Ophelia,
A guerra acabou, querida. Nem sei o que pensar. Disseram que acabaria as onze horas do dia onze de novembro. Hoje. Estávamos todos em volta do comandante as onze horas, o único com um relógio de bolso. Fitamos o pequeno objeto que era tão valioso para nós. Ao nosso redor ainda era possível ouvir bombas por todo lado. Alguns generais queriam conquistar as últimas partes de território possível.
Mas quando o relógio chegou lá, como demorou... silêncio.
As bombas pararam, tudo parou. Ouvíamos nossas respirações entrecortadas, ansiosas. Estávamos livres, finalmente. De repente todos se abraçavam felizes e cantavam. Homens saiam das trincheiras sem medo de serem alvejados e corriam pela terra de ninguém como crianças em um descampado.
Tenho que ir agora. Estamos voltando para casa. Estou voltando para você. Não caibo em mim de tanta felicidade. Vou revê-la querida... como estou feliz, você nem pode imaginar. Vou deixar esse lugar terrível.
Seu Jeff.
11 de novembro de 1918.
P.S.: Durante o tempo que estarei viajando para chegar aí, provavelmente uma semana... não me escreva, afinal sem um endereço nunca terei como receber suas cartas.
Eu sei que não devia, mas não consegui. A essa altura Ophelia já devia saber de algum jeito que a guerra acabara. E como o Jeff na minha cabeça, estaria esperançosa e cheia de felicidade, crente que o pesadelo havia real e finalmente acabado.
Mesmo se eu forjasse, assinando a carta de morte de Jeff como anterior a 11 de outubro, eu destruiria Ophelia por dentro, tenho certeza. Ela estaria louca de felicidade por ter visto que a guerra acabara e então como uma bomba que cai no seu pé, viria a carta que mataria Jeff para ela.
De um jeito ou de outro, Jeff não poderia mais morrer agora...
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O Revisor
أدب تاريخيA guerra é cruel com os homens. Tira deles o que é mais precioso. E não devolve nunca mais. Cada um tem sua preciosidade, e não importa qual seja, a guerra é capaz de pega-la, amassa-la e destruí-la como se fosse nada. Uma história de amor entre um...