Prólogo

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De pé diante do espelho do banheiro, Cristiano encarava no reflexo seus próprios olhos arregalados. Na mão direita, a navalha do barbeador erguido a meia altura, como se não houvesse força muscular suficiente para sustentar o peso do pequeno objeto. Um filete de sangue escorria na lateral esquerda do rosto, não o suficiente para se preocupar. Era um corte mínimo por conta da falta de atenção ao realizar o ato de barbear-se. Cristiano ainda pensava na situação da noite passada.

Três batidas na porta fizeram com que ele acordasse do transe reflexivo.

— Só um minuto e já saio - respondeu alto.

Limpou com papel higiênico e tentou ao máximo estancar a ferida. Terminou de ajeitar a barba e saiu do banheiro com a toalha enrolada nos quadris.

— Bom dia - disse à esposa com um sorriso acolhedor. Ester era cerca de quinze centímetros mais baixo que Cristiano , que tinha 1,90 de altura. Possuía cabelos castanhos claros de comprimento médio, corte long-bob, que chegava nos ombros. Os olhos eram igualmente castanhos mas com tons esverdeados se estivesse contra o sol. O corpo, não muito esguio por conta das duas gravidez, estava em boa forma. Mesmo ela reclamando dia sim e dia não sobre o peso e a barriga mais saliente ou as gordurinhas aqui e acolá. Mas era um corpo comum, saudável e que, na visão de Cristiano, era perfeito.

— Machucando-se outra vez, hein? - respondeu ela acariciando a marca deixada pela lâmina. - Pensando em um dos seus casos?

Cristiano concordou com a cabeça

— Nada sério, apenas revendo alguns detalhes mentalmente.

— Sempre que você diz "nada sério", é porque vem encrenca - disse enquanto abria a torneira

— Dessa vez é diferente...

— Como das outras vezes - retrucou a esposa com a boca cheia de espuma do creme dental

A porta de correr do armário foi aberta e Cristiano tentava achar algo para vestir.

— Alguma sugestão?

Ester cuspiu na pia e veio na direção do marido. Gentilmente, fez sinal para que ele se afastasse. Após mover alguns cabides, puxou uma blusa azul petróleo e, nas gavetas, uma gravata lisa preta. Sorridente , entregou nas mãos de Cristiano

— Não gosto de gravatas... - resmungou ele

— Mas você precisa, ainda mais considerando onde trabalha. Agora... - deu um selinho estalado nele - Vá se arrumar! Não quero que se atrase

Cristiano ajeitou-se mas preferiu pôr a gravata quando estivesse chegando no escritório. Desceu para a cozinha e pôs a cafeteira para funcionar. Enquanto lia sua agenda eletrônica, ouviu os burburinhos das crianças sendo acordadas por Ester. Imediatamente, Cristiano foi até a despensa e pegou uma das caixas de cereais. Escolheu a de flocos coloridos e despejou na pequena tigela rosa com flores. Direcionou seu olhar para a escada e logo viu a pequena Maria vindo em sua direção. Uma linda garotinha de 3 anos, cabelos quase loiros - assim como a mãe na infância - olhos castanhos escuros e bochechas salientes como ele.

— Bom dia flor do dia - disse Cristiano se agachando para pega-la no colo

Maria tentava segurar sua mantinha rosa com a mesma mão com que coçava os olhos. Ainda sonolenta, mal sustentava na boca a chupeta favorita.

— Esse.... - apontou com o dedinho a tigela de cereais, deixando assim a manta cair no chão - Esse...

— Quer comer esse cereal? - disse com ternura Cristiano

Maria assentiu com a cabeça enquanto ria manhosa, se enroscando no pescoço do pai.

— O pai vai te sentar aqui - e a colocou na cadeirinha - e agora.... - nesse momento, os olhos da pequena brilhavam, as mãozinhas se agitavam querendo alcançar o objeto de desejo e a chupeta, já tinha caído da boca e rolado pela bancada de apoio da cadeira - o café da manhã da Maria!

O caso ClairOnde histórias criam vida. Descubra agora