Capítulo 28

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Giuliana ainda estava estática , os olhos vidrados , perdidos em algum lugar distante enquanto internalizava lentamente os fatos: ela havia morrido. A dor que tomava conta do seu peito era insuportável. Giu podia sentir aquele sentimento contornar seu coração e esmaga-lo lentamente ao mesmo tempo que parecia empurrar seu diafragma, expandindo gradativamente. Era como se seu peito fosse romper em dois, rasgando os músculos e a pele, expondo o tamanho da dor que se alastrava.

Tanta coisa se passava em sua cabeça que era difícil encontrar forças para falar e continuar perguntando sobre sua vida.

Aos poucos, enquanto sua mente voltava ao momento presente, Giu reparou que todos a encaravam com certa apreensão. Por quanto tempo será que tinha ficado calada? Após pigarrear, Giu deu continuidade ao seu interrogatório

— E como tiveram certeza de que eu tinha morrido e não era alguma doença ou algo parecido?

— Por a cidade ser pequena, a população nem sempre conseguia atendimento quando perdiam alguém. Em uma sala improvisada, recebíamos pessoas com seus entes queridos para enterros e era um senhor, que havia trabalhado por anos no IML, quem nos ajudava

A jovem ainda não parecia convencida, mas a precisão dos detalhes e a tranquilidade com que Madalena contava a história, davam a entender que ela dizia a verdade

— Como exatamente eu voltei a vida, Madá?

Madalena bebeu o resto de chá que estava na mesa ao lado da cama antes de responder

— Filha, veja... Até hoje não sei o que pode ter te ressuscitado - Madalena olhou para Doralice - Nenhum de nós sabe. Os planos de Deus nem sempre são claros

A moça não conseguiu esconder o riso de escárnio que escapou de seus lábios.

— Então Deus deixou meus pais morrerem, me deixou morrer pra ressuscitar depois sem nenhuma razão aparente? Me parece um plano divino muito sádico .

Miguel, que até então estava em silêncio, se aproximou de Giuliana e pousou suas mãos nos ombros dela

— Talvez seja melhor encerrar esse assunto, não acham? - ele encarou as senhoras com o olhar afetuoso e compreensivo - Vamos descansar e amanhã, de cabeça fresca, vocês conversam com calma

Giuliana se ergueu da cadeira e saiu do quarto, pisando firme no chão até chegar na sala de estar. Miguel seguiu logo atrás e impediu que Giuliana saísse da casa

— Onde pensa que vai? - disse puxando-a pelo braço

— Embora - respondeu saindo de perto de Miguel - É essa a resposta que eu tanto procurava? Que eu sou uma espécie de milagre ambulante que voltou a vida e foi enganada esse tempo todo pela pessoa que é o mais perto de um mãe pra mim?

Miguel notou o tom raivoso e amargurado daquelas palavras. De um jeito muito ruim, Giuliana tentava segurar o choro mas seu corpo não suportaria mais o peso dos últimos acontecimentos. Era visível o quanto ela estava abalada por ter sido enganada e usada por tanto tempo. Sem dizer nada, Miguel se aproximou de Giuliana e a abraçou. Ela tentou resistir ao abraço, procurando uma maneira de sair dele mas conforme Miguel acariciava suas costas e a confortava, Giu se permitiu desabar em dias.

Ela estava confusa, triste e decepcionada não só com as pessoas ao redor mas com ela mesmo por ser tão ingênua com a vida.

— Você não pode culpá-la por tentar te proteger - disse Miguel ainda abraçado a Giu

— Ela mentiu! - respondeu com a voz rasgada do choro preso na garganta

O jovem se afastou de Giuliana, encerrando o abraço, segurou no rosto dela e a encarou nos olhos.

O caso ClairOnde histórias criam vida. Descubra agora