Há alguns dias, Nicholas ofereceu-se para me ajudar com as minhas dúvidas e anseios, depois de muita luta e de muitos nãos, acabei aceitando ir visitar a Nanterre com ele. Hoje o dia está levemente ensolado, mas eu sei que não vai ser assim por muito tempo, então acho melhor aproveitar. Marcamos de nós encontrar na parada, caminho até a Gambetta, para pegar o ônibus, em seguida o metrô, o percurso é longo, mas com um pouco de paciência chegaremos rapidamente. Espero impaciente por Nic, o tempo frio está começando a se alastrar, ainda tenho esperança de que possamos tirar algo de produtivo da nossa visita, isso pode ser divertido, apesar de ter que admitir que estou morrendo de medo, é assustador entrar em um mundo desconhecido, encarar pessoas diversas e seus julgamentos precipitados, bom, talvez eu que esteja me precipitando. Após ficar devaneando, finalmente vejo a presença de Nic achegar-se.Não demorou muito até o ônibus chegar, ao entrarmos ele me explicava os princípios básicos do que não fazer enquanto estivéssemos lá, ele mal chegou de Madrid e age como se conhecesse tudo aqui, bem mais do que eu, o que de algum modo me faz sentir incomodada. Depois de algum tempo, era como se fosse inevitável não começar a chover, mas para mim, o dia ficou ainda mais belo, só não estava mais tão ensolarado. Apesar de cedo, já havia uma grande movimentação de carros, acho que só estavam ressaltando o quanto as ruas e avenidas pertencem a eles. Enquanto estava sentada, apenas observando as ruas da cidade, perdida em pensamentos, sendo agraciada pelo silêncio, Nicholas lia um livro de bolso sobre poesia, parecia estar tendo uma leitura agradável e propícia para aquele momento. Estávamos os dois compartilhando e se deliciando com o agradável silêncio, que já era um antigo conhecido por nós. As vezes, no fim de tarde ao voltarmos do colégio, ficávamos os dois sentados na grama por um tempo, simplesmente lendo ou deitados um ao lado do outro, imaginando. Em alguns momentos o silêncio se tornava menos assustador, suportável, e como esse delicioso.
Caminhamos juntos e discutimos sobre a história e composição da universidade, é bom poder ter uma conversa aqui sem ter que pensar no peso que o renome da faculdade lhe trará futuramente.É bom poder parar um pouco, só para caminhar e apreciar como aquilo ali já faz parte de você, do seu futuro e da sua história. Analogamente, a Nanterre consegue se superar consideravelmente da Sorbonne, a cada canto e pilastra que eu vejo, meus pensamentos se voltam para aquela surpresa terrível de Lucas, ainda me sinto vulnerável, lembrar daquilo me faz sentir como se tivesse sido invadida, exposta.
Sempre paramos para pensar como as pessoas deixam marcas em nossas vidas, em nossos corpos, nas marcas que deixamos no mundo, mas nunca paramos para pensar como passamos pela vida dos lugares que há em nossa volta e deixamos marcas neles também, há uma troca mútua de história, sempre iremos caminhar com as lembranças que esse lugar deixou na gente, e esse lugar também sempre irá resguardar as lembranças que deixamos nele. Gosto de sentir isso, de poder passar pelo lugar, respirar e sentir como fiz parte daquilo, mesmo que eu morra ou que aquilo acabe destruído, sempre haverá tido uma troca mútua.
A cada corredor que passamos, a cada curso que tomamos, me sentia mais embaraçada, parecia que todos, absolutamente todos, conheciam Nicholas, tínhamos que parar a cada minuto para cumprimentar as pessoas, ao menos eles eram legais. Por último apareceu duas meninas, uma pálida e de cachos rosados e a outra negra e de cabeça raspada, não poderia me sentir e nem parecer mais careta na frente das duas.
—Então, você realmente vai fazer direito? —Perguntou a menina de cabelos cacheados, o tom rosado contornava seus cachos em um tom degradê,em cima mais escuro e em baixo um tom mais claro, me lembrando algodão doce. Ainda que sua aparência fosse meiga, seu tom de voz era firme, o tom de alguém que sabe o que quer. Ela trajava um suéter cor de baunilha e jeans escuros e rasgados, no pé ela usava botas cano alto e parecia alguém pronta para arrebentar eles na cara de alguém se fosse necessário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
E se a chuva cair?
RomanceUm romance de fim de semana, para dias quentes, dias frios, e principalmente chuvosos, e de preferência acompanhado por um café quentinho. Um conto sobre dois jovens da cidade de Paris, Stella e Lucas, tão próximos e ao mesmo tempo tão distante, no...