—Freddie Mercury!
Londres,UK
Memórias de Agosto de 1976Nunca vi duas palavras terem o poder de mudar um ambiente. Era como se fosse as palavras chaves para acordar todos os zumbis naquele lugar. Do nada, cada ser enclausurado, rompeu suas redomas de estresse e voltaram os olhares ao jovem rapaz magricela.
Foi nesse momento que a bomba de Hiroshima explodiu. Todos começaram a gritar, alguns puxavam o pobre rapaz pela jaqueta, outros sacudiam insanamente, até atendentes se espremiam na multidão, moças de todas as idades tentavam pular nos braços do magricela e várias canetas e polaroides horrendas se ergueram no meio da avalanche.
Por alguns segundos, imaginei que era de fato o fim do mundo.
O pobre rapaz lançou-me um olhar assustado, como se me pedisse ajuda.
Eu estava paralisada em frente a todo aquele estraçalho súbito. Sem reação, eu só olhava desesperada os olhos arregalados do dentuço, acredito que nem respirar eu respirava.
Em segundos, o Zangado empurrou-o enfurecido, e de certa forma desesperado contra toda a multidão, rumo à porta que separava a cozinha do salão principal, fazendo-o sumir da visão dos zumbis frenéticos, os quais, em coro, lamentou a passagem meteórica do tal moço.
“Que merda foi essa?” —Pensei com meus botões — “Esse com toda certeza foi o momento mais rápido e mais louco que já tive em toda minha vida. Nem a noite bêbada em ...”
—DELILAH! –A voz do Zangado interrompeu meu inconsciente. —Para a cozinha... AGORA!
--Merda! —Sussurrei para mim mesma.
—Joseph! Arrume essa bagunça, moleque imprestável.
—S-s-sim... S-senhor Zangado... —Balbuciou Joseph todo desengonçado.
—O que você disse?
--Nada... É... Vou deixar organizado...
O ser ranzinza entrou de supetão na cozinha, estava enfurecido e só faltava sair fumaça pelas narinas.
Ao entrar pela porta rosa careta, a primeira pessoa que avistei, foi o sósia do Bugs Bunny escondido por detrás da cortina que impedia a visão da cozinha para a portinha. Ele ainda abanava suas partes baixas, provavelmente, deviam está pegando fogo na forma literal da coisa.
Quando passei ao seu lado, ele fez questão de me lançar um olhar furioso, o qual retruquei com meu nariz arrebitado.
“Que ser petulante!” —Pensei sozinha com meus neurônios enfurecidos.
No momento em que pisei de fato na pequena cozinha, senti um frio na barriga tenebroso ao ver os olhos encapetados do meu chefe.
E toda loucura, virou tensão...
—O que você pensa que estava fazendo? —Ele perguntou exaltado e furioso.
—Meu trabalho! —Respondi friamente.
—Meu trabalho? Meu trabalho?—Ele me imitou com uma voz de chilique bizarra.
—Ham? Sim...
—Desde quando, seu trabalho é jogar café nas pessoas?
—Desde o momento...
—Você viu a algazarra que fez lá FORA, sua vaca despeitada?
—Mas...
—Você maltrata um cliente especial e ainda causa o CAOS... Sabe o que isso representa... MÁ REPUTAÇÃO! E sabe o que isso leva? À uma puta ruiva desempregada...
Minha ira estava transbordando nas veias e eu não estava muito à vontade de ser humilhada por um cara que usava sapato com tamanco para ao menos tentar chegar no meu ombro... Oh não... Minha raiva estava se extrapolando ao ponto de...
—Cliente especial? Que cliente especial? —Exaltei-me— É aquele ser dentuço?
—Freddie Mercury? Ele está...—Escutei a interrogação de alguém da cozinha invadindo nosso teatro real.
—PORCARIA DE MERCURY. Foda-se, Freddie Mercury! Quem é esse santo para merecer tratamento especial?
—O-o-o que você está falando, garota? —O baixinho me interrogou confuso, o que me fez sentir vencedora nesse momento.
