Era ele.

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Regras não são para todos.

Capítulo 16.

Sunny me observa enquanto como. Uns dias após eu voltar para a Coreia ela ligou, disse que queria me ver.

A olho novamente e ela sorri.

-Você parece estar muito bem! - repete. Dou de ombros.

-É talvez…

-Não imaginava você e Jeon JungKook juntos. - diz. Reviro os olhos e sorrio.

-Eu também não, mas ele me faz bem e gosto da companhia dele. - peguei mais um pouco de macarrão.

-Como foi no México? Sua avó está bem? E sua relação com Jeon JungKook melhorou? - pergunta enquanto me avalia.

-O México foi legal, peguei uma corzinha. Minha avó está ótima, eu nem imaginava… acho que pensei que ela estivesse acabada como meu pai. - olhei para a janela. Falar de meu pai é simplesmente difícil, porque agora é ele quem está me abandonando. - Eu e Jeon fizemos amor. - falo rápido. Sunny sorri, um pouco desacreditada.

-E como foi? Usaram preservativo? - quase engasgo mas a Doutora parece não perceber. 

-Foi bom e é claro que usamos! - dou de ombros e desvio o olhar. Não posso dizer que não usamos ela iria me matar. 

Termino de comer e pago minha refeição. Sunny se vai com a desculpa de que tem um paciente.

Jeon me manda uma mensagem perguntando se podemos nos encontrar para ir em FoxOrd olhar o edital das notas.

E lá está ele me esperando do lado de fora do restaurante, com o seu carro novo. Me aproximo e deixo um selinho rápido em seus lábios.

-Carro novo? - questiona enquanto observo.

-Se seus pais não te dão amor eles te dão dinheiro. - ironiza e eu sorrio.

-Comigo não. - concluo e entro no carro.

Voltar para a prisão juvenil após algumas semanas não é reconfortante. Entramos de mãos dadas, eu adorei isso. Risos.

Eu obviamente não estou em primeiro lugar mas garanti o sétimo. Jeon está em décimo primeiro e eu tiro sarro da cara dele.

Procuro inconscientemente pelo nome de Munique e ela está no 99° lugar, ou seja reprovada.

Sou puxada por Jeon e não escondo o sorriso ao saber que Munique vai ter que se retirar de FoxOrd, pelo menos não verei a cara dele depois das férias.

-Quero te mostrar uma coisa! - Jeon explica.

Vamos de carro até um lugar afastado do centro. Uma avenida longa com vários apartamentos e depois uma rua tranquila com um prédio de dois andares. É onde paramos.

Desço do carro sem entender muito bem.

-Minha nova casa! - aponta animado para o sobrado.

-Que incrível, mas o que vai fazer com um sobrado? - franzo as sobrancelhas e ele ri. 

-Moro só na parte de cima, uma senhora alugou para mim. Olhe para lá! - ele me vira para o lado contrário. Um pouco longe mas ainda dá para ser visto um prédio grande está situado. - A faculdade onde fui aceito! - me viro e ele está sorrindo.

Quase me emociono. Quase. O abraço e sinto seu cheiro de baunilha que a propósito fui eu quem dei de presente.

-Venha! - me leva para dentro.

O lugar ainda está com poucos móveis mas é aconchegante. A cozinha é separada apenas por uma pequena mesa da sala e há um banheiro relativamente grande e um quarto.

-Uou! Realmente legal! - murmuro. Jeon me segura pela cintura e me vira.

-Você poderia vir morar comigo! - anima-se e me sinto um monstro por ter que estragar a felicidade.

-Fui aceita em uma faculdade em Busan. - olho para meus pés.

-Mas…

-Eu sei! Mas se eu ficasse teria que morar com meu pai. E nossa relação não está muito boa… - Jungkook coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.

-Droga, Busan. Vamos ficar longe… - pondera.

-Você pode ir me visitar nas férias e vice-versa. - tento confortá-lo.

-Mas não vou poder olhar para seu rostinho todo dia depois de acordar, beijar seus lábios sempre que quiser. Nem te tocar… - sussurra. Não vou mudar de opinião.

-Vamos aproveitar o tempo que temos, okay? - sugiro. Ele se afasta e senta no sofá.

Me jogo ao seu lado. Quando eu tinha sete anos e minha mãe foi embora achei que talvez meu pai me amasse e eu o amaria para sempre, e então eu estudaria e compraria uma casa para nós dois. Agora após quase onze anos vejo que tudo falhou. Eu não amo meu pai, não o suficiente para chamar de amor e ele parece ter guardado os sentimentos, não os colocando em jogo. Porém eu amo uma pessoa, e droga ela também me ama.

Jeon JungKook não era um bad boy tatuado e burro. JungKook era apenas um diamante que precisava ser lapidado. Ele sofreu assim como eu, sua mãe foi embora e o pai começou a suprir as necessidades emocionais dele com dinheiro. E foi assim que ele cresceu achando tudo superficial, e eu o amei. E dei todo o conforto que ele precisava, apesar de no fim ir embora e deixá-lo como sua mãe o deixou. Em pedaços, cacos espalhados por toda a Coreia do Sul.

...4 meses depois…

Aproveitei o máximo que eu pude os últimos meses, tentei esquecer que no outro ano eu teria uma faculdade em Busan à minha espera. Jeon percebeu, minha insegurança, o medo e o rancor, mas quando seus lábios tocavam meu pescoço eu esquecia até meu próprio nome.

“Desculpe, não posso te ver indo embora também!”

Jeon disse quase sussurrando no telefone, ele soluçava e eu também.

Eu não vou embora…” - repeti várias vezes até que se tornasse verdade mas isso não aconteceu.  

“Presidente Misoo, ou ex-presidente Misoo. Você foi importante, mas se não posso ter você por inteira, não vou aceitar apenas metade.”

Venha comigo, queria gritar.

Eu te amo Jeon JungKook.” - sussurrei com a voz tremendo.

“Eu te amo muito mais.” - e ele desligou.

Chorei por quase dois dias, pensei em desistir. Mas não. Eu não conseguia cancelar a passagem.

Papai leva minha mala, caminhamos lado a lado apenas eu e ele. Mas isso não me conforta.

-Sinto muito pelo seu namorado. - diz baixo. Cogito fingir que não escutei mas ele repete.

-Tudo bem. - dou de ombros. Minha própria mãe me deixou não é como se eu fosse sofrer o resto da vida.

Olhei para o relógio e já estava quase na hora do meu ônibus chegar.

Suspirei mais uma vez e olhei para a entrada da estação. Esperando um fantasma.

-Eu te amo, filha. Fica bem! - me puxou em um abraço. Eu deveria fingir chorar?

-Igualmente. Eu te amo. - forcei um sorriso.

Mentir havia se tornado tão fácil.

-Nos vemos no natal! - disse e então foi embora.

O natal seria em dois meses. E eu não estava pronta para passá-lo sozinha ou na fraternidade.

O observei desaparecer. Quanto mais o tempo passava mais meu coração se apertava. Ele viria. Eu tinha certeza.

-Misoo? - era ele. A voz melodiosa explodiu meus sentimentos.

-JungKook! - sussurrei quase sem fôlego.

Era ele.

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