto mimado e egoísta. Todavia, agora eu entendo que nunca se tratou da fotografia, de motos ou tatuagens, e sim da visão que meu pai tem sobre mim. Não importa o que eu faça, jamais vai ser o suficiente.
É cansativo lutar para não perder a cabeça, para não fazer alguma besteira. O que ainda me mantém lúcido é a Stella, a falta dela acaba comigo. Então para evitar me perder em mim mesmo, me deixo cercar pelas coisas familiares, como ter Adam por perto. Mesmo que não seja como antes, ele ainda é o meu melhor amigo e pelo menos na casa dele eu posso ter um pouco de paz.
—Você não vai mesmo? — Pergunta Adam, colocando a jaqueta. — Disseram que vai tá cheio dessa galera digital influencer, saca? Pode ser legal pra você.
Fala a respeito do bar novo que abriu no centro.
— Cara, as vezes dá vontade de fazer simplesmente isso, largar tudo e fazer um cursinho de mixologia e pronto.
— Agora você quer trabalhar em um bar? — Pergunto, cerrando os olhos.
— Imagina que barato, bebida de graça, festinha e gatinhas.
— É, acho que vou pular essa.
— Vai mesmo ficar deitado jogando videogame? Lucas, você é meu brother, mas você não tá batendo bem ultimamente. De verdade, você mudou.
Solto um riso meio estrangulado, largando o controle do videogame de lado da cama. Queria ter levado na esportiva, mas de algum jeito aquela frase perfurou diretamente aquilo que estava em meu peito. Adam estava certo. Eu realmente mudei, estava difícil de enxergar até agora, me escondendo aqui na casa dele, distante de tudo que já acreditei.
— Vou indo, vê se dá um jeito nessa cara.
Pego o celular e ainda nenhum sinal da Stella, desde ontem quando ela saiu para uma festa com os amigos dela. Talvez eu devesse fazer uma mesmo, porém não tô com cabeça pra isso. A única coisa que preciso é dela. Tento ligar mais uma vez, mas dá direto na caixa postal. Desisto, só tem mais uma coisa a se fazer.
Stella
Acordo tarde no dia seguinte, meu corpo exausto e dolorido como resultado da festa do dia anterior, as pernas ainda pulsando. Ainda assim, dou um sorriso ao me lembrar dos bons momentos, das cantorias e das gargalhadas, mas principalmente, ao lembrar da conversar com Nic. Foi um bom momento, talvez um dos pontos altos da noite, saber que conseguimos nos abrir um para outro novamente, de forma sublime. Estendo a mão e busco meus óculos, depois pego uma caneta e um bloquinho de papel, minha cabeça a mim.
"me deixa ser feliz como queira
me deixa ser feliz como quero
me deixa criar um pessoa nova a cada minuto
a cada passo, a cada pessoa nova que eu conhecer
me deixa ser destrambelhada
me deixa rir esganiçada
me deixa me achar engraçada mesmo sem saber fazer piada
me deixa ser e achar que é pouco
porque é
e eu sou muito
esqueci de tudo
me deixa esquecer
chorar até me engasgar
ficar vermelha e sem respirar
me encolher na cama"Leio e releio o texto que escrevi, orgulhosa do feito. Depois pego o celular, as chamadas perdidas de Lucas continuam lá, a mensagem que mandei pra ele com dois vistos azuis, mas sem resposta. Sinto um pequeno aperto no peito, porém tento afastar a sensação do peito.
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E se a chuva cair?
RomanceUm romance de fim de semana, para dias quentes, dias frios, e principalmente chuvosos, e de preferência acompanhado por um café quentinho. Um conto sobre dois jovens da cidade de Paris, Stella e Lucas, tão próximos e ao mesmo tempo tão distante, no...