—Tem várias pessoas que nem esse dentuço lá fora. Esperando um simples café para ir aos seus míseros trabalhos... E do nada, aparece esse ser que tem cortesia na casa? Por favor... Mais ridículo que sua mesquinharia de jogar a comida fora invés de dá aos famintos nas ruas...
Todos da cozinha me olhavam estupefatos, assim como aquele anão de jardim... Ele murchara em minha frente e toda aquela áurea grotesca tentava se recarregar em um suspiro.
Acredito que ninguém imaginava que aquela cena era real. Meu sangue fervia, e fui bem inconsequente em falar daquela forma. Não pensei no que poderia acontecer, só falei sem freios... O que poderia me custar uma bela demissão carimbada na testa.
Zangado me olhava horrorizado e perdido, com as mãos amaciando a face, parecia desnorteado, mas ao mesmo tempo decidido de dá uma trégua naquele acontecimento.
—Eu não te demito, Dona Delilah, pelo simples fato de você ter o traseiro avantajado perfeito para fazer os homens aceitarem suas ofertas extras do cardápio. —Ele falou com desdém e rapidamente voltou-se a todos, estalando os dedos como o sinal de “Voltem ao trabalho”.
Nesse momento, lembrei-me do desconforto do curto vestido rosa, e aquilo fazia me sentir um lixo. Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas prossegui com meu trabalho. Não era fácil, sentir-se um inútil pedaço de carne, mas eu precisava disso, querendo ou não... O mísero dinheiro que eu fazia como garçonete me sustentava muito bem em Londres, sem luxos, mas o suficiente para sobreviver. A única opção era suportar... E como eu suportava.
Infelizmente, só me restava baixar a cabeça, era isso ou voltar a Ryedale sem meu diploma.
Ao caminho de volta para o salão principal, tive que passar pela figura estranha do Bugs Bunny humano.
Eu estava muito dispersa em meus mais melancólicos pensamentos para me preocupar com aquela presença bizarra.
Foi neste momento que senti meu pulso ser agarrado por alguém, impedindo a inércia de meu corpo e fazendo-me voltar um passo atrás.
Era ele... O tal Mercury... Nome bizarro para um ser bizarro. Ele segurara meu braço, assim me fazendo voltar-se a ele. Meus olhos ainda estavam repletos de lágrimas, as quais eu tentava segurar sem sucesso. Já o olhar dele estava diferente, os olhos castanhos não ferviam como nos minutos atrás, tinham neles, de alguma forma, uma pitada de compaixão ou algo do tipo, um nervosismo, um sentimento ameno.... Não sei ao certo o que se passava com aquele ser, mas ele havia me prendido, um pouco extasiado ou quem sabe perdido, ele tentava falar sem muito êxito, parecia nunca ter falado antes, acredito que nem sabia o que estava fazendo:
—A-Ah... Eu... Eu... Não queria ter... Sabe? Ham...
—Vai se ferrar! —Exclamei friamente sem hesitar.
Dei de costas para aquele homem, limpei minhas lágrimas no avental amarelo borocoxô e entrei para o salãozinho repleto de pessoas atentas para ver se conseguiam avistar aquele Bugs Bunny.
Por um segundo, fiquei enfurecida pelo o que parecia ter sido um pedido de desculpas aparentemente forçado.
Que tolo!
Todavia, tentei me desintoxicar daquela cerimônia de fúrias ocorrente minutos atrás. Eu só queria o fim desse dia de pé esquerdo, longe dos olhares de interrogação de meus colegas de trabalho, longe daqueles zumbis malucos que esperavam um copo de cafeína e quem sabe de brinde o rapaz dentuço...
Eu só queria sumir daquele lugar... E a para isso... Eu devia continuar a suportar.
"Força, pequena garota! Mantenha a cabeça longe das chamas!"
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I Was Born To Love You
FanfictionO tempo fez questão de mostrar à Delilah Simons o quanto seu egoísmo poderia apagar suas mais preciosas joias de uma vida intensa: suas memórias. Decidida em cumprir sua promessa, Delilah encontra-se dedicada em contar ao mundo sua vida ao lado da m...