Já era mais de meia noite e meia quando Cristiano entrou na rua do condomínio em que morava. Ao longe, viu os últimos convidados se despedindo de Ester, que estava na soleira da porta. A última figura a sair, era sua sogra, dona Dinorá. Para evitar uma cena, parou o carro e aguardou até não ver ninguém. Não demorou mais que quinze minutos até sentir que já poderia seguir pra casa e enfrentar a ferocidade de Ester.
Como imaginava, a porta estava aberta. Cristiano a abriu com cuidado e analisou a área da sala de estar. Notou alguns papéis e embrulhos no canto do sofá, deduziu se tratar dos presentes de Michele.
— Nem perderei meu tempo perguntando o que houve. À essa altura do nosso casamento, é ridículo bancar a esposa ciumenta e paranóica - a voz de Ester fez Cristiano saltar de susto. Ela estava de pijamas, no último degrau da escada. Os olhos tinham uma expressão dura que eram realçados pelas olheiras.
— O carro deu problema quando estava saindo do trab...
Ester ergueu a mão, sinalizando para que ele parasse de falar.
— Se eu ouvir a palavra "trabalho" saindo da sua boca mais um vez, eu não respondo por mim. Não hoje...Tem ideia do constrangimento que passei?
— Desculpa...
— Eu não quero suas desculpas, Cristiano! - ela elevou o tom de voz - Eu quero um comportamento coerente como homem, marido e pai! Você não pode colocar seu trabalho acima de nós e esperar que um "desculpa" seja suficiente.. - ela desceu as escadas e foi na direção dele - Isso é, se realmente for trabalho o que te manteve tão ocupado na rua!
Cristiano abaixou a cabeça e permitiu que Ester colocasse aquela insinuação de traição sobre seus ombros. Decidiu não se defender para não se colocar em maus lençóis. Ter que confessar a esposa que estava de volta ao caso Clair? Não...Seria o fim para Ester.
— Eu não tenho outra coisa a dizer exceto desculpas... - continuou ele.
— Sinto muito, querido, mas não as aceito. Você mexeu com o que há de mais precioso pra mim: minha família. Sabia que Chele perguntou se você a abandonaria como aquele cretino do pai dela?
Cristiano se desarmou quando ouviu aquilo. Chele devia estar arrasada e a culpa era dele.
— Posso vê-la?
— Melhor não, ela está cansada...Capaz de estar dormindo, inclusive.
Cristiano concordou com a cabeça, o semblante triste.
— Eu lamento muito...Fui surpreendido com - ele se recordou do ataque no IML e das ameaças deixadas no seu carro. - Quer saber, esquece... Não farei isso de novo. Eu quero estar aqui, com vocês - ele tocou o rosto da esposa - Eu amo nossa família, amo nossas meninas...Juro que não serei mais negligente conosco e com o que construímos.
Ester fechou os olhos, respirando pesadamente o ar para fora dos pulmões.
— Assim eu espero. Mas terá que se esforçar mais. - disse Ester com frieza - Vou dormir com a Chele. Está por contra própria, hoje - e subiu para o quarto da filha.
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Giuliana e Miguel, acabado a observação após a medicação dada, foram liberados pelos médicos. A jovem, ainda zonza, ligava desesperadamente para Cristiano.
— Que inferno de homem...Atende essa porcaria! - resmungava ela entrando no carro de Miguel - Quando eu mais preciso, o Cris some...
— Quem é Cris?
— Ninguém que te interesse - respondeu rudemente, ainda ligando para Cristiano. - Vamos embora, quero minha cama.
Miguel deu a partida e seguiu para a casa de Giuliana. O trajeto demorou um pouco mais do que ele gostaria, já que estava também alterado pela medicação e a experiência de ter sido envenenado ou algo do tipo. Assim que estacionou, virou-se para Giuliana
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O caso Clair
Mystery / Thriller"Cristiano Paiva, delegado de ascensão rápida e boa reputação, sempre conduziu suas investigações com excelência. Não há registro de casos em que esteve que não foram solucionados. Exceto um! Após se deparar com a sombra do seu passado diante dos se...