A casa rosa diante de mim, que ontem parecera tão pequena, naquele momento era gigante e ameaçadora.
Na minha cabeça eu tinha colocado tudo a perder, na verdade acho que era mesmo isso. Mas uma coisa podia me salvar. As primeiras palavras dela. Não como as de ontem de surpresa. O que ela diria. Se fosse qualquer outra coisa que não um nome específico, tudo estava perdido e eu teria que inventar ainda outra história para explicar meu estado deplorável, estava me tornando um mentiroso compulsivo – na minha mente por necessidade – e do jeito que insisti nisso parecia estar até mesmo gostando.
Mil preocupações passaram na minha mente naquele momento. Desde as consequências para falsidade ideológica, até uma das mais idiotas que me recordo até agora: será que eles tinham apelidos, como Lia, ou Ophe...?
Eu dei um passo em frente e toquei no portão pintado de branco. Meu coração palpitava e eu ergui o braço, peguei a corrente de metal da sineta de campainha e bati um, duas, três vezes.
Um segundo, dois, três, cada momento a mais parecia uma eternidade no meu pesadelo de tensão.
Então a porta se abriu, Ophelia saiu do batente e deu dois passos. Olhou para mim, mediu-me com os olhos. Era agora ou nunca, o que sairia da boca daquela mulher definiria o meu futuro, só haviam dois caminhos um tortuoso, o da verdade, e uma estrada macia, mas com precipícios dos dois lados, abismos de dor.
Ela abriu a boca, fechou novamente, estava longe demais que o que podia vislumbrar da expressão no rosto me dissesse algo. Minhas mãos suavam. Então em meio a um suspiro nervoso ela disse:
–Jeff!
Era o que eu queria, era o que eu precisava. Eu seria o Jeff que ela queria, que ela precisava, viveria na mentira para dar a ela o que eu tirei.
No momento, travei. Dei um passo abrindo o portãozinho da altura da minha cintura. Ophelia me olhava de longe, não sei dizer se havia desconfiança no seu olhar, mas com certeza havia alívio. Ela correu, correu na minha direção. Correu rápido, saltando pelo caminho, seu rosto era impossível de descrever, havia tantos sentimentos imortalizados ali ao mesmo tempo que se tornaram algo impossível de entender. Havia alívio, felicidade, compaixão, piedade, alegria, tristeza, surpresa e quantas mais você conseguir enumerar, estavam todos lá.
Ela saltou nos meus braços e eu a segurei, no sentido literal e metafórico. Eu segurei Ophelia, tomei-a em meus braços e ela não desconfiava. Ela me abraçou com força, como se com medo de me perder de novo. Não foi doloroso, foi quente e íntimo, nunca havia sentido nada assim na vida. Eu retribuí acanhado, ela queria o vigor de um marido, eu só tinha o receio de um mentiroso para oferecer.
Ela se soltou de mim e deu um passo para trás. Confesso não ter imaginado o que aconteceria nesse momento, mas ela me puxou e beijou-me com ímpeto de amante. Eu estava imobilizado, a boca aberta, os olhos arregalados.
–O que houve com você? –Perguntou ela e vi lágrimas nos seus olhos, ela esquadrinhava meu rosto, qualquer diferença deve ter sido encoberta pelos ferimentos. Eu tinha ido longe demais e sabia disso. –O que fizeram com você?
–Ninguém volta da guerra bonito. –Falei, sabia que esse momento era crucial. Emular a voz de alguém do qual se nunca escutou uma frase é loucura. Eu tentei falar pausadamente, como se com dor e qualquer tom estava deteriorado pela gasolina, meu equivalente para gás mostarda.
–Sua voz... –Ela disse, seu rosto estava lavado de lágrimas, elas caiam pelo rosto com ferocidade.
–Minha querida, eu não sei o que dizer...
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O Revisor
أدب تاريخيA guerra é cruel com os homens. Tira deles o que é mais precioso. E não devolve nunca mais. Cada um tem sua preciosidade, e não importa qual seja, a guerra é capaz de pega-la, amassa-la e destruí-la como se fosse nada. Uma história de amor entre um...