Capítulo 10: Muffin, tea and Hyde Park

77 10 36
                                    

Londres,UK
Memórias de Agosto de 1976

— Você gosta de pudding chlebowy?  

Lá estava ele, com aqueles imensos dentes e sem um pingo de vergonha na cara.

Todas as manhãs, das nove ao meio-dia, lá estava ele sentado na mesma mesa, na mesma cadeira, se escondendo por trás de um óculos escuros e uma jaqueta, mesmo se as manhãs não fizessem sol ou não fizesse frio.

Lá estava ele, sem se cansar, rabiscando em um caderninho qualquer e sempre pedindo uma xícara de chá ou uma xícara de café ou um cappuccino a mais.

Para minha infelicidade e desgosto de minha fúria, lá estava ele, Bugs Bunny irritante.

E para contrapartida, lá estava eu, sempre a bufar, sempre a revirar os olhos por cólera, sempre a reclamar, sempre…

— Vai se fuder!

—-Que pessoa no mundo não gosta de muffins? — Ele me interrogou com sua pitada de maestria.

Já havia se passado duas semanas. Duas fucking semanas, e ele não havia mudado o disco. Todos os dias, ele pedia um café da manhã para duas pessoas, lançava-me seus comentários quando possível, deixava para trás alguns desenhos, os quais eu fazia questão de jogá-los na cesta de lixo e ele partia, sempre quando o relógio marcava meio-dia, em um grande carro, o qual esperava aquela realeza insignificante no outro lado da rua.

— Eu não disse isso… — Falei limpando a mesa ao lado.

— Corrigindo. Que pessoa no mundo não gosta de mim? — Bugs Bunny falou soltando-me um um olhar luxurioso.

— Delilah Simons, vulgo EU!

— Poxa, se você não gosta de mim, logo isso é um sentimento. Então, você tem um sentimento por mim que dá na mesma que gostar de mim.

— O que? — Interroguei confusa —  Okay, Freud!

— Freud Freddie… Freddie Freud…— Ele cantarolou sorridente fazendo dos dedos indicadores uma batuta.

— Okay, Bugs Bunny, você é tonto ou se faz?

— Já ganhei apelido carinhoso. Hmm…

— Carinhoso?...

— Até está falando comigo e revelando sentimentos. Estou de fato lisonjeado. — Ele falou bebericando o chá em suas mãos e lançando no vazio  um olhar inocente pecador, cheio de malícia disfarçado em ingenuidade.

Apoiei meus punhos em sua mesa, mais uma vez meu decote era um prato cheio para os olhos de homem, mas ele não se importava, e de alguma forma aquilo mexia comigo.

— Já mandei você ir se fuder hoje?

— Aaaah querida! — Ele respondeu-me irônico soltando um longo suspiro — Bem a milionésima vez!

— Então, por que ainda está aqui??

— Você quer a resposta comportada ou a resposta malvada, minha amada? Sinceramente, gosto da malvada, e já que tenho um apelido carinhoso, não acho que seja tão malvada assim…

— VAI SE FUDER! — Gritei.

— Então vamos juntos! Tudo é melhor em companhia!

Minhas mãos coçaram para jogar aquela xícara de chá avulsa na mesa em suas bolas novamente. Todavia, a imagem de toda humilhação, que sofri vindo de meu chefe com menos de um metro e meio, veio em mente, fazendo-me desistir no mesmo segundo em que eu queria agir.

Apenas dei as costas, bufando feito um búfalo de rodeio. Sempre era assim, desde de primeiro dia que ele começara a atazanar minha vida com essa insistência. Um comentário audacioso e meu termômetro da paciência explodia.

I Was Born To Love YouOnde histórias criam vida. Descubra agora