Como bem desconfiava Izabel, Miguel não estava em nenhum dos hospitais indicado pelos seus colegas. Inconformada, fez uma breve busca no sistema para conseguir o endereço do jovem. Não era possível um rapaz sumir sem mais nem menos em uma fração de segundos. E se houvesse algo errado, ela iria descobrir. Pegou todas as informações de que precisava e decidiu que, no outro dia pela manhã, faria uma visitinha ao jovem.
E assim, as sete da manhã, Izabel já estava na rua com seu ecosport prata, enfrentando o trânsito caótico de Taguatinga por conta dos inúmeros semáforos e cruzamentos da cidade. Em termos comparativos, tal região administrativa é a que mais se aproxima do esquema urbano das cidades e bairros dos estados brasileiros, o que torna ela um verdadeiro pesadelo para os moradores do DF, habituados à organização cartográfica de Brasília como um todo. Izabel passou pelo shopping de Taguatinga, fez o balão e desceu na rua indicada pelo celular. Após algumas voltas, encontrou a casa de Miguel.
Ajeitou seus itens no coldre sob a blusa social branca e caminhou até o portão de chapa de metal. Primeiro, deu batidas altas o suficiente para que alguém no interior da residência pudesse ouvir e aguardou por cinco minutos mas ninguém apareceu. Bateu novamente e só silêncio como resposta. Sem paciência, esmurrou o portão a ponto de fazê-lo tremer, o som das pancadas fortes que Izabel dava, parecia com os de trovoada em dia de chuva. A corregedora ouviu passos se aproximando e, após o portão abrir minimamente, o rosto do rapaz apareceu.
Para além do abatimento pós sono, o rosto de Miguel apresentava marcas e escoriações causadas pela briga com Cristiano. Sem dúvidas, ele havia perdido feio a disputa, seja lá o que era o motivo disputado.
― Bom dia. Miguel, certo?
― O que faz aqui?
Izabel soltou um riso de deboche
― Engraçado você perguntar isso.... Era exatamente o que eu dizer, acredita?
Miguel olhou para a mulher parecendo constrangido.
― Tentei entrar em contato no hospital mas não o encontrei - Izabel notou o desconforto no rapaz - Não é nada sério, apenas burocracias por conta do ocorrido,já que envolveu um ex-delegado.. Se puder responder a algumas perguntas, seria ótimo
― Já disse tudo para os policiais ontem
― Sei que sim, mas preciso checar as informações novamente. O que motivou a briga entre você e Cristiano?
Miguel revirou os olhos, fechando o portão devagar. Izabel precisou empurra-lo para evitar ficar plantada do lado de fora
— Por que o medo de falar?
Bastante nervoso, ele tirou a mão da mulher antes de responder
— Me deixa em paz! Aquele louco já fez um estrago suficiente - e apontou para o rosto - Não confio nele, temo pela minha vida e a vida de ...
— De quem, Miguel?
— Dela...
— Desculpe, não compreendo. "Ela" , "dela". De quem estamos falando??
Rindo com escárnio, Miguel olhou firme nos olhos de Izabel. As feridas no globo ocular causadas pela agressão de Cristiano, davam um ar mais incômodo à expressão do rapaz
— Giuliana. A moça que Cristiano insiste em pôr em perigo apenas porque ela se parece com a morta daquele caso famoso. Não estava sabendo, dona?
Izabel engoliu em seco e tentou não se abalar com o tom ameaçador com que saíram aquelas palavras. Com um breve aceno de cabeça, respondeu que não
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O caso Clair
Mistero / Thriller"Cristiano Paiva, delegado de ascensão rápida e boa reputação, sempre conduziu suas investigações com excelência. Não há registro de casos em que esteve que não foram solucionados. Exceto um! Após se deparar com a sombra do seu passado diante dos se...