O inesperável acontece...

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A van foi ocupada, na parte da frente, pelo meus pais e mais tarde pelos pais de Thiago. E dos outros dez lugares foram ocupados apenas quatro. Tínhamos lugares de sobra, ótimo para dormir um pouco.

Quando estava me arrumando, percebi olheiras enormes e roxas. Passei maquiagem, mas ainda dava para perceber. Tentei parecer o menos cansada e feia. Estava um trapo.

A dificuldade de levar Tiago e sua cadeira para a van foi enorme. Imagina passar com um menino gigante por uma escada estreitíssima. Pois é, algo muito difícil.

Sentei-me ao lado dele, queria aproveitar ao máximo sua companhia. Sua cara estava melhor que nos dias anteriores e tirei algumas selfies e postei no Snap.

-Estou com a cara toda amassada, amor.- Ele disse, deu-me um selinho.

-E eu estou um zumbi. Relaxa, nada de mal irá acontecer.- Falei e fiz um rabo de cavalo.- Está feliz?

-Se estou feliz?- Ele olhou para mim e deu um sorriso, daqueles que tornam-me hipnotizada, e desviou o olhar para a janela.- Estou completo, com a pessoa que mais amo na minha vida...acho que estou feliz.- Ele colocou um dedo no queixo, fingindo pensar no que acabou de falar.

-Bobo.- Eu disse dando um beijo.- Você parece melhor.

-E estou. Me sinto bem. Tirando uma gripe que peguei.- Ele tomou uns comprimidos de Amantadine logo depois de espirrar.

-Se sente bem, eu também.- Eu o abracei. Provavelmente os pais sabiam que Tiago estava tomando Amantadine.

**

Eu estava dormindo e já estava de tarde. O sono estava ótimo e fui acordada por causa dos buracos. Nossos pais já estavam rindo e brincando uns com os outros. Dei um sorriso com os lábios. Também estava chovendo muito forte.

Ouvi todos da frente suspirando. Minha mãe olhou para mim com a cara de tristeza. Ouvi pneus de carro derrapando e senti um grande puxão, como se alguém muito forte estivesse me empurrando para frente. Eu estava com cinto de segurança, mas estava quebrado, então eu voei para longe. Depois disto, não me lembro mais de nada.

**

Acordei em uma sala branca. Fria. Sentindo muitas dores pelo corpo. Estava muito difícil abrir os olhos, seja pela luz ou pela minha cabeça girando. Estava em algum hospital.

-Al...Alguém...pode me falar onde es...tou?- Tentei falar, mas a minha voz saiu fraca.- Por favor.- Tentei me levantar mas a vertigem veio à tona.

-Calma, calma.- Alguém disse e fez-me deitar de novo.- Sou seu médico, doutor Pedro Moreno. Você está no hospital do Rio de Janeiro. Sofreu um acidente.

-Alguém...- Comecei a chorar.- Alguém morreu?

-Não, tecnicamente.- O doutor respondeu-me checando os aparelhos.- Tente descansar.

-Como assim tecnicamente?- Eu pensei no Tiago.

-Depois falaremos disso.

-Eu quero falar agora. Não ficarei bem até saber como TODOS estão!- Gritei.

-Ok, sem problemas. Os adultos estão todos bem. Infelizmente, o paciente Tiago Souza está na extracorpórea.

-Como assim? O que é extracorpórea?- Perguntei imaginando que não seria algo bom.

-É quando há a substituição temporária das funções de órgãos vitais. Quando estes órgãos estão muito danificados, ou em uma operação. Mas no caso dele, por causa da batida, seus rins estão altamente danificados...ele é forte. Tem a Doença de Pompe em estágio avançado, mas aguentou o acidente.

-Ele acordou? Como será a operação para o transplante dos rins deles?

-Ele está em coma induzido. Infelizmente, não terá como fazer o transplante.

-Então ele terá que viver com aparelhos?

-Isso é muito mais complicado que você pode imaginar.

-Como assim?- Comecei a chorar alto.

-Tente descansar. Vou tentar dar o meu máximo.

A Caminho do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora