Capítulo 9

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Ricardo

Tomo um gole do uísque que peguei no bar, ouvindo a música Radio Ga Ga do Queen, que está tocando no sistema interno de som, deixando de fora a música ambiente da casa noturna. Não é que eu não goste do som do DJ, acho muito bom, até porque se fosse ruim nem estaria tocando aqui, mas é que Queen é Queen. Não tem comparação. Observo as câmeras de segurança em minha frente. O público ainda não é o esperado para uma noite de quarta-feira. Hoje é o dia da semana mais tranquilo por aqui, mas ainda sim é um bom público, caso contrário nem compensaria abrir. Por mais que eu praticamente respire essa casa noturna, iria fechar as portas caso fosse perder dinheiro.

A Pretty foi um sonho, um risco, um investimento que talvez pudesse não dar certo, mas fui com tudo, sem medo. Estudei administração de empresas, sabia que de uma forma ou de outra teria o meu próprio negócio, ser funcionário não está em meu sangue. Tanto que antes de abrir essa casa noturna, trabalhei em algumas empresas. Não que verdadeiramente precisasse de dinheiro, porque meus pais sempre me deram tudo, muito além do que eu precisava, mas chega uma hora que um homem precisa se bancar sozinho. Nas empresas eu tinha pensamentos meio a frente, querendo arriscar em algumas questões, mas os que estavam acima de mim não aceitavam minhas ideias, achavam que iam perder dinheiro, preferiam sempre a zona de conforto. Porém eu tinha certeza do que fazia. E as negativas me deixavam muito frustrado e nervoso, tanto que depois de um tempo eu pedia demissão e ia para a próxima. Até que percebi que não dava para adiar mais, precisava ter algo meu, fazer o que desejava, arriscar se quisesse e se não desse certo arcar com as consequências.

Como um frequentador e amante de casas noturnas, decidi que era nisso que queria investir. Juntar prazer com trabalho pareceu ser uma ótima ideia. Foi então que fui para fora do país, conhecer as casas noturnas mais badaladas. Claro que algumas eu já conhecia, mas fui novamente com outro olhar, precisava ver o que funcionaria aqui em São Paulo. Criar assim o meu próprio conceito de casa noturna. Deu muito certo! Tanto que a Pretty já é uma das melhores casas noturnas da cidade, ainda vai chegar a ser inquestionavelmente a melhor, sei que não vai demorar.

Satisfeito com o investimento, resolvi arriscar mais uma vez. Vou abrir mais uma casa noturna, só que no Rio de Janeiro. É um passo grande, mas estou disposto a arriscar, quero ser referência lá também. O projeto está saindo do papel agora e tenho um sócio para me auxiliar. Ter um sócio era a última coisa que eu queria, acho que sociedades não dão muito certo, porque você acaba dependendo de outra pessoa, precisa da aprovação de todas suas ideias, mas preciso para chegar ao Rio com alguém que já seja do ramo lá. Se eu chegasse sozinho, ia ser mais difícil e até porque também não posso ficar indo lá para resolver todas as questões, por isso, mesmo a contragosto, optei por começar assim. Só que a minha verdadeira intenção é depois de um tempo da casa funcionando, comprar a parte do meu sócio. Oferecer um valor que será impossível ele recusar, não me importo se naquele momento vou perder dinheiro, mas será um investimento. A longo prazo sei que vai se pagar. E poderei controlar tudo sozinho, como prefiro.

Noto pelas câmeras que a Luma está vindo em direção ao escritório. Não sei o que ela quer falar comigo, mas independentemente de o motivo preciso mesmo falar com ela. Ouço quando ela bate na porta, nem um funcionário tem permissão de entrar sem bater, justamente por causa das câmeras. Aperto o botão do controle e fecho o sistema de monitoramento. Fazer isso várias vezes na noite as vezes é um saco, mas é o preço que pago para poder ter controle de tudo.

— Pode entrar. — autorizo, baixando o som do escritório.

— Como está, Rick? — Luma pergunta sorrindo, vem até mim e me dá um beijo no rosto. — Como foram seus dias de folga?

Os meus dias de folga foram excelentes, matando a saudade da minha deliciosa namorada. Esses dias que ela foi para a casa dos pais foram ruins demais, senti falta dela a cada minuto. Só que isso não vem ao caso, o fato de a Luma ter saído de seu posto de trabalho e vindo aqui me fazer essas perguntas talvez confirme que seja melhor explicar mesmo sobre o tipo de relação que teremos pelo menos aqui dentro. Prometi a Ju que ia tratar a Luma como funcionaria. Apesar de ser muito difícil pelo nosso histórico de vida juntos, vou cumprir minha promessa.

Ter Você (POSTAGENS PARADAS TEMPORARIAMENTE)Onde histórias criam vida. Descubra agora