Londres, UK
Memórias de Setembro de 1976
Maldita tenha sido a ideia de beber duas garrafas de whisky em uma só noite. Meus olhos estavam pesados, sem falar das minhas imensas olheiras que se destacavam muito bem em minha pele clara e da dor de cabeça que parecia batucar meu cérebro.
- Chá para mesa 22.
Nem dormi direito, se é que posso chamar aquilo de dormir... A única coisa que eu conseguia fazer era me arrastar lentamente pelo salão da cafeteria, massageando minhas têmporas e cerrando os olhos para evitar a luz ofuscante de chegar até eles.
- Delilah... O chá da mesa 22... Vá!
Todavia, era domingo! Santo seja vosso domingo! Isso significava meio expediente e sem faculdade para presenciar. Era meu dia de folga semanal, praticamente, e tudo que eu precisava fazer, era rezar para os ponteiros do relógio se anteciparem ao meio dia.
Sim, parece loucura, mas eu ganhava mais se eu trabalhasse nos finais de semana, umas libras a mais no bolso era sinônimo de luxo, como pães de mel, lacinhos para Goliath e uma campainha nova para a minha bike.
- Você precisa dormir! - Joseph falou quando se aproximou de mim, enquanto limpava a mesa ao meu lado.
- Quando eu for rica, quem sabe?
- Devia ter seguido a risca de Madalena e ter ficado em casa.
- Não tenho tempo para esse luxo.
- Não tem tempo ou você não se dá tempo?
Senti um frio percorrer meu corpo diante tal pergunta que saiu séria da boca abobalhada de Joseph.
- Vou anotar esta pergunta no meu caderninho de questionamentos. - Falei irônica, driblando a situação.
- Você tem um caderno para isso? - Ele me perguntou com um olhar bobo, fazendo-me rir.
- Claro que não, Joseph!
- Então por...
- Às vezes, me pergunto de que planeta você veio!
O rapaz apenas sorriu, ele era tão aleatório, tão perdido, tão... Joseph! Eu não o entendia, mas nunca busquei entender. Joseph tinha um tom de pele tão pálido como eu, os cabelos donos de uma marrom quase loiro viviam bagunçados pela cabeça, os olhos acinzentados estavam sempre dispersos e quando me viam, faziam seus finos lábios abrirem um sorriso ingênuo quase que instantâneo, sem falar que cada palavra que saia de sua boca, parecia se vestir em um sotaque estranho praticamente discreto como um ninja camuflado. Nunca me aprofundei em observar o Joseph como naquele dia, ele era uma incógnita que nunca fiz questão em achar seu verdadeiro valor. Parece frio de minha parte, quem sabe eu só o observei melhor naquele dia pela lentidão de minha cabeça em ressaca, mas Joseph era alguém comum em minha vida, o típico amigo que você tem por está inserido no mesmo local todos os dias... Que tolo pensar assim... Quem sabe, eu que era farpada demais para deixar as pessoas invadirem minha percepção... Ou quem sabe, eu não estava sozinha em ser o ser mais profundo e mais complexo daquele salão...
"Cada um com seu mistério!" - Eu pensei.
- Vá descansar! - Ele ordenou calmamente.
- Ainda não deu meu...
- Eu cubro você! Relaxa... Só descanse um pouco. Eu gosto desses olhos bem vivos.
Apenas sorri, assim como ele.
- Obrigada, Joseph!
Apertei a suas mãos como uma breve despedida e segui para pegar as minhas coisas escondidas de forma desorganizada por debaixo do balcão.
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I Was Born To Love You
FanfictionO tempo fez questão de mostrar à Delilah Simons o quanto seu egoísmo poderia apagar suas mais preciosas joias de uma vida intensa: suas memórias. Decidida em cumprir sua promessa, Delilah encontra-se dedicada em contar ao mundo sua vida ao lado da m...