Londres,UK
Memórias de Agosto de 1976
Dez horas da noite.
Era exatamente dez horas quando cheguei no apartamento. O trajeto de bike da universidade para casa era uns quinze minutos. Parece pouco, mas para uma moça que acorda cedo para trabalhar como garçonete e logo depois ir encarar aulas e mais aulas.... Pode crer, eram os quinze minutos mais traiçoeiros.
Londres apenas mudou o meu sentido de caótico. O que antes era folia, agora era cansaço, e o que antes era festa, agora era livros e sono.
Às vezes, eu sentia falta das minhas loucuras em Ryedale.
Minha vida em Londres era cansada e sem sal.
O apartamento exalava incenso e inicialmente meu nariz reclamava. Uma leve fumaça circulava por toda a sala... Era Madalena e suas manias, o aroma dos incensos escondia o cheiro das ervas que ela tragava em seu narguilé. Uma vez ou outra, eu me juntava a ela para poder desvair a tensão em minha cabeça. Mas naquela noite, eu estava exausta demais para isso. Tudo que eu mais queria era um bom banho e...
—My Goliath! —Exclamei saudosa, agachando-me para poder abraçar aquele pequeno ser de quatro patas que desfilava em minha direção.
Goliath era meu melhor amigo, para ser sincera, meu primeiro amigo em Londres.
Quem era Goliath?
Goliath era meu amorzinho, meu confidente, meu leal companheiro.
Goliath era o meu gato preto de olhos amarelos extremamente brilhantes.
A vida me trouxe Goliath por um acaso, e um belo acaso. Foi no dia em que pisei em Londres, na estação de trem... Eu, a garota de Ryedale, aspirava o ar nebuloso de Londres como se estivesse em um campo de rosas. Lembro-me muito bem que o encanto que eu sentia no momento foi quebrado por um homem, o qual tentava espantar um pobre filhote de gato vira-lata a ponta-pés. Minha reação foi acolher o pobre bichano e, claramente, mandar aquele ser arrogante ir pastar.
Podem me chamar de louca, eu nem sabia se minha colega de apê gostava de gatos, eu nem sabia se eu poderia sustentar a mim mesma, imagine um gato. Contudo, eu não tinha coração de gelo para deixar aquela bolinha de pelo preto jogado num mundo de selvagens.
Eu o levei comigo, batizei de Goliath e ele tornou-se o meu bebê. Bem, Madalena não se dava muito bem com ele, na verdade, Goliath não se dava bem com ninguém a não ser comigo. Provavelmente, os dias dele como gato de rua foram tão ruins, que ele se tornara um bichano arisco, ao ponto de enfiar as garras em alguém sem nenhum motivo.
Mesmo assim, ele era o meu filhinho e tínhamos uma conexão muito forte ao ponto de sempre compartilhar os sentimentos um para o outro. Meu anjo!
--Ele quase arrancou minha mão. --Madalena falou deitada no sofá, jogando a fumaça espessa para fora dos pulmões a cada palavra que saíra da boca.
--Também, você entope ele com essa fumaça. --Respondi, colocando o bichano em meus braços como um bebê recém nascido.
--Cala a boca, você ama isso. --Madalena falou levantando-se do sofá e estendendo a mão, oferecendo-me uma das mangueiras do hookah.
--Tentador, mas estou muito cansada.
--Existe cansaço para ficar chapada?
--Para mim sim...
--Garota do interior.
Ela deitou-se novamente no sofá, mantendo o olhar perdido para o teto da sala. Eu já estava pronta para sair daquele lugar enfumaçado, quando a voz rouca de Madalena invadira aquele cômodo novamente:
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I Was Born To Love You
FanfictionO tempo fez questão de mostrar à Delilah Simons o quanto seu egoísmo poderia apagar suas mais preciosas joias de uma vida intensa: suas memórias. Decidida em cumprir sua promessa, Delilah encontra-se dedicada em contar ao mundo sua vida ao lado da m...