Capítulo IX - Escondido

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Sabe-se muito bem que a curiosidade, ao homem, é tão essencial quanto o ar em seus pulmões. Sem ela, chego a pensar, não chegaríamos a lugar algum. Porém, de tempos em tempos, tamanha curiosidade pode nos levar a lugares perigosos.

Acabo me perguntando, então, o que aconteceria se alguém me visse.

Alguém que não deixasse o internato, como Jonathan Barclay.

Esta pessoa voltaria para conversar comigo? Se eu não fosse tão estranho da primeira vez, quiçá houvesse essa segunda. Por pouco que os sentimentos ou as opiniões podem ser mudados depois de uma ideia criada pela mente.

Ainda assim, não consigo exatamente entender tudo que está acontecendo. A sensação de vazio se torna cada vez maior, e agora, escondido na sala de banho, por detrás de uma das pilastras que sustentam o teto abobadado, segurando com todas as forças a toalha felpuda que me envolve, ouço dois rapazes conversarem.

— Ainda é... difícil pensar no que aconteceu — disse a primeira voz, fina, delicada, doce e tão juvenil que me faz perguntar se seu dono já havia passado dos doze anos. — Johnny não merecia aquilo...

Meu cenho se franze e eu respiro fundo. Aqui, o ar é úmido, morno, cheirando a sais de banho e o próprio suor da pele, que anseia por ser lavada. Esfreguei-me tanto para estar limpo que agora sinto até mesmo os braços e pernas arderem, mas não tanto quanto minha vontade de ouvir mais do que dizem.

Eu só deveria ir embora... encontrar a primeira oportunidade e sair daqui...

No entanto, a mente se faz muito persuasiva para conseguir o que deseja, então considero que estar encolhido como estou, no mais profundo silêncio, permite-me o luxo de arriscar.

Escorrego as pernas na direção do peito e as abraço, encostando a bochecha contra o joelho, ainda úmido, um leve toque de frescor contra as bochechas quentes, os fios úmidos grudando na testa enquanto estreito o olhar e dedico minha atenção a aguçar os ouvidos.

O outro rapaz respondeu:

— E que importa o que merecemos?

— Long... — lamentou o primeiro, dando-me um nome para atribuir à outra voz.

— Nem tente. — Seu tom era mordaz e sensato, totalmente decidido. — Sabe como as coisas funcionam, aqui. Johnny tentou a sorte, e encontrou-se sem ela.

Silêncio.

— Fala quase como... se concordasse com o que aconteceu.

Uma risada.

— Concordar pouco importa, também. Sabemos como temos de agir, se quisermos sair daqui.

Mordo o lábio inferior. A frase não faz sentido algum, considerando o que o sr. Waterworth havia me dito no dia anterior. Infelizmente, não posso intervir e delatar-me como curioso.

Alguns instantes depois, a voz fina volta a falar:

— Considero, apenas, grande injustiça que o Johnny tenha sofrido a penalidade máxima, enquanto o Louis segue por aí.

— São três chances, Rory.

— Sabe muito bem que Louis já se colocou em mais do que três situações. Conhece os boatos.

— Assim como sei que ele nunca foi pego, antes.

O rapaz chamado Rory não responde.

— Escute... — sua voz, de repente, torna-se abafada, e o som de um abraço ecoa pelas paredes, a umidade unindo a pele desnuda. — Está assustado, percebo em seus olhos, porém, se fizer o que eles mandam, sairá daqui.

As palavras não ditas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora