Capítulo 49

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Jeff,

Isso não pode ser real. É impossível. De jeito nenhum você pode voltar para lá. Ainda está se reabilitando, precisa de cuidados, precisa voltar para casa, não pode ir lutar de novo, não, de jeito nenhum.

Você precisa convence-los, querido. Não pode deixar isso acontecer. Eu estou sem trabalhar, e as coisas estão ficando muito ruins. Estou tendo que racionar comida aqui, estou precisando comer menos a cada dia, porque o nosso dinheiro está terminando.

Eu preciso que você volte, eu não sei o que vou fazer se você não voltar para mim logo, por favor, eu estou ficando desesperada.

Ophelia.

10 de setembro de 1918.

Ok, as coisas tinham atingido outro nível. Abaixei a cabeça sobre a mais nova carta de Ophelia. Eu acreditava que estava fazendo uma coisa boa, dando um fim digno a uma pessoa de grande valia e mantendo a esperança de uma mulher, mas agora vejo que a situação de Ophelia é muito mais séria.

Sem pensar corro até o banco e saco o equivalente a dois salários dos meus. Não é como se tivesse uma economia gigante, mas sei de alguém que precisa muito mais desse dinheiro e precisa urgentemente por minha causa ainda por cima. Enviei as notas em um envelope grosso, espero ajudar.

No fundo eu sei o que você está pensando. Sei que Ophelia, ao receber em uma carta um fim digno do marido não vai ganhar na loteria imediatamente. Ela ainda vai estar ruim de dinheiro.

A corda que amarra meus pulsos se transformou em pedra. Mas não é ela que me preocupa, é a corda que está em volta do pescoço de Ophelia. Está se apertando e sei que sou eu o dono da bota que vai chutar o banco debaixo da de seus pés, fazendo-a cair.

Dar um fim a história de Jeff vai ser o mesmo que assinar o fim de Ophelia, estou paralisado. Meu Deus, não sei o que posso fazer, e sinto que sou a culpa de toda a desgraça na vida dela.

No fundo do peito tenho uma ânsia infantil de correr e abraça-la dizer que sinto muito, pedir desculpas e esperar que isso conserte toda a merda que eu fiz, simplesmente dizendo que o marido dela não, não iria morrer. Resolvi brincar de Deus, mas me impressionei com meu poder de acabar com a vida de alguém.

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