Capítulo 13: Under a starry sky

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Londres,UK

Memórias de Setembro de 1976

Uma lança de escadas e lá estava o terraço do prédio. Freddie parecia um pouco desconfortável subindo aqueles degraus, mas era o mínimo que pagaria por me insistir tanto em um café da manhã juntos. A princípio, o prédio que eu morava no velho bairro de Tower Hamlets não era tão grande: quatro andares, revestido de tijolinhos vermelhos e uma pequena cobertura velha que apenas eu e Madalena desfrutamos, principalmente, para admirar a beleza enlouquecida da rua de Brick Lane.

Ao chegarmos no topo, direcionei-me diretamente para meu canto de conforto naquele lugar escuro, passando sob a pequena tenda de madeira que abrigava a  horta de Madalena até chegar ao para-peito, o qual eu costumava estudar quando não encontrava paz em meu quarto. Enquanto isso, Freddie viajava com os olhos naquele lugar, absorvendo cada detalhe das bagunças da cobertura de um prédio velho.

— Isso no meio dos tomates, é maconha e… — Freddie perguntou um pouco admirado ao observar minuciosamente aquele lugar, passando pela hortinha.

— Cocaína! Sim…

— O que fazem futuras drogas  no meio de frutas e legumes — Ele indagou incrédulo.

— Essa é a horta de Mada, a matéria prima do seu sustento.

— E as frutas…?

— Uma forma de camuflar, mesmo que não seja preciso, mas eu gosto de tomates e cenouras.

— Até parece que é só disso que gosta desta horta. — Ele lançou-me um olhar irônico e eu não me contive em um sorriso endiabrado.

— Estamos em Brick Lane, Leste de Londres… Aqui as pessoas vivem no sujo da vida. A passagem para o inferno. Não se assuste rainha da Inglaterra, aqui você está bem longe do seu palácio.

Freddie apenas sorriu e seu olhar mostrava uma singela competição, como eu disse, ele não era um cara de deixar a coroa cair.

— Querida, você está tentando ensinar o ferreiro a fazer ferro, não é?  Eu sei aonde estou e já vive muito bem neste lugar. Conheço Londres na palma de minhas mãos.

Aquelas palavras, as quais foram tão instantâneas e cheias de maestria, apertaram-me meu coração. De fato, aquilo me fazia lembrar que eu era apenas uma jovem interiorana perdida na capital. Somente, respirei fundo, eu já estava ali e não jogaria aquele homem da cobertura do prédio. Apenas sentei sobre o para-peito, vislumbrando aquela rua escura e monótona, a qual destacava um imenso carro luxuoso na frente de meu prédio, deduzi ser do Bugs Bunny petulante.

— Espero que tenha seguro! — falei aérea, olhando aquele carro do alto.

— Isso não importa. — Ele sentou ao meu lado e não parecia temer a altura, ele apenas sorriu e ofereceu-me um dos copos em sua mão… Eu recebi, revirando os olhos, porém rindo sem acreditar naquilo.

— Você ganhou o jogo…

—Isso não é jogo, querida. Eu já disse, é apenas café. — Ele piscou para mim — Bem, só espero não ser tão ruim.

Ele tinha um sorriso de fato exótico, na verdade, ele era um ser totalmente exótico e fora dos padrões de beleza. Enquanto, ele abria a tampa do copo e observava a linha do horizonte, fiquei ali admirando como uma pessoa poderia ser tão descarada àquele ponto de está em minha casa oferecendo um café como se nada tivesse acontecido. De fato, eu não o compreendia, não era fácil de entender o que ele queria. Eu era apenas uma garçonete miserável tentando se formar e ele, como todos diziam, era um cara da música com uma carreira de sucesso. Meu Santo Pai, o que diabos ele fazia em Tower Hamlets, perdendo o seu tempo em pedir desculpas para uma garotinha pobretona como eu?

I Was Born To Love YouOnde histórias criam vida. Descubra agora